29 novembro 2006

Novo portal dehoniano na internet

Nesse próximo dia 01 de dezembro entra no ar o Portal Dehon Brasil com o objetivo de congregar numa só rede as províncias e os sites dehonianos.

A partir de uma iniciativa do pe. Zezinho, scj que adquiriu um aparelho que o tornou provedor, vai se buscar o sint unum na internet. Dessa idéia do pe. Zezinho e aproveitando a iniciativa dos seminaristas da Casa Padre Dehon com o Portal SCJ Brasil, essa realidade está começando a nascer. Os seminaristas Giorgio Sinestri (BM) e José Ronaldo (BC) assumiram essa tarefa sob a supervisão do pe. Reinaldo Braga, scj e todo apoio dos provinciais.

O Portal ainda estará hospedado a princípio no endereço da Casa Padre Dehon, mas logo será acessado pelo www.dehonbrasil.org

Giorgio e José Ronaldo: concretizaram a idéia do Portal Dehon Brasil

27 novembro 2006

Veja e leia sobre mais assuntos da edição de dezembro da IRaoPOVO

Estudo bíblico – pág. 20



A caminhada com Marcos
Padre André Vital, scj termina a série sobre o Evangelho de Marcos. Um estudo que é fundamental para responder a pergunta quem é Jesus e como ser seu seguidor.

Liturgia e vida – pág. 22



Sagrada Família
Celebrada no domingo da oitava de Natal, a Festa da Sagrada Família está incluída nas celebrações natalinas. É um momento oportuno para se rezar pelas famílias.


Entrevista – pág. 26



Casamento e eficiência
Administrador de empresas, conferencista e articulista de importantes revistas brasileiras, Stephen Kanitz dá a sua opinião sobre casamento, família, filantropia e obras assistenciais.


Reflexão – pág. 34



Deixe o sol entrar...
Alcides Nogueira, autor de teatro e de telenovelas, convida todos, nesse final de ano, a apostar na esperança: o melhor ainda está por vir.

 

Eutanásia ou Ortotanásia?

O Conselho Federal de Medicina do Brasil aprovou uma Resolução no dia 9 de novembro passado que aborda a suspensão de procedimentos e tratamentos que permitem o prolongamento da vida em fase terminal de enfermidades graves e incuráveis.
Neste contexto, surgiu a polêmica em torno aos conceitos de eutanásia e ortotanásia.
O cardeal Agnelo explica que ortotanásia implica uma situação em que se reconhece a inutilidade do tratamento para manter vivo o paciente. Neste caso, recorre-se aos cuidados paliativos sem, contudo, utilizar meios para abreviar a vida. Por isso não se trata de eutanásia.
O purpurado lança mão de orientações dadas já em 1980 pela Congregação para a Doutrina da Fé, que publicou uma declaração sobre a eutanásia:
a) A eutanásia é condenada, porque atenta contra um direito fundamental, irrenunciável e inalienável.
b) A dor possui um valor cristão, mas não seria prudente impor um comportamento heróico como norma geral. Ao contrário, a prudência humana e cristã sugere o uso de medicamentos para abreviar ou suprimir a dor.
c) A obstinação terapêutica é condenada, em favor da dignidade da vida humana.
d) O direito de morrer com serenidade e com dignidade humana e cristã é defendido, sem que isso signifique a procura voluntária da própria morte.
e) A terminologia sobre os meios ordinários e extraordinários é superada, utilizando-se, em seu lugar, uma nova categoria conceitual, a dos meios proporcionais e desproporcionais. O objetivo desta nova terminologia é avaliar o caráter de um meio terapêutico: tipo grau de benefício, riscos adicionais, custos, possibilidade de aplicação quanto à resposta e às condições físicas e morais do enfermo. A mudança de termos visa alcançar com mais clareza as circunstâncias que envolvem um doente em seu processo de morte.
f) O pedido de eutanásia não deve ser tomado como expressão da verdadeira vontade do enfermo. Este pedido manifesta o desejo angustiado de assistência e de afeto.

Diante dessas orientações, o cardeal enfatiza que "a vida é dom de Deus. Seja respeitada a sua dignidade até o fim natural".

24 novembro 2006

Assembléia Geral do CONIC

80 representantes de diversas tradições cristãs estiveram reunidos em Brasília para a XII Assembléia Geral do CONIC. Nos dias 15 a 17 de novembro, sob a invocação: "Deus, em tua graça, transforma o nosso país", a Assembléia fez uma experiência extraordinária de fraternidade e oração.
No discurso de abertura, o Presidente do CONIC, pastor Rolf Schünemann, solicitou uma atenta reflexão sobre a conjuntura e as perspectivas do ecumenismo no Brasil. A intervenção do pastor Walter Altmann, Presidente da IECLB e Moderador do Comitê Central do Conselho Mundial de Igrejas, vislumbrou o horizonte dos campos de ação ecumênica das Igrejas Cristãs sob o impulso do Conselho Mundial de Igrejas.
A decisão do XVIII Concílio da Igreja Metodista, que desligou oficialmente essa Igreja irmã do CONIC foi registrada com pesar pela Assembléia. Uma carta cheia de expressões de confiança foi escrita para ser enviada ao Colégio Episcopal da IM na esperança que novas oportunidades de encontro e diálogo sejam oferecidas às Igrejas-membro.
A eleição da nova Diretoria foi à expressão da profunda fraternidade vivida não somente na Assembléia, mas na longa experiência de 24 anos de vida do CONIC. A Diretoria resultou assim formada: Presidente Pastor Carlos Möller - IECLB; 1º Vice-Presidente Dom José Alberto Moura - ICAR; 2º Vice-Presidente Revmo Bispo Filadelfo Oliveira Neto - IEAB; 3º Vice-Presidente Rev. Gerson Antônio Urban - IPU; Secretária Sra. Janette Ludwig - IECLB; Tesoureira Sra. Lídia Fernanda Crespo Correia - IEAB.
Tendo avaliado positivamente as Campanhas da Fraternidade realizadas em conjunto nos anos 2000 e 2005, a Assembléia aprovou o pedido para CNBB ceder a realização da terceira Campanha da Fraternidade Ecumênica no ano de 2010, centenário do Congresso de Edimburgo que deu impulso extraordinário ao movimento ecumênico contemporâneo.

Crianças sofrem com a falta de água, diz ONU


A falta de acesso à água potável é a principal causa das enfermidades que legam à morte milhares de crianças no mundo, segundo relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). A cada 24 horas morrem 5 mil crianças no mundo em conseqüência direta da diarréia e outras doenças causadas pela água suja e saneamento insuficiente.
Dessa cifra, 13 menores são mexicanos, que se somam ao total de um milhão e 800 mil falecimentos, por ano, por padecimentos previsíveis, conseqüentes da crise da água. O país asteca gasta mais em armas que em infra-estrutura para assegurar o abastecimento de água segura em áreas como Oaxaca, onde a crise social e política ocorre há muito tempo.
A diarréia, afirma o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, "é o segundo assassino das crianças. Mata cinco vezes mais que o paludismo e a tuberculose juntos, ou que qualquer ato terrorista". Só do dia 11 de setembro de 2001, durante os atentados em Nova York, morreram entre 3.500 a 4.000 pessoas, ressaltou.
O México faz parte dos governos que, a pesar da "crise" do vital elemento preferem ter um gasto militar superior ao destinado ao abastecimento da água, especialmente a infra-estrutura em áreas com baixo nível de desenvolvimento humano, como Chiapas, Guerrero e Oaxaca. O investimento militar é seis vezes superior, enquanto que no Paquistão é 47.
De acordo com o PNUD, se vive uma crise mundial fomentada pelas relações desiguais e pela pobreza. Sua mais recente análise reflete, por exemplo, as disparidades entre ricos e pobres mexicanos. A desigualdade de distribuição de renda ou gastos entre 10% do primeiro grupo e 10% do segundo é de 24,6%, e se se faz a diferença em porcentagem de 20, é de 12.8.
Fonte: Agência Adital

22 novembro 2006

A edição de dezembro já está quase chegando!!!


Amanhã ou sexta a edição de dezembro da IR ao POVO chega da gráfica.
Você poderá ver em primeira mão algumas matérias desse edição de clima natalino.

IRaoPOVO n. 124 - "Não havia lugar para eles na hospedaria..."

Espiritualidade - pág. 10



Vamos trabalhar!
Frei Patrício Sciadini fez um agradável e proveitoso caminhar, meditando os dez passos da oração. Com ele, pôde-se compreender que a oração não acontece por acaso. Ela é fruto de um grande amor a Deus, fonte de toda nossa alegria, e que nos impulsiona para a missão.




O Coração de Jesus - pág. 11



A contribuição dos dominicanos
No culto ao Coração de Jesus, os dominicanos não podem ser esquecidos. Principalmente na Idade Média e na Alemanha, eles difundiram muito essa devoção.




Memorandum - pág. 13




Livre pelo perdão
O Dia do Perdão, celebrado em 24 de dezembro, é propício para se refletir sobre esse ensinamento importante de Jesus. Nessa página, há algumas dicas para vivenciar a liberdade do perdão.

18 novembro 2006

Texto-base da CF 2007

Acaba de ser publicado o Texto Base da Campanha da Fraternidade de 2007, que é a peça-chave da Campanha da Fraternidade. Nele se encontram as propostas que a CNBB faz para a Campanha, as motivações, a reflexão sobre o tema, “fraternidade e Amazônia”, sobre o lema, “vida e missão neste chão”, e as orientações específicas para a sua realização.
Seguindo o método ver-julgar-agir, na primeira parte vem uma exposição sobre a realidade humana, sócio-político-econômica e ambiental da Amazônia, que requer a especial atenção da Igreja e da sociedade em geral. Muitos são os dados sobre a realidade oferecidos pelo Texto base. Depois aparece uma reflexão, à luz da Palavra de Deus e dos princípios éticos, para o discernimento crítico sobre as complexas questões amazônicas. Por fim, o texto apresenta pistas de ação para marcar com a fraternidade a cultura e a convivência social.
Ao falar em Amazônia, vem imediatamente à memória a preocupante questão ambiental: a devastação do verde das florestas, a ameaça à riquíssima biodiversidade, terras que vão sendo ocupadas, muitas vezes de forma desordenada e predatória, sem que o complexo e delicado eco-sistema seja respeitado. O egoísmo e a ganância na exploração das riquezas, o descuido e a imprudência ameaçam seriamente esse patrimônio natural, que não é somente dos brasileiros; a devastação da Amazônia representa uma ameaça e uma perda para toda a humanidade.
Mas a Amazônia também faz pensar em questões antropológicas e sociais: indígenas perturbados em seu espaço e agredidos em suas culturas, esvaziamento do território, crescimento caótico dos centros urbanos, conflitos sociais por causa da disputa pela posse das terras e das suas riquezas, iniciativas econômicas inadequadas ao ambiente. O impacto da globalização econômica e cultural sobre as populações originárias e tradicionais gera migrações e desenraizamento social, cultural e religioso. No coração da Amazônia constatam-se problemas sociais típicos de áreas metropolitanas e industriais do centro-sul do País: Falta de estruturas e de serviços públicos nas extensas áreas suburbanas, desemprego, degradação dos costumes, desagregação familiar e muita violência. Na Amazônia está acontecendo um grave transtorno de fundo antropológico, com a perda irreparável de inestimáveis riquezas humanas e culturais das populações locais.
A Igreja católica marcou a Amazônia é outro aspecto que a Campanha da Fraternidade quer trazer à reflexão. Desde a chegada dos europeus naquela região, no século XVI, durante muito tempo os missionários estiveram praticamente sozinhos ao lado dos povos indígenas, defendendo-os e levando-lhes os benefícios da saúde e da educação, junto com a mensagem religiosa. Hoje, novos e grandes desafios são postos à ação evangelizadora da Igreja: Milhares de migrantes de todas as partes do Brasil entraram nas novas áreas de povoamento e necessitam de assistência religiosa e pastoral, além de estruturas para a assistência social e a vida eclesial. Os recursos humanos e materiais são escassos para a imensidade da missão. Muitas vezes, a Igreja precisa mediar conflitos ou defender as populações expostas à ganância do poder econômico. Com freqüência, é ao abrigo de suas capelas e centros comunitários que o povo amazônico pobre encontra espaço para o reconhecimento e a afirmação de sua dignidade.
Até agora as dioceses e prelazias daquela região foram assistidas sobretudo por generosos missionários estrangeiros; agora chegou a hora de uma grande ação solidária de toda a Igreja no Brasil para a evangelização da Amazônia. O apoio e o revigoramento daquela Igreja local tornou-se urgente e requer a ajuda de voluntários e missionários das outras regiões do País, além de recursos econômicos e logísticos.
“Vida e missão nesse chão”, este é o desafio! A proposta da Campanha da Fraternidade de 2007 é promover a fraternidade efetiva com as populações amazônicas; é defender e promover a vida, que se manifesta com tanta exuberância na Amazônia. A mesma preocupação com a fraternidade e a solidariedade também está por trás da defesa do ambiente, casa comum e o patrimônio do qual todos têm o direito de usufruir e viver, também nas futuras gerações. A Amazônia, berço generoso de tanta vida, precisa também ser chão fraterno entre povos e culturas.
A Campanha da Fraternidade de 2007 será lançada no dia 21 de fevereiro de 2007, quarta-feira de cinzas; ela será uma ocasião privilegiada para que o Brasil todo tome consciência mais profunda sobre a complexa problemática da Amazônia; poderá ser o momento de trazer a Amazônia mais para dentro do coração da Igreja e de todos os brasileiros; oportunidade também para suscitar iniciativas e ações eficazes de valorização e defesa daquela vasta e ameaçada região, antes que seja tarde demais.
D.Odilo Pedro Scherer
Bispo Auxiliar de São Paulo / Secretário-Geral da CNBB

01 novembro 2006

Palavra do Papa

Mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial da Missão ”A caridade, alma da missão”

Queridos irmãos e irmãs!

1. O Dia Mundial da Missão que celebraremos, se Deus quiser, no domingo 22 de outubro, oferece a oportunidade de refletir este ano sobre o tema «A caridade, alma da missão». A missão, se não está orientada pela caridade, ou seja, se não surge de um profundo ato de amor divino, corre o risco de reduzir-se a mera atividade filantrópica e social. O amor que Deus tem por cada pessoa constitui, de fato, o coração da experiência e do anúncio do Evangelho, e todos que o acolhem se convertem por sua vez em testemunhas. O amor de Deus que dá vida ao mundo é o amor que a nós entregue em Jesus, Palavra de salvação, imagem perfeita da misericórdia do Pai celestial. A mensagem salvífica poder-se-ia sintetizar, portanto, nas palavras do Evangelista João: «Nisto se manifestou o amor que Deus nos tem; em que Deus enviou ao mundo seu Filho único para que vivamos por meio dele» (1 João 4, 9). O mandato de difundir o anúncio deste amor foi confiado por Jesus aos apóstolos depois de sua ressurreição, e os apóstolos, transformados interiormente no dia de Pentecostes pela potência do Espírito Santo, começaram a dar testemunho do Senhor morto e ressuscitado. Desde então, a Igreja segue esta mesma missão, que constitui para todos os crentes um compromisso irrenunciável e permanente.

2. Toda comunidade cristã está chamada, portanto, a dar a conhecer que Deus é Amor. Neste mistério fundamental de nossa fé quis deter-me a refletir na encíclica «Deus caritas est». Deus penetra com seu amor toda a criação e a história humana. O homem, em sua origem, saiu das mãos do Criador como fruto de uma iniciativa de amor. O pecado ofuscou depois nele a marca divina. Enganados pelo maligno, os primeiros pais Adão e Eva abandonaram a relação de confiança com seu Senhor, cedendo à tenção do maligno, que introduziu neles a suspeita de que Ele era um rival e queria limitar sua liberdade. Deste modo, preferiram a si mesmos em lugar do amor gratuito divino, persuadidos de que desta maneira estavam reafirmando seu livre arbítrio. Como conseqüência, acabaram perdendo a felicidade original e experimentaram a amargura da tristeza do pecado e da morte. Deus, contudo, não os abandonou e prometeu a eles e a sua descendência a salvação, preanunciando o envio de seu Filho unigênito, Jesus, que revelaria, na plenitude dos tempos, seu amor de Pai, um amor capaz de resgatar toda criatura humana da escravidão do mal e da morte. Em Cristo, portanto, comunicou-se a vida imortal, a mesma vida da Trindade. Graças a Cristo, Bom Pastor, que não abandona a ovelha perdida, dá-se a possibilidade aos homens de todos os tempos de entrar na comunhão com Deus, Pai misericordioso, disposto a voltar a acolher em sua casa o filho pródigo. Sinal surpreendente deste amor é a Cruz. Em sua morte na cruz, Cristo --como escrevi na encíclica «Deus caritas est»-- «realiza esse se colcoar Deus contra si mesmo, ao entregar-se para dar nova vida ao homem e salvá-lo: isto é amor em sua forma mais radical […]. É ali, na cruz, onde se pode contemplar esta verdade. E a partir dali se deve definir agora o que é o amor. E, desde essa visão, o cristão encontra a orientação de seu viver e de seu amar» (n. 12).

3. Na vigília de sua paixão, Jesus deixou como testamento aos discípulos, reunidos no Cenáculo para celebrar a Páscoa, o «mandamento novo do amor – “mandatum novum”»: «O que vos mando é que vos ameis uns aos outros» (João 15, 17). O amor fraterno que o Senhor pede a seus «amigos» tem seu manancial no amor paterno de Deus. Observa o apóstolo João: «todo o que ama nasceu de Deus e conhece a Deus» (1 João 4, 7). Portanto, para amar segundo Deus é necessário viver nEle e dEle: é Deus a primeira «casa» do homem e só quem habita nEle arde com um fogo de caridade divina capaz de «incendiar» o mundo. Não é esta a missão da Igreja em todos os tempos? Então não é difícil compreender que a autêntica solicitude missionária, compromisso primário da comunidade eclesial, está unida à fidelidade ao amor divino, e isto vale para cada cristão, para cada comunidade local, para as Igrejas particulares e para todo o Povo de Deus. Precisamente da consciência desta missão comum recobra forças a generosa disponibilidade dos discípulos de Cristo para realizar obras de promoção humana e espiritual que testemunham, como escrevia o querido João Paulo II na Encíclica «Redemptoris misio», «a alma de toda a atividade missionária»: «o amor, que é e continua sendo a força da missão, e é também o único critério segundo o qual tudo se deve fazer e não fazer, mudar e não mudar. É o princípio que deve dirigir toda ação e o fim ao qual deve tender. Atuando com caridade ou inspirados pela caridade, nada é disforme e tudo é bom» (número 60). Ser missionários significa amar a Deus com todo nosso ser, até dar, se é necessário, inclusive a vida por Ele. Quantos sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos, também em nossos dias, ofereceram o supremo testemunho de amor com o martírio! Ser missionários é atender, como o bom Samaritano, as necessidades de todos, especialmente dos mais pobres e necessitados, porque quem ama com o coração de Cristo não busca o próprio interesse, mas unicamente a glória do Pai e o bem do próximo. Este é o segredo da fecundidade apostólica da ação missionária, que supera as fronteiras e as culturas, chega aos povos e se difunde até os confins extremos do mundo.

4. Queridos irmãos e irmãs, que a Jornada Missionária Mundial seja uma oportunidade para compreender cada vez melhor que o testemunho do amor, alma da missão, concerne a todos. Servir ao Evangelho não deve ser considerado como uma aventura em solitária, mas como um compromisso compartilhado de toda comunidade. Junto aos que estão em primeira linha nas fronteiras da evangelização --e penso com reconhecimento nos missionários e nas missionárias-- muitos outros, crianças, jovens e adultos, contribuem com a oração e sua cooperação de diversos modos à difusão do Reino de Deus na terra. O desejo é que esta participação cresça cada vez mais graças à contribuição de todos. Aproveito esta oportunidade para manifestar minha gratidão à Congregação para a Evangelização dos Povos e às Pontifícias Obras Missionárias (PP.OO.MM.), que com entrega coordenam os esforços deslocados em todas as partes do mundo em apoio à ação de todos que se encontram em primeira fila nas fronteiras da missão. Que a Virgem Maria, que com sua presença na Cruz e sua oração no Cenáculo colaborou ativamente nos inícios da missão eclesial, apóie sua ação e ajude aos crentes em Cristo a ser cada vez mais capazes de autêntico amor, para que em um mundo espiritualmente sedento se convertam em manancial de água viva. Apresento meu auspício de coração, enquanto envio a todos minha Benção.
Vaticano, 29 de abril de 2006.
Papa Bento XVI
(tradução: Zenit)

31 outubro 2006

Palavra de Padre

O POLÍTICO
por Pe Zezinho scj

A lei diz que não temos escolha. É punido quem não vota. Quando a cidadania não vem pela escola ou pela lar, vem pela lei. Talvez a maioria votasse, se não vivesse tão decepcionada e se acreditasse nos políticos. Mas a política é uma das vocações mais exigentes do mundo. Mesmo feita por gente de alma pequena e sem conteúdo, política é coisa séria e necessária. Está no mesmo nível que religião. Sem religião o homem não vive, mas falsos pregadores podem torná-lo arredio à idéia de Deus. Sem política também não se vive, porém maus políticos podem tomar o cidadão arredio à idéia de Estado.
Política é coisa boa. Com democracia, melhor ainda. Torna o pais mais aberto e ensina o cidadão a respeitar as idéias do outro. Hoje ele vence, amanhã perde e outro grupo tem a chance de priorizar o que acha que deve ser priorizado. Ditadura pode até dar certo em alguma coisa por um tempo, mas mata a alma do povo. Não há torcida nem sonhos. E se houver é torcida paga, forçada ou desinformada.

O político é uma pessoa contraditória. Ele vive da palavra e briga em nome de seu grupo, bairro, cidade, região, Estado e igreja. Às vezes, erra, por mais bem informado e sério que seja. Se não fizer alianças, não chega. E, se chega sem alianças, corre o risco de se tomar intolerante. Político precisa ouvir, aprender, informar-se e responder depressa; sentir a alma do país e a do seu povo. E não pode lutar por um à custa da outro. Deve saber com quem e como fazer alianças. De vez em quando tem que brigar até com seu partido, mas saber concordar com o adversário.

Político bom precisa ter uma grande paixão pela coisa pública e enorme senso de nação, para não fazer o jogo de interesses. Tem que saber ceder na hora certa. Não deve ceder nunca naquilo que pode ferir a nação amanhã. Ele não pode viver do hoje. Político precisa pensar no amanhã: governo e oposição. Se em algumas cidades, atualmente não há escolas, hospitais, nem verde nem espaço para idosos, crianças ou doentes, é porque políticos indecentes e sem nenhum espírito público olharam apenas para seus amigos e umbigos. Oremos e votemos por mudanças! Por melhores políticas e melhores políticos.


Fonte: Site Oficial Pe Zezinho scj

Proseando

MISSÃO DEHONIANA JUVENIL
por Giorgio Sinestri

A Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus realiza nas suas paróquias em todo o Brasil, desde 1990, a Missão Dehoniana Juvenil, ou MDJ. Este projeto dos padres dehonianos surgiu com o objetivo de ser momento de animação comunitária e vocacional entre o povo, levando a Boa Nova de Cristo, seguindo o exemplo e o ardor missionário do fundador, pe. Leão Dehon.
Todas as etapas da MDJ acontecem inspiradas num tema e motivadas por um lema. Na última realizada, em Boa Vista do Buricá RS, o lema era “Jesus – caminho, verdade e vida” e os temas foram diferentes nos três anos (a história da salvação na comunidade, os sacramentos e a Eucaristia). Agora, já estamos com o coração voltado para a etapa de Botuverá SC. Aliás, todas as comunidades da Paróquia São José de Botuverá já foram visitadas e estão aguardando os missionários e missionárias para o ano que vem!
Desta vez, o tema é “Discípulos e missionários de Cristo” e o lema “Que todos tenham vida!” (Jo 10,10). Nos inspiramos num evento muito importante da Igreja para escolher o tema: a realização, em 2007, da 5ª Conferência Geral do Episcopado da América Latina e Caribe, que acontecerá em Aparecida, São Paulo, com a presença do Papa Bento XVI.
O Celam, como é conhecido, é uma grande reunião de todos os bispos da América Latina para analisar a vida da Igreja em seus países, descobrindo os seus aspectos, identificando os problemas comuns e construindo soluções para uma pastoral que vá ao encontro da realidade.
Na verdade, a 5 ª Conferência dos Bispos quer fazer com que cada pessoa cristã assuma Cristo como fonte de vida, como verdade última, como caminho a ser percorrido para a santidade. De certa forma, escolher o tema da 5 ª Celam como inspiração da MDJ em Botuverá é assumir uma continuidade da nossa última missão, pois se anunciamos Jesus como nosso caminho, verdade e vida, aceitamos também ser discípulos e discípulas, missionários e missionárias, ser um outro Cristo no meio de todo o povo. Assim como a 5 ª Conferência dos Bispos, a MDJ quer despertar em todos o desejo e a consciência da necessidade do encontro pessoal com Cristo.
Ser discípulo e missionário de Jesus é o mesmo que ir atrás de Jesus, seguí-lo, aprendendo o seu modo de viver e trabalhar, servir e amar. Temos que carregar no coração a marca do ser cristão, que vê na celebração da Eucaristia o real encontro com Jesus e no “ir ao povo”, a certeza de ver Jesus.
Com o grito “Que todos tenham vida!”, inspirado em João 10,10 e escolhido como nosso lema, assumimos o papel do próprio Jesus, pois numa sociedade em que, a cada dia, surge novos problemas e desafios, devemos, como discípulos, encontrar as possibilidades de transformação: somos cristãos e, acima de todos os problemas, o cristão vive da esperança. Jesus veio trazer a vida e a vida em abundância. Devemos seguí-lo nesse ideal também!
Como missionários e missionárias da MDJ, devemos ser discípulos e discípulas de Jesus! A gente pode e consegue!
Para saber mais da MDJ, acesse www.casadehon.org/mdj

Fonte: Boletim MDJ 01 - setembro 2006

Santo do mês - outubro

10 de outubro - SÃO FRANCISCO DE BORJA
por Ricardo Valim

Olá caríssimos leitores! Que a paz do coração do bom Jesus esteja sempre com todos vocês!

Este mês tenho a grande honra de apresentar-vos um grande exemplo de desprendimento, santidade e humildade. Estou falando de São Francisco de Borja. Nascido em 28 de Outubro de 1510 em Gândia (Valência), parente distante do Papa AlexandreVI e do Rei Fernando II. Teve uma vida privilegiada na corte real onde ingressou ainda muito jovem. Foi lá também que se casou com sua esposa Eleonora de Castro, com quem teve nove filhos. Francisco de Borja sempre se mostrou um exemplo de pai, visto que, sempre levava seus filhos para participar diariamente das orações e dos sacramentos. Porém, em seu peito batia um coração inquieto, que clamava por um amor maior “Deus”.

Mas no ano de 1539 foi eleito vice-rei da Catalunha mostrando-se muito capacitado para o cargo que ocupou. Sem é claro, deixar de lado seu desejo secreto de amar a Deus sobre todas as coisas.

Em um encontro – que foi determinante para sua vida- com São Pedro de Alcântara e o bem-aventurado Pedro Favre, após a morte de seus amados pai e esposa, decidiu-se por entregar-se inteiramente a Deus. E em 2 de Junho de 1546 professou os primeiros votos (castidade e obediência) e em 1550 oficialmente tornou-se membro da Companhia de Jesus, recém fundada por Santo Inácio de Loyola. E no dia 26 de maio de 1551 celebrou sua primeira missa. Meses depois, o Papa Carlos V, ofertou-lhe o cargo de Cardeal o qual foi renunciado imediatamente por Francisco. Mas no entanto, não pode recusar o cargo de Superior-geral da Companhia de Jesus. Cargo este que teve como marcas registradas de sua administração a humildade, uma grande devoção a Santa Virgem e a Eucaristia. Severo guardião do carisma Jesuíta, impôs a todos a hora da meditação cotidiana. Fundou muitos colégios Jesuítas por toda a Espanha inclusive em sua terra natal. Dou destaque também, para a fundação do primeiro Colégio Jesuíta em Roma. Não podemos nos esquecer que foi ele também que enviou os primeiros missionários a América Latina espanhola. São Francisco de Borja ficou como Superior-geral até sua morte em 30 de setembro de 1572. Foi Beatificado em 1624 e canonizado ano de 1671.

È, caríssimos leitores, este é mais um belo exemplo de desprendimento das coisas terrenas para abraçar as grandes maravilhas do alto. Mais ou menos o que eu lia certa vez em um livro. Este livro contava a história do filhote de águia que foi criado em um galinheiro. O autor dizia que nós somos semelhantes às águias, ou seja, seres nascidos para habitar nas alturas. Você já viu, por acaso, alguma águia vivendo em um galinheiro, em meio à sujeira? Aposto que não! Nós caríssimos leitores somos de fato, semelhantes a águia, nascemos para o alto – para estar no alto – e não para vivermos em meio às discórdias, intrigas e todo tipo de sujeira deste mundo. O bom Deus no criou para muito mais!

Pense nisso! E veja como a nossa vida, pode ser melhor, se a exemplo de Francisco de Borja nos desposarmos de todo tipo de bens desnecessários para nossa vida e nos entregarmos por inteiro aos braços do bom Deus. Abrace esta causa de corpo e alma e verás as maravilhas que Deus realizou na vida de São Francisco de Borja também acontecerem em sua vida!

São Francisco de Borja! Rogai ao bom Deus por nós!

Música

UMA CANÇÃO TALVEZ
por Thairo Guimarães Mesquita

Canções são melodias e letras que nos ajudam a refletir, a contemplar, alegra a alma, enche de paz o ser, a vida.
Uma canção talvez, ajude o povo a caminhar, ajude o povo a voltar pra si, olhar pro seu interior, sentir o amor de Deus em nós. Contrário são algumas canções “mundanas” que em vez de alegrar a alma, trazer paz; provocam até conflitos, dói os ouvidos. Possuem até melodias, mas as letras não dizem nada, ou melhor, dizem tudo sobre aquilo que foge da idéia de Ser Humano. E não sei se isto pode ser chamado de canção.
Mas uma canção talvez, provoque no homem uma revolução, uma mudança interior, levando-o a encontrar-se consigo mesmo, na sua profunda intimidade e a encontrar com aquele que o criou. “Uma canção talvez, não mude nada neste mundo”. O povo canta por cantar.
Mas uma canção talvez, reaviva a chama daqueles que perdem o sentido do viver, do verbo amar, vindo de encontro com tal problema, com tal sofrimento que não a deixa caminhar em paz, na alegria. E uma canção talvez, leve o povo, ensine o povo a celebrar; a celebrar a vida, o amor, a família, a celebrar de fato o Deus que nos dá a vida, que é amor, que é alegria.
Cantar é orar, e como diz Santo Agostinho: “quem canta reza duas vezes”. Por isso cante, vibre e celebre o Deus da paz,B do amor, que nos dá sentido a vida.
Que o coração de Jesus seja a nossa força e a nossa luz.

(Texto Inspirado na canção: Uma Canção Talvez. Cd: Os melhores momentos. Padre Zezinho).

Dia Nacional da Juventude

UMA ESPIRITUALIDADE PARA NOSSO TEMPO
Nos últimos anos, por influência das mudanças culturais, a experiência religiosa sofreu uma profunda transformação, passando de um discurso mais racional, centrado, sobretudo, no institucional, para um discurso centrado na própria vida e nas experiências individuais e grupais.
Para muitos jovens, é mais fácil ter uma experiência do sagrado no dia-a-dia do que no ambiente religioso, enquanto comunhão institucional. A pastoral da juventude é chamada a estabelecer um diálogo entre a experiência do Espírito de Jesus que os jovens estão vivendo em seus diversos meios e com suas diferentes sensibilidades e a experiência recolhida na vivência e na tradição da comunidade crente. O critério fundamental para um diálogo é o Evangelho. Assim, a pastoral da juventude, proporciona uma experiência de fé em Deus que se revela em Jesus pela ação do Espírito na prática cotidiana. “Que dinamize uma espiritualidade do seguimento de Jesus que propicie o encontro entre a fé e a vida, que seja promotora da justiça, da solidariedade e que anime um projeto promissor e gerador de uma nova cultura de vida.” (Santo Domingo, 166).
Uma espiritualidade para a juventude só será eficaz e verdadeira se for nova, ou seja, nova diante do estabelecido, do definido, do dissidente, do oficial. Considerando a juventude uma fase de crescimento, de ardor, e de repulsa aquilo que é “velho”, torna-se necessário re-criar uma espiritualidade para a juventude.
Essa espiritualidade é Jesus Cristo e sua mensagem de projeto para a comunidade de discípulos, é a que brota da vida, da história de cada jovem que tem a coragem de descobrir o seu sentido e dar um mergulho na sua subjetividade e deixar Jesus Cristo vir à tona no seu dia-a-dia. A razão deve afastar-se para dar espaço as emoções, a imaginação e a fé. A mensagem do Evangelho precisa ser apresentada como resposta a todas as dimensões da vida do jovem.
A espiritualidade que vivenciam os jovens na pastoral da juventude é condicionada pela diversidade de suas origens, pelas diferenças das histórias pessoais e pelas características originais do encontro de cada um com a pessoa de Jesus. A instabilidade e a ambigüidade próprias da juventude influenciam na formação e na expressão desta espiritualidade. É uma espiritualidade alegre e festiva, tem como eixo central a celebração da vida. Capacita os jovens a olharem para os problemas a partir da visão libertadora da esperança cristã, e para buscar possibilidades e soluções novas.
É uma espiritualidade encarnada que leva os jovens a estarem inseridos em seu meio e a responderem às exigências que surgem das situações vivenciadas de pobreza, injustiça e violência. Busca caminhos para tornar efetiva a opção pelos pobres, promove o sentido profético da mensagem cristã denunciando os sinais de morte e promovendo os sinais de vida, anunciando Jesus Cristo como o único Salvador.

Júlio César Fernandes é diácono transitório pertencente à Arquidiocese de Sorocaba e Assessor Religioso arquidiocesano da Pastoral da Juventude.

26 outubro 2006

Veja algumas matérias da edição de novembro

Edição n. 123 - "Com perdão da palavra, quero cair na vida" :: 01/11/2006


Justiça e paz – pág. 12




A liberdade: direito e dom
A liberdade humana é um dom de Deus. Mas, como todo dom, Deus pede uma contrapartida de cada pessoa: sua resposta e sua responsabilidade com o presente recebido.

Reportagem – pág. 14



Espaços de restauração
Algumas comunidades e associações cristãs têm promovido um trabalho muito bom de recuperação e prevenção ao uso de drogas, sendo reconhecidas por toda a sociedade.

Leituras da vida – pág. 18



Não-violência contra as mulheres
As Nações Unidas escolheram 25 de novembro como o Dia Internacional da Não-Violência Contra as Mulheres. Padre Joãozinho reflete sobre esse tema.


Estudo bíblico – pág. 20



O segredo e sua revelação
O evangelista Marcos usa o segredo messiânico para criar uma tensão no leitor e suscitar sua reflexão profunda sobre a pessoa e o mistério de Jesus.

Liturgia e vida – pág. 22



Solenidade de Cristo Rei
A Igreja encerra o Ano Litúrgico com a solenidade de Cristo Rei. Essa, porém, é uma festa relativamente recente. Foi introduzida em 1925 por Pio XI.

Direito Canônico – pág. 30



Exéquias religiosas
Na celebração das exéquias, os cristãos afirmam sua esperança na vida eterna e suplicam ajuda espiritual para o fiel defunto.

Reflexão – pág. 34



Por que prolongar o sofrimento?
Padre Leo Pessini, doutor em Bioética, fala sobre a distanásia: o prolongamento exagerado da vida. Em vez disso, ele propõe o cuidado e a humanidade para com os enfermos.

11 outubro 2006

Veja outro modelo de camisetas IR ao POVO

Esse é um modelo com um ícone do Coração de Jesus desenhado pelo fr. Valdemar Scramin, scj. Foi capa da edição de junho. Tem nas cores branca, amarela e preta.
 
 

10 outubro 2006

Divulgação no Rio de Janeiro





Padre Reinaldo, scj esteve na Paróquia Sagrado Coração de Jesus, no bairro do Méier, no Rio de Janeiro, divulgando a revista IR ao POVO e as camisetas IR ao POVO. Foi um grande sucesso, principalmente as camisetas que terminaram em curto tempo.
Frater Damião esteve em Barretos (SP)
As camisetas também pode ser adquiridas pelo site da revista ou pelo telefone: (11) 5587-4711

27 setembro 2006

Olha a edição de outubro

Edição n. 122 - "Mãe Aparecida, olhai pelo nosso Brasil!"

Nossa reportagem fala sobre os vários nomes e devoções por Maria. Ela é um ícone para nossa humanidade. Maria é exemplo de abertura ao Reino de Deus, de servidora, de missionária e uma esperança de que também chegaremos à glória, pois ela chegou. Sua humanidade faz-nos ser muito próximos dela e, se cuidou de Jesus, ela pode cuidar e interceder por nós hoje.
Mas, nossa edição tem também outros assuntos bem interessantes. Para assinar assinatura@iraopovo.com.br ou conheça nosso site: www.iraopovo.com.br

Alguns destaques da edição de outubro

Palavra de padre – pág. 07



Um santo completo
Padre Zezinho fala sobre dom Luciano Mendes de Almeida, falecido em agosto. Ele foi um homem e um bispo para todos os tempos.


Enfoque – pág. 08



Água e vida para o Semi-árido
Investir em educação, água, terra, produção e informação é o jeito que a Articulação no Semi-árido encontrou para proporcionar vida mais digna e feliz ao sertão brasileiro.



Notas pastorais – pág. 19



Pastoral do Dízimo
Ele é a melhor forma de manter economicamente a Igreja. Mas, para que alcance seus objetivos, é preciso que a Pastoral do Dízimo seja bem estruturada.



Fazedores da paz – pág. 24



No sobe e desce das águas
Os religiosos e as religiosas que partem em missão para a Amazônia e o Nordeste levam muito mais do que a Palavra de Deus e os sacramentos para o povo pobre dessas regiões.



Entrevista – pág. 25



Bispos falam de missão
Cinco pastores da Igreja no Brasil conversam com os leitores sobre seu trabalho episcopal e sobre os desafios missionários de suas dioceses.



Pensando a fé – pág. 31



Só o amor leva à eternidade
A vida eterna não se ganha nem se perde. Ela é o amor que vivemos aqui e que ultrapassa a eternidade. Esse é o recado de pe. João Batista Libânio ao responder uma questão de fé.



Viver o tempo – pág. 36



Lições do Círio de Nazaré
Para pe. Fábio de Melo, outubro é mês de muito simbolismo e grande riqueza. Ele conta um pouco do que a festa de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém (PA), pode nos ensinar.

24 setembro 2006

IR ao POVO na Expocatólica

A revista IR ao POVO e sua equipe estiveram na IV Expocatolica no estande dos Dehonianos. Na oportunidade foram lançadas as camisetas IR ao POVO com dois modelos: um com a frase do pe. Dehon Se um homem deseja mudar a sociedade não pode ter idéias tímidas e o outro com o ícone da capa de junho feito pelo frater Valdemar Scramin, scj com a frase Se alguém tem sede,venha a mim e beba. Na foto da esquerda para direita: a jornalista Terêzia Dias; Frater Damião Pereira, da divulgação; Karina Del Monte e Cássia Ferreira, do Departamento de Administração e Assinaturas. 

18 setembro 2006

Discurso do Papa Bento XVI em Regensburg - na íntegra

Leia abaixo a íntegra do discurso do papa na Universidade de Regensburg. O título da palestra de Bento XVI é “Fé, Razão e a Universidade: Memórias e Reflexões”.
(atualizado em 20 de setembro, em substituição aos trechos selecionados)

Ilustres Senhores, gentis Senhoras!
É emocionante para mim estar novamente na cátedra da universidade e poder dar uma vez mais uma aula. Meu pensamento volta àqueles anos em que, depois de um maravilhoso período no Instituto Superior de Freising, iniciei minha atividade de professor acadêmico na Universidade de Bonn. 1959 era ainda o tempo da velha universidade dos professores ordinários. Para as cátedras individuais não existiam nem assistentes nem datilógrafos, mas em compensação havia um contato muito direto com os estudantes e principalmente também entre os professores. Davam-se encontros antes e depois das lições nos quartos dos docentes. Os contatos com os historiadores, os filósofos, os filólogos e naturalmente também entre as duas faculdades teológicas eram muito estreitos. Uma vez por semestre havia um assim chamado dies academicus , em que os professores de todas as faculdades se apresentavam diante dos estudantes de toda a universidade, fazendo possível uma verdadeira experiência de universitas : o fato de que nós, não obstante todas as especializações, que às vezes nos fazem incapazes de nos comunicar entre nós, formamos um todo e trabalhamos no todo da única razão com suas várias dimensões, estando assim juntos também na comum responsabilidade pelo reto uso da razão; convertia-o em experiência viva. A universidade, sem dúvida, estava orgulhosa também de suas duas faculdades teológicas. Era claro que também elas, interrogando-se sobre a racionalidade da fé, desenvolvem um trabalho que necessariamente faz parte do "todo" da universitas scientiarum , inclusive se não todos podiam compartilhar a fé, por cuja correlação com a razão comum se esforçam os teólogos. Esta coesão interior no cosmos da razão tampouco foi perturbada quando se soube que um dos colegas havia dito que em nossa universidade havia uma estranheza: duas faculdades que se ocupavam de uma coisa que não existia: Deus. Que também frente a um ceticismo assim radical permanece necessário e razoável interrogar-se sobre Deus por meio da razão e aquilo deva ser feito no contexto da tradição da fé cristã; no conjunto da universidade era uma convicção indiscutível.

Tudo isto veio à minha mente quando recentemente li a parte editada pelo professor Theodore Khoury (Münster) do diálogo que o douto Imperador bizantino Manuel II Paleólogo, talvez durante o tempo de inverno do 1391 em Ankara, teve com um persa culto sobre o Cristianismo e o Islã, e a verdade de ambos. Foi provavelmente o Imperador mesmo quem anotou, durante o assédio de Constantinopla entre 1394 e 1402, este diálogo. Explica-se isto porque seus raciocínios são reportados muito mais detalhadamente que as respostas do erudito persa. O diálogo trata o âmbito das estruturas da fé contidas na Bíblia e no Corão e se detém sobretudo na imagem de Deus e do homem, mas necessariamente também na relação entre as "três Leis": Antigo Testamento –Novo Testamento- Corão. Queria tocar nesta lição só um argumento –mais que nada marginal na estrutura do diálogo– que, no contexto do tema "fé e razão" me fascinou e que servirá como ponto de partida para minhas reflexões sobre este tema.

Na sétima conversa editada pelo professor Khoury, o imperador toca o tema da jihad (guerra santa). Certamente o imperador sabia que na sura 2, 256 se lê: "Nenhuma constrição nas coisas da fé". É uma das suras do período inicial em que Maomé mesmo ainda não tinha poder e estava ameaçado. Mas, naturalmente, o Imperador conhecia também as disposições, desenvolvidas sucessivamente e fixadas no Corão, aproxima a guerra santa. Sem deter-se nos particulares, como a diferença de tratamento entre aqueles que possuem o "Livro" e os "incrédulos", ele, de modo surpreendentemente brusco, dirige-se a seu interlocutor simplesmente com a pergunta central sobre a relação entre religião e violência, em geral, dizendo: "mostre-me também aquilo que Maomé trouxe de novo, e encontrará somente coisas malvadas e desumanas, como sua diretiva de difundir por meio da espada a fé que ele pregava". O Imperador explica assim minuciosamente as razões pelas quais a difusão da fé mediante a violência é uma coisa irracional. A violência está em contraste com a natureza de Deus e a natureza da alma. "Deus não goza do sangue; não atuar segundo a razão é contrário à natureza de Deus. A fé é fruto da alma, não do corpo. Quem portanto quer conduzir o outro à fé necessita da capacidade de falar bem e de raciocinar corretamente, não da violência nem da ameaça… Para convencer uma alma racional não é necessário dispor nem do próprio braço, nem de instrumentos para agredir nem de nenhum outro meio com o que se possa ameaçar uma pessoa de morte…".

A afirmação decisiva nesta argumentação contra a conversão mediante a violência é: não agir segundo a razão é contrário à natureza de Deus. O editor, Theodore Khoury, comenta que para o imperador, como bizantino crescido na filosofia grega, esta afirmação é evidente. Para a doutrina muçulmana, ao contrário, Deus é absolutamente transcendente. Sua vontade não está ligada a nenhuma de nossas categorias, inclusive àquela da racionalidade. Neste contexto Khoury cita uma obra do conhecido islamista francês R. Arnaldez, que a destaca a Ibh Hazn que vai até o ponto de declarar que Deus não estaria ligado nem sequer por sua mesma palavra e que nada o obrigaria a nos revelar a verdade. Se fosse sua vontade, o homem deveria praticar também a idolatria.

Aqui se abre, na compreensão de Deus e portanto na realização concreta da religião, um dilema que hoje nos desafia de um modo muito direto. A convicção de atuar contra a razão está em contradição com a natureza de Deus, é somente um pensamento grego ou vale sempre por si mesmo? Penso que neste ponto se manifesta a profunda concordância entre aquilo que é grego no melhor sentido e aquilo que é fé em Deus sobre o fundamento da Bíblia. Modificando o primeiro verso do Livro do Gênesis, João iniciou o prólogo de seu Evangelho com as palavras: "Ao princípio era o logos". É justamente esta palavra a que usa o imperador: Deus atua com logos . Logos significa conjunto de razão e palavra, uma razão que é criadora e capaz de comunicar-se, mas, como razão. João com aquilo nos doou a palavra conclusiva sobre o conceito bíblico de Deus, a palavra em que todas as vias freqüentemente fatigantes e tortuosas da fé bíblica alcançam sua meta, encontrando sua síntese. No princípio era o logos , e o logos é Deus, diz-nos o evangelista. O encontro entre a mensagem bíblica e o pensamento grego não era uma simples casualidade. A visão de São Paulo, diante do qual se fechou os caminhos da Ásia e que, em sonhos, viu um macedônio e escutou sua súplica: "Vem à Macedônia e nos ajude!", esta visão pode ser interpretada como uma "condensação" da necessidade intrínseca de uma aproximação entre a fé bíblica e o interrogar-se grego.

Na verdade, esta aproximação já se iniciou desde há muito tempo. Já o nome misterioso de Deus da sarça ardente, que separa Deus do conjunto das divindades com múltiplos nomes afirmando somente seu ser, é, confrontando-se com o mito, uma resposta com a que está em íntima analogia a tentativa de Sócrates de vencer e superar o mito mesmo. O processo iniciado para a sarça alcança, ao interior do Antigo Testamento, uma nova maturidade durante o exílio, onde o Deus de Israel, agora privado da Terra e do culto, anuncia-se como o Deus do céu e da terra, apresentando-se com uma simples fórmula que prolonga as palavras da sarça: "Eu sou". Com este novo conhecimento de Deus vai ao mesmo paso uma espécie de iluminismo, que se expressa de modo drástico na mofa das divindades que são somente obra das mãos do homem. Assim, não obstante toda a dureza do desacordo com os soberanos helenísticos, que queriam obter com a força a adequação ao estilo de vida grego e a seu culto idolátrico, a fé bíblica, durante a época helenística, ia interiormente ao encontro da melhor parte do pensamento grego, até um contato recíproco que depois se realizou especialmente na tardia literatura sapiencial. Hoje nós sabemos que a tradução grega do Antigo Testamento, realizada na Alexandria –a Bíblia dos "Setenta" –, é mais que uma simples (por avaliar de modo talvez pouco positivo) tradução do texto hebraico: é de fato um testemunho textual a si devido, e um específico e importante passo da história da Revelação, no qual se realizou este encontro de um modo que para o nascimento do cristianismo e sua divulgação teve um significado decisivo. No fundo, trata-se do encontro entre fé e razão, entre autêntico iluminismo e religião. Partindo verdadeiramente da íntima natureza da fé cristã e, ao mesmo tempo, da natureza do pensamento helenístico fundido já com a fé, Manuel II podia dizer: Não atuar "com o logos " é contrário à natureza de Deus.

Honestamente é necessário anotar, que na tardia Idade Média, desenvolveram-se na teologia tendências que rompem esta síntese entre espírito grego e espírito cristão. Em contraste com o assim chamado intelectualismo agostiniano e tomista que iniciou com o Duns Scoto uma impostação voluntarística, a qual ao final levou a afirmação que nós conheceremos de Deus somente a voluntas ordinata . Além desta existiria a liberdade de Deus, em virtude da qual Ele teria podido criar e fazer também o contrário de tudo aquilo que efetivamente tem feito. Aqui se perfilam posições que, sem lugar a dúvidas, podem aproximar-se daquelas do Ibn Hazn e poderiam levar até a imagem de um Deus- Árbitro, que não está ligado nem sequer à verdade e ao bem. A trascendência e a diversidade de Deus são acentuadas de modo tão exagerado, que também nossa razão, nosso sentido do verdadeiro e do bem não são mais um verdadeiro espelho de Deus, cujas possibilidades abismais permanecem para nós eternamente inalcançáveis e escondidas atrás de suas decisões efetivas. Em contraste com isso, a fé da Igreja ateve-se sempre à convicção de que entre Deus e nós, entre seu eterno Espírito criador e nossa razão criada, existe uma verdadeira analogia, em que certamente as dessemelhanças são imensamente maiores que as semelhanças, mas não ao ponto de abolir a analogia e sua linguagem. Deus não se faz mais divino pelo fato de que o empurremos longe de nós em um voluntarismo puro e impenetrável, mas sim o Deus verdadeiramente divino é aquele Deus que se mostrou como o logotipos e como logotipos atuou e atua cheio de amor a nosso favor. Certo, o amor "sobrepassa" o conhecimento e é por isso capaz de perceber mais que o simples pensamento, entretanto permanece como o amor de Deus – logos , pelo qual o culto cristão é um culto que concorda com o Verbo eterno e com nossa razão.

A aqui mencionada recíproca aproximação interior, que se teve entre a fé bíblica e o interrogar-se sobre o plano filosófico do pensamento grego, é um dado de importância decisiva não só do ponto de vista da história das religiões, mas também desde aquilo da história universal –um dado que nos obriga também hoje. Considerado este encontro, não é surpreendente que o cristianismo, não obstante sua origem e importante desenvolvimento no Oriente, tenha encontrado seu rastro historicamente decisivo na Europa. Podemos expressá-lo também inversamente: este encontro, ao qual se adiciona ainda sucessivamente o patrimônio de Roma, criou a Europa e permanece como fundamento daquilo que, com razão, pode-se chamar a Europa.

À tese de que o patrimônio grego, criticamente purificado, seja uma parte integrante da fé cristã, opõe-se o pedido da deselenização do cristianismo, um pedido que desde o início da idade moderna domina de modo crescente a busca teológica. Visto mais de perto, podem-se observar três ondas no programa da deselenização: embora relacionadas entre si, em suas motivações e em seus objetivos são claramente distintas uma da outra.
A deselenização emerge primeiro em conexão com postulados fundamentais da Reforma do século XVI. Considerando a tradição das escolas teológicas, os reformadores se viam diante de uma sistematização da fé condicionada totalmente pela filosofia, diante, quer dizer, de uma determinação da fé do externo com força em um modo de pensar que não derivava desta. Assim, a fé não aparecia mais como vivente palavra histórica, mas sim como elemento inserido na estrutura de um sistema filosófico. A sola Scriptura ao contrário, busca a pura forma primitiva da fé, como esta mesma está presente originariamente na Palavra bíblica. A metafísica aparece como um pressuposto derivado de outra fonte, da que ocorre libertar a fé para fazê-la retornar a ser totalmente ela mesma. Kant atuou baseado neste programa com uma radicalidade imprevisível para os reformadores. Com isso ele ancorou a fé exclusivamente à razão prática, negando-lhe o acesso ao todo da realidade.

A teologia liberal dos séculos XIX e XX acompanha a segunda etapa do processo de deselenização, com Adolf von Harnack, como seu máximo representante. Quando era estudante e em meus primeiros anos como docente, este programa influenciava altamente a teologia católica também. Tomou como ponto de partida a distinção que Pascal faz entre o Deus dos filósofos e o Deus de Abraão, Isaac e Jacob. Em meu discurso inaugural em Bonn em 1959 tratei de me referir a este assunto. Não repetirei aqui o que disse naquela ocasião, mas eu gostaria de descrever, ao menos brevemente, o que era novo neste processo de deselenização. A idéia central de Harnack era voltar simplesmente ao homem Jesus e a sua mensagem simples, sem as adições da teologia e inclusive com a helenização: Esta simples mensagem foi vista como a culminação do desenvolvimento religioso da humanidade. Dizia-se que Jesus pôs fim ao culto em favor da moralidade. Ao final era apresentado como o pai da mensagem moral humanitária. A meta fundamental era fazer que o Cristianismo estivesse em harmonia com a razão moderna, quer dizer, liberando-o dos elementos aparentemente filosóficos e teológicos, como a fé na divindade de Cristo e em Deus Uno e Trino. Neste sentido, a exegese histórica-crítica do Novo Testamento restaurou o lugar da teologia na universidade: Para Harnack, a teologia é algo essencialmente histórico e portanto estritamente científico. O que se pode dizer criticamente de Jesus, é por assim dizer, expressão da razão prática e conseqüentemente se pode aplicar à Universidade como um tudo. Neste pensamento se apóia a própria limitação da razão, classicamente expressa nas "Críticas" de Kant, mas nesse momento radicalizada pelo impacto das ciências naturais. Este conceito moderno está apoiado, para dizê-lo brevemente, na síntese entre o Platonismo (Cartesianismo) e o empirismo, uma síntese confirmada pelo sucesso da tecnologia. Por um lado pressupõe a estrutura matemática da matéria, e sua intrínseca racionalidade, que faz possível entender como a matéria funciona e a usa eficientemente: Esta premissa básica é, por assim dizer, o elemento platônico no entendimento moderno da natureza. Por outro lado, existe a capacidade da natureza de ser explorada para nossos propósitos, e neste caso só a possibilidade da verificação ou falsificação através da experimentação pode chegar à certeza final. O peso entre os dois pólos pode, dependendo das circunstâncias, mudar de um lado ao outro. Como fortemente o fez o pensador positivista J. Monod, que declarou a si mesmo um convencido platonista/cartesiano.

Isto permite que emerjam dois princípios que são cruciais para o assunto ao que chegamos. Primeiro, só a classe de certeza que resulta de interpolar elementos matemáticos com empíricos pode se considerar científica. Qualquer disciplina que queira exigir status de ciência deve ser medido com este critério. Daí que as ciências humanas, como a história, psicologia, sociologia e filosofia, não possam se conformar a este cânon de cientificidade. Um segundo ponto que é importante para nossas reflexões, é que por sua própria natureza este método exclui a pergunta de Deus, fazendo-a aparecer como não científica ou pré-científica. Conseqüentemente, enfrentamos uma redução do raio da ciência e da razão, que precisa ser questionado.

Devemos retornar ao problema depois. Enquanto isso, há que observar-se que desde este lugar, qualquer tentativa da teologia de manter seu status de "científica" terminaria por reduzir o Cristianismo a um simples fragmento de si mesmo. Mas temos que dizer mais: É o homem mesmo quem termina sendo reduzido, as perguntas especificamente humanas sobre nossa origem e nosso destino, as perguntas originadas da religião e da ética, já não têm lugar no modo de ver da razão coletiva definida como "ciência" e tem que relegar-se ao espaço do subjetivo. É o sujeito quem decide então, apoiado em sua experiência, o que considera é matéria da religião, e a "consciência" subjetiva se converte somente no árbitro do que é ético. Desta maneira, entretanto, a ética e a religião perdem seu poder de criar uma comunidade e se convertem em um assunto completamente pessoal. Este é um estado perigoso para os assuntos da humanidade, como podemos ver nas diversas patologias da religião e a razão que necessariamente emergem quando a razão é tão reduzida que as perguntas da religião e a ética já não preocupam. Tentativas de construir a ética a partir das regras da evolução ou a psicologia terminam sendo simplesmente inadequados.

Antes de esgrimir as conclusões às que tudo isto leva, tenho que me referir brevemente à terceira etapa de deselenização, que ainda está acontecendoe. À luz de nossa experiência com o pluralismo cultural, com freqüência se diz em nossos dias que a síntese com o Helenismo obtida pela Igreja em seus inícios foi uma inculturação preliminar que não deve ser vinculante para outras culturas. Este último se diz para ter o direito a voltar para simples mensagem do Novo Testamento anterior à inculturação, para inculturá-lo novamente em seus meios particulares. Esta tese não é falsa, mas sim é ordinária e imprecisa. O Novo Testamento foi escrito em grego e traz consigo a estampagem do espírito grego, que chegou à maturidade dado que o Antigo Testamento se desenvolveu. Certo, há elementos na evolução da Igreja em seus inícios que não devem se integrar em todas as culturas, Entretanto, as decisões fundamentais sobre as relações entre a fé e o uso da razão humana são parte da fé mesma, são desenvolvimentos conseqüentes com a natureza da própria fé.

E assim chego à conclusão. Esta tentativa, feita com umas poucas pinceladas, de uma crítica à razão moderna desde dentro, não tem nada a ver pondo o relógio no tempo anterior ao Iluminismo e rejeitar as perspectivas da era moderna. Os aspectos positivos da modernidade devem ser conhecidos sem reserva: Estamos todos agradecidos pelas maravilhosas possibilidades que abriram para a humanidade e para o progresso que nos deu. O ethos científico, além disso, deve ser obediente à verdade, e, como tal, leva uma atitude que se reflete nos princípios do Cristianismo. A intenção aqui não é o reducionismo ou a crítica negativa, mas sim ampliar nosso conceito de razão e sua aplicação. Enquanto nos regozijamos nas novas possibilidades abertas à humanidade, também podemos contemplar os perigos que emergem destas possibilidades e temos que nos perguntar como podemos superá-las. Teremos êxito ao fazê-lo somente se a razão e a fé avançarem juntas de um modo novo, se superarmos a limitação imposta pela razão mesma ao que é empiricamente verificável, e se uma vez mais gerarmos novos horizontes. Neste sentido a teologia pertence corretamente à universidade e está dentro do amplo diálogo das ciências, não só como uma disciplina histórica e ciência humana, mas precisamente como teologia, como uma aprofundamento na racionalidade da fé.

Só assim nos fazemos capazes de obter este diálogo genuíno de culturas e religiões que necessitamos com urgência hoje. No mundo ocidental se sustenta amplamente que somente a razão positivista e as formas da filosofia apoiadas nela são universalmente válidas. Inclusive as culturas profundamente religiosas vêem esta exclusão do divino da universalidade da razão como um ataque a suas mais profundas convicções. Uma razão que é surda ao divino e que relega a religião ao espectro das subculturas é incapaz de entrar em diálogo com as culturas. Ao mesmo tempo, como tratei que demonstrar, a razão científica moderna com seus elementos intrinsecamente platônicos gera uma pergunta que vai além de si mesmo, de suas possibilidades e de sua metodologia. A razão científica moderna simplesmente tem que aceitar a estrutura racional da matéria e sua correspondência entre nosso espírito e as estruturas racionais que prevalecem como nos deu, nas que sua metodologia deve se apoiar. Inclusive a pergunta por que isto tem que ser assim? é uma questão real, que tem que ser dirigida pelas ciências naturais a outros modos e planos de pensamento: À filosofia e à teologia. Para a filosofia e, embora seja certo que de outra forma, para a teologia, escutar as grandes experiências e perspectivas das tradições religiosas da humanidade, de maneira particular aquelas da fé cristã, é fonte de conhecimento; ignorá-la seria uma grave limitação para nossa escuta e resposta. Aqui recordo algo que Sócrates disse a Faedo. Em conversas anteriores, verteram-se muitas opiniões filosóficas falsas, e por isso Sócrates diz: "Seria mais facilmente compreensível se a alguém incomodassem tanto todas estas falsas noções que pelo resto de sua vida desdenhasse e se burlasse de toda conversação sobre o ser, mas desta forma estaria privado da verdade da existência e sofreria uma grande perda".

O Ocidente foi posto em perigo por muito tempo por esta aversão em que se apóia sua racionalidade, e portanto só pode sofrer grandemente. A coragem para comprometer toda a largura da razão e não a negação de sua grandeza: Este é o programa com o que a teologia ancorada na fé bíblica ingressa no debate de nosso tempo. "Não atuar razoavelmente (com logos) é contrário à natureza de Deus" disse Manuel II, de acordo com o entendimento cristão de Deus, em resposta a seu interlocutor persa. É a este grande logos, à largura da razão, onde convidamos a nossos companheiros no diálogo das culturas. É a grande tarefa da universidade redescobri-lo constantemente.

Nota: O Santo Padre deseja proporcionar uma versão posterior deste texto, complementado com notas de rodapé. portanto, o presente texto deve ser considerado provisório.

Texto original em alemão.
Fonte: Sala de Imprensa da Santa Sé.
Tradução: ACI Prensa.

Bento XVI: convite ao diálogo

por Dom Juan del Río, presidente da Comissão de Meios de Comunicação da Conferência Episcopal Espanhola

Todos conhecem os protestos de setores do mundo muçulmano pela alusão a Maomé em um discurso acadêmico de Bento XVI na Universidade de Ratisbona. Quando há discussão por algo dito, creio que é melhor ir ao texto completo, não a extratos, para ver o que se deduz dele. O primeiro aspecto a ter presente é que se trata de uma lição de teologia titulada: «Fé, razão e universidade. Lembranças e reflexões».

Não é uma homilia, nem uma catequese, mas um texto acadêmico. Quem o ministra é o sucessor de Pedro, também professor universitário, teólogo e um dos grandes pensadores da atualidade. O ambiente em que se pronuncia o discurso é o de um ato solene frente a intelectuais alemães. Fala um veterano professor, que regressa ao que é quase sua casa. O Papa fala do que sempre lhe fascinou: «Fé e razão».

Como todo cientista, trata primeiro das dificuldades. Recorda uma frase de um antigo colega acético: «Nossa universidade tinha algo estranho: duas faculdades que se ocupavam de algo que não existia: Deus». Também cita um livro recente, onde aparece um diálogo que manteve em 1391 o imperador de Bizâncio, Manuel II Paleólogo, sobre o Cristianismo e o Islã. O imperador fala da relação entre religião e violência, aludindo ao profeta Maomé, a quem atribui, entre outras críticas, a «ordem de difundir a fé usando a espada».

O Papa não diz em nenhum momento que esteja de acordo com o citado, mas o toma como ponto de partida dialético, próprio do discurso universitário, para chegar à chave da argumentação: «A fé mediante a violência é algo irracional... Não atuar segundo a razão é contrário à natureza de Deus». Sentido do discursoEstudando o texto da dissertação, não se deduz racionalmente ofensa ao Islã. É certo que, em duas linhas entre seis páginas, cita a opinião deste personagem do medieval adversa ao profeta Maomé; isso é algo que pertence à história.

Contudo, pode-se dizer que fazer uma crítica irada sobre as intenções do Papa, de maneira disforme e tendenciosa, a partir de uma simples nota histórica, perfeitamente acoitada, ignorando o resto não é racionalmente aceitável. É que cada vez que se consigna uma opinião adversa, com a qual obviamente não se está de acordo pela trajetória anterior, é preciso dizer depois de cada frase? É que há que excluir as boas intenções? A finalidade do discurso é pôr de manifesto que a fé em Deus é fonte de paz, não de guerra.

O próprio Bento XVI o disse em uma mensagem ao encontro ecumênico de Assis: «As manifestações de violência não podem atribuir-se à religião enquanto tal, mas aos limites culturais com os que se vive e desenvolve no tempo...». A opção do Papa em favor do diálogo inter-religioso e intercultural é inequívoca: pode-se comprovar em todo seu pensamento teológico, expresso em livros anteriores e nos diversos pronunciamentos que, neste ano e meio de pontificado, ele vem fazendo sobre «cultura, religião e violência».

Luta, isso sim, contra uma idéia da secularização do ocidente imposta por velhos intelectuais ancorados no passado, estendida depois de 11 de setembro de 2001 e amplificada nos meios de comunicação, de que a fé em um Deus e as convicções religiosas trazem inexoravelmente fanatismo e violência.

Por isso mesmo, nas conclusões de seu discurso em Ratisbona, ele diz: «As culturas profundamente religiosas do mundo vêem na exclusão do divino e na universalidade da razão um ataque às suas convicções mais arraigadas. Uma razão que é surda ao divino e que relega a religião ao espectro da sub-cultura é incapaz de entrar em diálogo com as culturas». Isto inclui, evidentemente, a religião monoteísta islâmica. É isto um ataque a sua fé?Reflexão e diálogoO Papa tenta em seu discurso ampliar o conceito de razão, que a sociedade de consumo imposta desde o poder, conduz ao ascetismo ou cinismo frente ao sagrado, negando a possibilidade de conhecer a transcendência, desvalorizando os sentimentos religiosos e reduzindo toda manifestação humana ao puramente material.

O discurso não vai contra ninguém, e menos contra os muçulmanos, adoradores do Deus único, porque defende até a morte como sendo necessário e razoável interrogar-se sobre Deus. No reconhecimento do «único Deus, vivo, misericordioso e todo-poderoso» (Nostra Aetate 3) nos podemos encontrar cristãos e muçulmanos. Bento XVI, mais que ofender e atacar o Islã, dá alento às pessoas de fé, muçulmanos inclusive, que rejeitam a violência religiosa, venha do fanatismo ou do poder.

Ante a reação veemente e excitadora que aparecera em relação às palavras do Papa, não se podem evitar algumas perguntas: O que se transmitiu às pessoas simples do que realmente disse o bispo de Roma na Alemanha? Que intencionalidade se esconde em tirar uma brevíssima citação histórica fora de uma lição universitária que trata de uma nova relação entre fé e razão? Existem forças ocultas interessadas em potenciar o fanatismo e a violência de determinados setores de diversas religiões para enfrentar cristãos entre si e estes contra muçulmanos?

O Papa se apropriou do sentimento de milhões de pessoas de fé que, de uma maneira ou de outra, estão dizendo que a religião não pode ser fundamento de um conflito, de uma guerra, de nenhum tipo de violência, material ou social. Por isso, deve-se concluir que o verdadeiro significado do discurso do Santo Padre em sua totalidade era e é um convite franco e sincero ao diálogo.

Fonte: Zenit

16 setembro 2006

Vaticano esclarece interpretações das palavras do Papa sobre o Islã

A Zenit publicou a declaração que o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, o Pe. Federico Lombardi, S.J., entregou aos jornalistas na tarde desta quinta-feira, dia 14, sobre as interpretações de algumas passagens do discurso que o Papa Bento XVI pronunciou na Universidade de Ratisbona em 12 de setembro.

"A propósito das reações de alguns representantes muçulmanos acerca de certas passagens do discurso do Santo Padre na Universidade de Ratisbona, é oportuno observar que, como se desprende de uma atenta leitura do texto, o que interessa ao Santo Padre é uma rejeição clara e radical da motivação religiosa da violência. Sem dúvida, não era intenção do Santo Padre levar a cabo um estudo profundo sobre a yihad e sobre o pensamento muçulmano nesse sentido, e muito menos ofender a sensibilidade dos crentes muçulmanos.

Ao contrário, nos discursos do Santo Padre aparece com clareza a advertência, dirigida à cultura ocidental, de que se evite «o desprezo de Deus e o cinismo que considera a irrisão do sagrado como um direito da liberdade» (discurso de 10 de setembro), a justa consideração da dimensão religiosa é efetivamente uma premissa essencial para um diálogo frutuoso com as grandes culturas e religiões do mundo.

Assim, nas conclusões do discurso na Universidade de Ratisbona, Bento XVI afirmou: «As culturas profundamente religiosas do mundo vêem na exclusão do divino da universalidade da razão um ataque às suas convicções mais arraigadas. Uma razão que frente ao divino é surda e relega a religião ao âmbito de uma cultura de segundo grau é incapaz de integrar-se no diálogo das culturas».

Portanto, fica clara a vontade do Santo Padre de cultivar uma atitude de respeito e diálogo para com as outras religiões e culturas, evidentemente também para com o Islã. "

31 agosto 2006

Palavra da Igreja

FREI GALVÃO, O PRIMEIRO SANTO NASCIDO NO BRASIL

Com o reconhecimento de uma junta médica italiana de milagre atribuído à intercessão Frei Galvão (1739-1822), o religioso pode se tornar o primeiro santo nascido no Brasil. «Eu só posso dizer que foi aprovado o milagre. É um caso bonito. Vamos aguardar. Vocês vão ver que vai ser um caso muito bonito», afirmou essa quinta-feira Irmã Cláudia Hodecker, da Ordem da Imaculada Conceição, que trabalha no processo de canonização. Segundo a Irmã, agora é preciso que um grupo de teólogos, cardeais e o próprio Papa assinem ratificando a canonização. Essa resolução poderia levar três meses. A postuladora da causa de Frei Galvão é Irmã Célia Cadorin, a mesma responsável pelo processo que levou aos altares em 2002 Madre Paulina (1865-1942), que nasceu na Itália mas atuou no Brasil, cujo santuário se encontra em Nova Trento (Estado de Santa Catarina, sul do país). Frei Galvão nasceu em 1739 de uma família profundamente piedosa e conhecida pela sua grande caridade para com os pobres. Batizado com o nome de Antônio Galvão de França, depois de ter estudado com os Padres da Companhia de Jesus, na Bahia, entrou na Ordem dos Frades Menores em 1760; diz biografia difundida pela Santa Sé. Foi ordenado Sacerdote em 1762 e passou a completar os estudos teológicos no Convento de São Francisco, em São Paulo, onde viveu durante 60 anos, até à sua morte ocorrida a 23 de Dezembro de 1822. A vida de Frei Galvão foi marcada pela fidelidade à sua consagração como sacerdote e religioso franciscano, e por uma devoção particular e uma dedicação total à Imaculada Conceição, como «filho e escravo perpétuo». Além dos cargos que ocupou dentro da sua Ordem e na Ordem Terceira Franciscana, ele é conhecido sobretudo como fundador e guia do Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição, mais conhecido como «Mosteiro da Luz», do qual tiveram origem outros nove mosteiros. Além de Fundador, Frei Galvão foi também o projetista e construtor do Mosteiro que as Nações Unidas declararam Patrimônio cultural da humanidade. Enquanto ele ainda vivia, em 1798 o Senado de São Paulo definiu-o «homem da paz e da caridade», porque era conhecido e procurado por todos como conselheiro e confessor, além de o franciscano que aliviava e curava os doentes e os pobres, no silêncio da noite. Frei Galvão convida-nos a crescer em santidade e na devoção a Nossa Senhora da Conceição e deixa a todos nós brasileiros a grata mensagem de sermos pessoas da paz e da caridade, sobretudo para com os pobres e os marginalizados. O religioso foi beatificado pelo Papa João Paulo II no dia 25 de outubro de 1998. Em sua homilia na concelebração eucarística, o Papa disse que Frei Galvão «quis corresponder à própria consagração religiosa, dedicando-se com amor e devotamento aos aflitos, aos doentes e aos escravos da sua época no Brasil». «Sua fé genuinamente franciscana, evangelicamente vivida e apostolicamente gasta no serviço ao próximo, servirá de estímulo para o imitar como “homem da paz e da caridade”». Segundo João Paulo II, «a missão de fundar os Recolhimentos dedicados a Nossa Senhora e à Providência continua produzindo frutos surpreendentes: ardoroso adorador da Eucaristia, mestre e defensor da caridade evangélica, prudente conselheiro da vida espiritual de tantas almas e defensor dos pobres». «Que Maria Imaculada, de quem Frei Galvão se considerava «filho e perpétuo escravo», ilumine os corações dos fiéis e desperte a fome de Deus até à entrega ao serviço do Reino, mediante o próprio testemunho de vida autenticamente cristã», afirmou o Papa na beatificação.

Antônio Corrêa Galvão de França nasceu em 1739, em Guaratinguetá, Estado de São Paulo, e morreu em São Paulo, capital, no dia 23 de dezembro de 1822, aos 84 anos de idade.

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Coração de Jesus

UMA FONTE BROTA DO CORAÇÃO
por Pe Francisco Sehnem scj

Para alicerçar a nossa devoção (culto e espiritualidade) do Coração de Cristo nada mais seguro do que reler tantos e tantos fundamentos que a Revelação Bíblica nos traz. Mas, parece útil acrescentar algumas citações dos Santos Padres para termos uma idéia de como esta espiritualidade bíblica se desenvolveu na Tradição cristã.
K. Richstätter, o grande especialista da devoção ao Coração de Jesus na Idade Média, escreveu: “Nos primeiros mil anos do cristianismo, a idéia do Sagrado Coração de Jesus era desconhecida”. Mas, houve muita reação a esta afirmação. Vários autores começaram a citar numerosos textos dos Santos Padres e, mais tarde, Hugo Rahner sistematizou este estudo, extraindo da teologia patrística três grandes temas:
Há um conjunto de textos que se referem a João 7,37-39. São textos que falam da água viva que nasce do lado de Cristo transpassado na cruz. Há uma fonte que brota do seu Coração.
Depois aparece uma tradição patrística sobre São João, o discípulo amado, que reclinou a sua cabeça sobre o peito do Senhor (Jo 13,23-25).
Finalmente, inúmeros textos patrísticos falam da origem da Igreja que nasce do Cristo transpassado na cruz (Jo 19,34).
Seria, ainda, interessante, pesquisar o que os Santos padres escreveram sobre o coração humano, de modo geral.
Há, realmente, uma riqueza enorme de textos. Nestes dias andei relendo alguns textos do trabalho do Jesuíta Francisco Xavier de Franciosi (Le Sacré-Coeur et la Tradition). Este homem se deu ao trabalho de percorrer todos os Santos Padres e transcrever todos os textos que poderiam dizer algo para a espiritualidade do Coração de Jesus. O livro foi editado em 1901, em Montreuil-sur-mer. São 480 páginas, de uma letra bem miudinha.
Já sabemos que o texto de Jo 7,37-39 apresenta um célebre problema de pontuação. A Vulgata (tradução da Bíblia em latim) familiarizou-nos com a leitura segundo a qual o coração do crente se transforma em fonte de água viva. “Se alguém tiver sede, venha a mim e beba. Aquele que crê em mim, como diz a Escritura, do seu seio (koilia) correrão rios de água viva”.
Hugo Rahner demonstrou que esta leitura tem sua origem nos escritos de Orígenes, e se transmitiu graças a muitos Padres gregos e latinos, especialmente Santo Ambrósio e Santo Agostinho, que influenciaram toda a tradição ocidental.
Fazendo uma pesquisa mais aprofundada, Rahner chegou a conclusão de que os Santos Padres gregos mais antigos gostavam de fazer uma outra leitura desta passagem. Nesta interpretação, o Coração do transpassado aparece claramente como a fonte da água viva, como a fonte do Espírito: “Se alguém tiver sede, venha a mim, e beba aquele que crê em mim. Como diz a escritura, do seu seio correrão rios de água viva”.
Rahner chama esta leitura mais antiga de ‘efesina’(de Éfeso) em oposição à leitura ‘alexandrina’(Alexandria) de Orígenes. Os representantes da leitura efesina são bem menos numerosos, mas Rahner lhe atribui uma autoridade muito grande e chega a pensar que esta seja realmente a leitura autêntica. É um texto realmente importante para o estudo bíblico e especialmente para a teologia do Coração de Jesus.
Um primeiro testemunho claro para a leitura efesina deste texto (Jo 7,37-39) é Hipólito de Roma, em seu comentário de Daniel 1,17. Hipólito recebeu esta interpretação de Santo Irineu, discípulo de S. Policarpo que , por sua vez, conheceu o Apóstolo João.
Irineu escreve: “Mas, o Espírito Santo está em nós, e Ele é aquela água viva que o Senhor oferece a todos os que nele crêem, como Ele manda” (Ad. Haereses, V, 18,2). E escreve, ainda, no mesmo livro: “A Igreja é a fonte da água viva que brota para nós do Coração de Cristo. Onde está a Igreja, ali está o Espírito de Deus, e onde está o Espírito de Deus, ali está a Igreja e toda a graça. Mas, o Espírito é verdade. Aquele que não participa deste Espírito, não receberá nenhum alimento nem vida no seio de nossa Igreja, nem pode beber da fonte cristalina que brota do Corpo de Cristo” (ibid. III 24,1).

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Reflexão

O Novo Paradigma: a guerra infinita
por Leonardo Boff

O sociólogo frances Alain Tourraine que muito ama o Brasil e que adotou a América Latina como a pátria de seu coração sustenta em seu recente livro "Um novo paradigma:para entender do mundo de hoje"(Vozes 2006) uma tese intrigante que nos permite entender, de certa forma, a violência, na verdade, a guerra terrorista que está ocorrendo entre palestinos e israelenses no Líbano. A tese que propõe é que depois da queda do muro de Berlim e dos atentados de 11 de setembro de 2001 começou rapidamente uma desintegração das sociedades, dominadas pelo medo e impotentes diante do terrorismo. Estaríamos assistindo a passagem da lógica da sociedade para a lógica da guerra. A potência hegemônica, os EUA, decidiu resolver os problemas não mais por via diplomática e pelo diálogo, mas pela intervenção e pela guerra levada, se preciso for, a qualquer parte do mundo.Essa estratégia possui sua lógica. Inscreve-se dentro da atual dinâmica da globalização econômico-financeira. Esta não quer saber de qualquer controle ou regulação social e política. Exige campo aberto para fazer a guerra dos mercados. Separou totalmente economia de sociedade, vê os estados-nações como entraves, procura reduzir o estado, difamar a classe política e passar por cima de organismos de representação mundial como a ONU. Esta dissolução das fronteiras acarretou a fragmentação daquilo que constitui a sociedade. Pior ainda. Invalidou a base política e ética para o sonho de uma sociedade mundial, tão querida pelos altermundialistas, que cuidasse dos interesses coletivos da humanidade como um todo e que tivesse um mínimo de poder central para intervir nos conflitos e dinamizar os mecanismos da convivência, da paz e da preservação da vida.

Esta dessocialização é conseqüência da globalização econômico-financeira que encarna o capitalismo mais extremado com a cultura que o acompanha. Esta implica a segmentação da realidade, com a perda da visão do todo, a exacerbação da competitividade em detrimento da cooperação necessária, o império das grandes comportações privadas com pouquíssimo senso de responsabilidade sócio-ambiental e a exaltação do indivíduo alheio ao bem comum.

O mundo está em franco retrocesso. A atual sociedade não se explica mais, como queria a sociologia clássica, por fatores sociais, mas por forças impessoais e não sociais como o medo coletivo, o fundamentalismo, o terrorismo, a balcanização de vastas regiões da Terra e as guerras cada vez mais terroristas por vitimarem populações civis.

Este cenário mundial dramático explica por que nenhuma instância política mundial tem capacidade reconhecida e força moral suficiente para pôr fim ao conflito palestino-israelense que está transformando o Líbano numa ruína. Assistimos impotentes à tribulação da desolação do sem número de vítimas inocentes, de milhares de refugiados e da irracional destruição de toda a infra-estrutura de um pais que acaba de se reconstruir da guerra anterior. Isso é terrorismo.

Se, impotentes, não sabemos o que fazer, procuremos, pelo menos, entender a lógica desta violência. Ela é fruto de um tipo de mundo que nas últimas décadas decidimos construir baseado na pura exploração dos recursos da Terra, na produção e no consumo ilimitados, na falta de diálogo, tolerância e respeito pelas diferenças. Um mundo assim só pode nos levar à dessocialização e à guerra sem fim.
Fonte: Adital

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Santo do Mês

4 de agosto - São João Maria Vianney
por Ricardo Valim

Também conhecido como Cura D’Ars, nasceu no dia 8 de maio de 1786 em Dardilly, ao norte de Lyon na França e faleceu no dia 4 de agosto de 1859.Homem de grande fé, humildade e exemplo de superação e santidade para todos nós, que por muitas vezes nos deixamos abater pelas dificuldades e problemas que nos são apresentados diariamente e nos esquecemos que tudo é possível naquele que nos fortalece (cf. Filpenses 4, 13-14).João Maria Vianney é fruto de uma família camponesa, humilde e fervorosa na oração, que tem por grande prazer ajudar os mais necessitados que aparecem em seu humilde lar. Ele viveu grande parte de sua vida, em um contexto histórico um tanto quanto delicado, visto que houve um período de mudanças muito rápidas no governo francês, passando de império, monarquia, república e novamente império. João Maria Vianney tem muitas dificuldades, principalmente no que se refere à educação escolar, aprendendo a escrever com dezessete anos de idade, ou seja, um pouco tarde, mas nada que o faça desanimar de seu sonho: ser padre. Com a chegada de Napoleão ao poder, se dá inicio à guerra e o jovem João é convocado, mas por problemas de saúde, e encorajado por um amigo a desertar do seu batalhão, foge para a aldeia de Nöes nas colinas de Forez. Esse ato causará a convocação de seu irmão, que nunca mais retornará para casa. João, de certa forma, não se lamenta pelo ocorrido, mas carregará este duro fardo por toda vida. Mas “abaixada a poeira” João retoma seus estudos eclesiásticos assessorado pelo pároco de Ècully, pois os estudos eram muito caros e o pai de João Maria Vianney não concordava muito com o sonho do filho.Mesmo assim, foi ordenado no dia 13 de agosto de 1815 e em 11 de fevereiro de 1818 é encarregado da pequena aldeia de Ars em Dombes e toma posse no dia 13. Ars torna-se paróquia da diocese de Belley em 1823.São João Maria Vianney foi um homem que procurou anunciar a grandeza do amor do bom Deus e o seu oceano infinito de misericórdia, o que vai acarretar em muitos romeiros que marcham para Ars, a fim de receber catequese, confissão e eucaristia. E aqui encontramos a explicação para João Maria Vianney também ser conhecido como o Cura D’Ars. Ars, que era uma aldeia muito pequena, foi o palco onde Vianney demonstrou-se como um grande pastor através da sua dedicação ao povo e a sua grande coerência de vida, modificando-a para sempre. Nos últimos anos de vida do Cura D’Ars, contam-se mais de cem mil peregrinos em busca dos santos conselhos deste magnífico homem.No dia 8 de janeiro de 1905, é beatificado pelo Papa Pio X, e em 31 de maio de 1925, Papa Pio XI o canoniza. E no dia 23 de abril de 1929, é declarado patrono de todos os párocos do universo.Vejamos agora o que nos diz o Cura D’Ars sobre os sacerdotes: “Tivessem vocês ai duzentos anjos, eles não poderiam absolvê-los. Um padre, por mais simples que seja, pode. Ele pode dizer a vocês: ‘Vão em paz, eu os perdôo’. Oh! Como o padre é algo de grande! Não se poderá compreender bem o padre, senão no céu... sê o compreendêssemos na terra, morreríamos, não de medo, mas de amor. O padre não é padre para si mesmo. Ele não dá a absolvição a si mesmo. Ele não se administra os sacramentos. Ele não existe para si mesmo, existe para vocês. O sacerdote é o amor do Coração de Jesus. Quando vocês virem um padre, pensem em Nosso Senhor”. Uma “figura” como João Maria Vianney, cheia de dificuldades, cheia de limitações, se mostrou um excelente pároco e tocou fundo os corações dos habitantes de Ars. A você, meu caro leitor, espero que tenha apreciado um pouco da história do Cura D’Ars e que ela te motive sempre mais a lutar pelos seus sonhos e torná-los realidade. Tudo isso sempre com a ação paternal do bom Deus, que fez maravilhas na vida de São João Maria Vianney e que, com a sua permissão, poderá fazer outras ainda maiores na sua vida!São João Maria Vianney! Rogai por nós, junto ao bom Deus!

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Ser Dehoniano

Além do eu...
por Josimar Baggio

“A paz deve ser a minha paz, numa relação que parte de um eu e vai para o Outro, no desejo e na bondade em que o eu ao mesmo tempo se mantém e existe sem egoísmo” (Emmanuel Lévinas)
A vocação à vida é a primeira de todas as vocações. É o chamado primeiro que Deus faz a todos os seres humanos como expressão do amor que Ele tem por cada um, individualmente. A vida é o Dom de Deus por excelência, donde brotam todos os outros dons deixados a nós. Por esta dádiva somos primeiramente chamados por Deus a bem viver...com tudo o que isso implica.
Nos tempos atuais, temos visto uma multidão de pessoas que dizem ter “perdido o sentido da vida”; a correria do mundo contemporâneo, o estresse, os ateísmos vigentes, as novas tecnologias e os “progressos” em geral parecem não ter preenchido muitas lacunas existenciais do ser humano. E este, ao que parece, nunca esteve tão solitário, mesmo estando em meio a multidões; tão fechado em si mesmo, ainda que existam tantas pessoas precisando de algum tipo de auxílio; e tão confuso, mesmo que “respostas” sobre as diversas questões surjam aos montes todos os dias. Parecemos ter perdido o “fio da meada”.
As pessoas foram sendo levadas pelo “vento” que vem do fechamento aos seus próprios desejos, ao egoísmo ético. Como se ele (o homem) bastasse a si mesmo, não precisando nem de Deus, que o criou; nem do irmão(a) que com ele convive diariamente.
Como se o ter e o fazer fossem anteriores aos valores do ser, do servir, do interagir.
Fato é que o “sentido da vida” tão buscado... não vem só. A auto-estima não cai do céu. É preciso dar um novo passo... e na atualidade, penso que o passo a ser dado é lançar-se em direção à outra pessoa; é libertar-se um pouco do próprio umbigo; é passar do sobreviver para o viver, o conviver e acima de tudo o amar. Por isso diz-se que o amor resume toda a lei.
Num mundo de tantos necessitados, não só de alimentos mas de amor, de atenção e de alguém que os possa escutar... creio que o chamado de Deus à vida nos impele a pensarmos no irmão. O sentido da vida se perde quando vivemos para nós mesmos e para os nossos interesses. Quando nos tornamos co-responsáveis também pela felicidade e pelo bem-estar da outra pessoa adquirimos um novo vigor. E os limites, as fraquezas e as contingências, tão presentes em nós... escondem-se por detrás da grande missão que é a de amar e de colocar-se à disposição de todas as pessoas que encontrarmos. E esse, sem dúvida, é um grande SENTDO para a vida de qualquer ser humano.

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Música

Dentro de casa - CD de padre André Luna, scj.
por Thairo Guimarães Mesquita

Ouvindo e refletindo sobre as canções desse novo CD, padre André Luna foi muito feliz em o compor. É de fato, na casa, na família que o céu começa. Que bom ter a minha família. Como diz Monsenhor Jair numa de suas homilias; “a família é a base da sociedade”, nela se faz a paz, no ouvir, no falar, e na arte de amar. “... é nas pequenas coisas que Deus fala”, no choro de uma criança, no gesto de pedir a benção, no gesto de abençoar, no sorriso do irmão, na partilha na hora do almoço, no pedir perdão e principalmente na família reunida pra rezar, e é a oração que edifica a família. O lar deve estar fundamentado naquele que ilumina as nossas vidas, o Deus do amor.
Se hoje família não vai bem é porque o alicerce, o fundamento, o Deus do amor que dá sentido ao viver, deixou de ser o centro do nosso amor. Deus foi deixado em segundo plano.
Cada um de nós é responsável se a Igreja doméstica não anda bem. Como diz uma canção de Pe. Zezinho: “Na família, a mentira não se dá com a verdade e a fidelidade sebe o peso da cruz, porque lá há amor, há renúncia e perdão, há também oração e o chefe é Jesus”.
É nas pequenas coisas que começa o céu para quem ama, e vai sendo espelho para a grande família que é a comunidade. Se não anda bem a Igreja doméstica, como diz a própria letra da música (faixa 1); “Ainda tem tempo de viver melhor. Que ama não perde tempo” e lembre que é nas pequenas coisas que Deus fala. “È no campo da vida que se esconde um tesouro, esse campo é minha família, meu ouro, meu céu. Minha paz, minha vida, meu lar.” Viva intensamente sua família enquanto a tem.
“Ainda tem tempo de viver melhor/ É nas pequenas coisas que Deus fala/ o pai que vê o filho crescer descobre o melhor da vida/ É dentro de casa que o céu começa/ nas pequenas coisas de quem ama/ e não perde tempo/ Quem ama não perde tempo.”


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Missão

UM CORAÇÃO PARA AMAR (II)
por José Lucio Gruber

“Seja amado por toda a parte o Sagrado Coração de Jesus”
Vocação é mais que um chamado de Deus a nós, também é nossa resposta a esse chamado.
Somos chamados por Deus à vida, mas também a transmiti-la a quem se aproxima de nós. Se Deus é amor, e, sendo criados a sua imagem e semelhança, nosso maior chamado é amar. Padre Dehon viveu profundamente esse amor aos irmãos e a Deus.
Assim nós também devemos doar nossa vida ao serviço dos irmãos, fazendo o bem em todo o lugar sem importar a quem. Mais que bons cristãos somos chamados a ser cristão bons, não fazendo tudo apenas por amos mas com amor, e assim construir o Reino dos Céus na Terra.

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Proseando

CHAMADOS PARA O AMOR
por Giorgio Sinestri

Estamos vivendo um mês muito especial para toda a Igreja, onde refletimos com mais intensidade sobre a diversidade de vocações e ministérios que o batismo nos apresenta. Vocações diferentes, mas que nos fazem iguais: todos somos chamados a fazer da oração e do trabalho uma verdadeira experiência do Cristo-servidor, vivendo em comunidade como sinal da presença do próprio Jesus e confirmando os sacramentos como a manifestação concreta de Deus na Igreja.
Gostaria de refletir, este mês, sob o olhar de Madre Tereza de Calcutá, mulher de coragem e exemplo de vocação concretizada. Madre Tereza testemunhou com sua vida que, acima das diferenças entre culturas e religiões há, em primeiro lugar, o homem, que precisa de amor e esperança. Mas o que quero destacar, refletindo sobre o mês vocacional, é o sentimento de abandono e solidão que ela sentiu no início de seu trabalho em Calcutá, na Índia. Ao começar sua missão, Madre Tereza deixou de sentir o consolo de Deus em sua vida, como se estivesse separado dele. A história se parece muito com a realidade atual do nosso mundo: violência, guerra, injustiças, corrupção, ganância, solidão ... estamos sufocados com tantos problemas e sinais de morte, e muitos de nós não sentimos mais a presença de Deus na vida. Porém, podemos aprender com Madre Tereza: diante das provações, descobriu que Deus purifica nossa alma e pede de nós uma união mais íntima ao seu coração.
A maior tristeza dos homens e mulheres é o sentir-se sozinhos e recusados, como foi a solidão de Jesus na cruz. Mas Jesus fez da cruz um gesto de amor gratuito, que não espera e não pede nada em troca.
Vamos acreditar no amor. Melhor: vamos testemunhar, praticando o amor, fazendo como Madre Tereza, que nunca demonstrou tristeza diante de sua luta e seu sofrimento espiritual, pois mesmo nos momentos de “escuridão interior”, ela sabia irradiar alegria. “Desejo consolar o Coração de Jesus mediante a alegria”, dizia.
Como dizia Padre Dehon, cuja morte lembramos no dia 12 de agosto, “todos os acontecimentos da vida nos levam a Deus”. De fato, quando fazemos da vida um constante caminhar junto do Coração de Cristo, sentimos que tudo revela o amor de Deus por cada um de nós. E se você pensa que o amor é prática somente dos santos, lembre-se que, no batismo, somos todos chamados à santidade.
Que a nossa vocação comum seja o amor. Sejamos santos!.

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