31 agosto 2006

Palavra da Igreja

FREI GALVÃO, O PRIMEIRO SANTO NASCIDO NO BRASIL

Com o reconhecimento de uma junta médica italiana de milagre atribuído à intercessão Frei Galvão (1739-1822), o religioso pode se tornar o primeiro santo nascido no Brasil. «Eu só posso dizer que foi aprovado o milagre. É um caso bonito. Vamos aguardar. Vocês vão ver que vai ser um caso muito bonito», afirmou essa quinta-feira Irmã Cláudia Hodecker, da Ordem da Imaculada Conceição, que trabalha no processo de canonização. Segundo a Irmã, agora é preciso que um grupo de teólogos, cardeais e o próprio Papa assinem ratificando a canonização. Essa resolução poderia levar três meses. A postuladora da causa de Frei Galvão é Irmã Célia Cadorin, a mesma responsável pelo processo que levou aos altares em 2002 Madre Paulina (1865-1942), que nasceu na Itália mas atuou no Brasil, cujo santuário se encontra em Nova Trento (Estado de Santa Catarina, sul do país). Frei Galvão nasceu em 1739 de uma família profundamente piedosa e conhecida pela sua grande caridade para com os pobres. Batizado com o nome de Antônio Galvão de França, depois de ter estudado com os Padres da Companhia de Jesus, na Bahia, entrou na Ordem dos Frades Menores em 1760; diz biografia difundida pela Santa Sé. Foi ordenado Sacerdote em 1762 e passou a completar os estudos teológicos no Convento de São Francisco, em São Paulo, onde viveu durante 60 anos, até à sua morte ocorrida a 23 de Dezembro de 1822. A vida de Frei Galvão foi marcada pela fidelidade à sua consagração como sacerdote e religioso franciscano, e por uma devoção particular e uma dedicação total à Imaculada Conceição, como «filho e escravo perpétuo». Além dos cargos que ocupou dentro da sua Ordem e na Ordem Terceira Franciscana, ele é conhecido sobretudo como fundador e guia do Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição, mais conhecido como «Mosteiro da Luz», do qual tiveram origem outros nove mosteiros. Além de Fundador, Frei Galvão foi também o projetista e construtor do Mosteiro que as Nações Unidas declararam Patrimônio cultural da humanidade. Enquanto ele ainda vivia, em 1798 o Senado de São Paulo definiu-o «homem da paz e da caridade», porque era conhecido e procurado por todos como conselheiro e confessor, além de o franciscano que aliviava e curava os doentes e os pobres, no silêncio da noite. Frei Galvão convida-nos a crescer em santidade e na devoção a Nossa Senhora da Conceição e deixa a todos nós brasileiros a grata mensagem de sermos pessoas da paz e da caridade, sobretudo para com os pobres e os marginalizados. O religioso foi beatificado pelo Papa João Paulo II no dia 25 de outubro de 1998. Em sua homilia na concelebração eucarística, o Papa disse que Frei Galvão «quis corresponder à própria consagração religiosa, dedicando-se com amor e devotamento aos aflitos, aos doentes e aos escravos da sua época no Brasil». «Sua fé genuinamente franciscana, evangelicamente vivida e apostolicamente gasta no serviço ao próximo, servirá de estímulo para o imitar como “homem da paz e da caridade”». Segundo João Paulo II, «a missão de fundar os Recolhimentos dedicados a Nossa Senhora e à Providência continua produzindo frutos surpreendentes: ardoroso adorador da Eucaristia, mestre e defensor da caridade evangélica, prudente conselheiro da vida espiritual de tantas almas e defensor dos pobres». «Que Maria Imaculada, de quem Frei Galvão se considerava «filho e perpétuo escravo», ilumine os corações dos fiéis e desperte a fome de Deus até à entrega ao serviço do Reino, mediante o próprio testemunho de vida autenticamente cristã», afirmou o Papa na beatificação.

Antônio Corrêa Galvão de França nasceu em 1739, em Guaratinguetá, Estado de São Paulo, e morreu em São Paulo, capital, no dia 23 de dezembro de 1822, aos 84 anos de idade.

© 2005-2006 - Casa Padre Dehon

Coração de Jesus

UMA FONTE BROTA DO CORAÇÃO
por Pe Francisco Sehnem scj

Para alicerçar a nossa devoção (culto e espiritualidade) do Coração de Cristo nada mais seguro do que reler tantos e tantos fundamentos que a Revelação Bíblica nos traz. Mas, parece útil acrescentar algumas citações dos Santos Padres para termos uma idéia de como esta espiritualidade bíblica se desenvolveu na Tradição cristã.
K. Richstätter, o grande especialista da devoção ao Coração de Jesus na Idade Média, escreveu: “Nos primeiros mil anos do cristianismo, a idéia do Sagrado Coração de Jesus era desconhecida”. Mas, houve muita reação a esta afirmação. Vários autores começaram a citar numerosos textos dos Santos Padres e, mais tarde, Hugo Rahner sistematizou este estudo, extraindo da teologia patrística três grandes temas:
Há um conjunto de textos que se referem a João 7,37-39. São textos que falam da água viva que nasce do lado de Cristo transpassado na cruz. Há uma fonte que brota do seu Coração.
Depois aparece uma tradição patrística sobre São João, o discípulo amado, que reclinou a sua cabeça sobre o peito do Senhor (Jo 13,23-25).
Finalmente, inúmeros textos patrísticos falam da origem da Igreja que nasce do Cristo transpassado na cruz (Jo 19,34).
Seria, ainda, interessante, pesquisar o que os Santos padres escreveram sobre o coração humano, de modo geral.
Há, realmente, uma riqueza enorme de textos. Nestes dias andei relendo alguns textos do trabalho do Jesuíta Francisco Xavier de Franciosi (Le Sacré-Coeur et la Tradition). Este homem se deu ao trabalho de percorrer todos os Santos Padres e transcrever todos os textos que poderiam dizer algo para a espiritualidade do Coração de Jesus. O livro foi editado em 1901, em Montreuil-sur-mer. São 480 páginas, de uma letra bem miudinha.
Já sabemos que o texto de Jo 7,37-39 apresenta um célebre problema de pontuação. A Vulgata (tradução da Bíblia em latim) familiarizou-nos com a leitura segundo a qual o coração do crente se transforma em fonte de água viva. “Se alguém tiver sede, venha a mim e beba. Aquele que crê em mim, como diz a Escritura, do seu seio (koilia) correrão rios de água viva”.
Hugo Rahner demonstrou que esta leitura tem sua origem nos escritos de Orígenes, e se transmitiu graças a muitos Padres gregos e latinos, especialmente Santo Ambrósio e Santo Agostinho, que influenciaram toda a tradição ocidental.
Fazendo uma pesquisa mais aprofundada, Rahner chegou a conclusão de que os Santos Padres gregos mais antigos gostavam de fazer uma outra leitura desta passagem. Nesta interpretação, o Coração do transpassado aparece claramente como a fonte da água viva, como a fonte do Espírito: “Se alguém tiver sede, venha a mim, e beba aquele que crê em mim. Como diz a escritura, do seu seio correrão rios de água viva”.
Rahner chama esta leitura mais antiga de ‘efesina’(de Éfeso) em oposição à leitura ‘alexandrina’(Alexandria) de Orígenes. Os representantes da leitura efesina são bem menos numerosos, mas Rahner lhe atribui uma autoridade muito grande e chega a pensar que esta seja realmente a leitura autêntica. É um texto realmente importante para o estudo bíblico e especialmente para a teologia do Coração de Jesus.
Um primeiro testemunho claro para a leitura efesina deste texto (Jo 7,37-39) é Hipólito de Roma, em seu comentário de Daniel 1,17. Hipólito recebeu esta interpretação de Santo Irineu, discípulo de S. Policarpo que , por sua vez, conheceu o Apóstolo João.
Irineu escreve: “Mas, o Espírito Santo está em nós, e Ele é aquela água viva que o Senhor oferece a todos os que nele crêem, como Ele manda” (Ad. Haereses, V, 18,2). E escreve, ainda, no mesmo livro: “A Igreja é a fonte da água viva que brota para nós do Coração de Cristo. Onde está a Igreja, ali está o Espírito de Deus, e onde está o Espírito de Deus, ali está a Igreja e toda a graça. Mas, o Espírito é verdade. Aquele que não participa deste Espírito, não receberá nenhum alimento nem vida no seio de nossa Igreja, nem pode beber da fonte cristalina que brota do Corpo de Cristo” (ibid. III 24,1).

© 2005-2006 - Casa Padre Dehon

Reflexão

O Novo Paradigma: a guerra infinita
por Leonardo Boff

O sociólogo frances Alain Tourraine que muito ama o Brasil e que adotou a América Latina como a pátria de seu coração sustenta em seu recente livro "Um novo paradigma:para entender do mundo de hoje"(Vozes 2006) uma tese intrigante que nos permite entender, de certa forma, a violência, na verdade, a guerra terrorista que está ocorrendo entre palestinos e israelenses no Líbano. A tese que propõe é que depois da queda do muro de Berlim e dos atentados de 11 de setembro de 2001 começou rapidamente uma desintegração das sociedades, dominadas pelo medo e impotentes diante do terrorismo. Estaríamos assistindo a passagem da lógica da sociedade para a lógica da guerra. A potência hegemônica, os EUA, decidiu resolver os problemas não mais por via diplomática e pelo diálogo, mas pela intervenção e pela guerra levada, se preciso for, a qualquer parte do mundo.Essa estratégia possui sua lógica. Inscreve-se dentro da atual dinâmica da globalização econômico-financeira. Esta não quer saber de qualquer controle ou regulação social e política. Exige campo aberto para fazer a guerra dos mercados. Separou totalmente economia de sociedade, vê os estados-nações como entraves, procura reduzir o estado, difamar a classe política e passar por cima de organismos de representação mundial como a ONU. Esta dissolução das fronteiras acarretou a fragmentação daquilo que constitui a sociedade. Pior ainda. Invalidou a base política e ética para o sonho de uma sociedade mundial, tão querida pelos altermundialistas, que cuidasse dos interesses coletivos da humanidade como um todo e que tivesse um mínimo de poder central para intervir nos conflitos e dinamizar os mecanismos da convivência, da paz e da preservação da vida.

Esta dessocialização é conseqüência da globalização econômico-financeira que encarna o capitalismo mais extremado com a cultura que o acompanha. Esta implica a segmentação da realidade, com a perda da visão do todo, a exacerbação da competitividade em detrimento da cooperação necessária, o império das grandes comportações privadas com pouquíssimo senso de responsabilidade sócio-ambiental e a exaltação do indivíduo alheio ao bem comum.

O mundo está em franco retrocesso. A atual sociedade não se explica mais, como queria a sociologia clássica, por fatores sociais, mas por forças impessoais e não sociais como o medo coletivo, o fundamentalismo, o terrorismo, a balcanização de vastas regiões da Terra e as guerras cada vez mais terroristas por vitimarem populações civis.

Este cenário mundial dramático explica por que nenhuma instância política mundial tem capacidade reconhecida e força moral suficiente para pôr fim ao conflito palestino-israelense que está transformando o Líbano numa ruína. Assistimos impotentes à tribulação da desolação do sem número de vítimas inocentes, de milhares de refugiados e da irracional destruição de toda a infra-estrutura de um pais que acaba de se reconstruir da guerra anterior. Isso é terrorismo.

Se, impotentes, não sabemos o que fazer, procuremos, pelo menos, entender a lógica desta violência. Ela é fruto de um tipo de mundo que nas últimas décadas decidimos construir baseado na pura exploração dos recursos da Terra, na produção e no consumo ilimitados, na falta de diálogo, tolerância e respeito pelas diferenças. Um mundo assim só pode nos levar à dessocialização e à guerra sem fim.
Fonte: Adital

© 2005-2006 - Casa Padre Dehon

Santo do Mês

4 de agosto - São João Maria Vianney
por Ricardo Valim

Também conhecido como Cura D’Ars, nasceu no dia 8 de maio de 1786 em Dardilly, ao norte de Lyon na França e faleceu no dia 4 de agosto de 1859.Homem de grande fé, humildade e exemplo de superação e santidade para todos nós, que por muitas vezes nos deixamos abater pelas dificuldades e problemas que nos são apresentados diariamente e nos esquecemos que tudo é possível naquele que nos fortalece (cf. Filpenses 4, 13-14).João Maria Vianney é fruto de uma família camponesa, humilde e fervorosa na oração, que tem por grande prazer ajudar os mais necessitados que aparecem em seu humilde lar. Ele viveu grande parte de sua vida, em um contexto histórico um tanto quanto delicado, visto que houve um período de mudanças muito rápidas no governo francês, passando de império, monarquia, república e novamente império. João Maria Vianney tem muitas dificuldades, principalmente no que se refere à educação escolar, aprendendo a escrever com dezessete anos de idade, ou seja, um pouco tarde, mas nada que o faça desanimar de seu sonho: ser padre. Com a chegada de Napoleão ao poder, se dá inicio à guerra e o jovem João é convocado, mas por problemas de saúde, e encorajado por um amigo a desertar do seu batalhão, foge para a aldeia de Nöes nas colinas de Forez. Esse ato causará a convocação de seu irmão, que nunca mais retornará para casa. João, de certa forma, não se lamenta pelo ocorrido, mas carregará este duro fardo por toda vida. Mas “abaixada a poeira” João retoma seus estudos eclesiásticos assessorado pelo pároco de Ècully, pois os estudos eram muito caros e o pai de João Maria Vianney não concordava muito com o sonho do filho.Mesmo assim, foi ordenado no dia 13 de agosto de 1815 e em 11 de fevereiro de 1818 é encarregado da pequena aldeia de Ars em Dombes e toma posse no dia 13. Ars torna-se paróquia da diocese de Belley em 1823.São João Maria Vianney foi um homem que procurou anunciar a grandeza do amor do bom Deus e o seu oceano infinito de misericórdia, o que vai acarretar em muitos romeiros que marcham para Ars, a fim de receber catequese, confissão e eucaristia. E aqui encontramos a explicação para João Maria Vianney também ser conhecido como o Cura D’Ars. Ars, que era uma aldeia muito pequena, foi o palco onde Vianney demonstrou-se como um grande pastor através da sua dedicação ao povo e a sua grande coerência de vida, modificando-a para sempre. Nos últimos anos de vida do Cura D’Ars, contam-se mais de cem mil peregrinos em busca dos santos conselhos deste magnífico homem.No dia 8 de janeiro de 1905, é beatificado pelo Papa Pio X, e em 31 de maio de 1925, Papa Pio XI o canoniza. E no dia 23 de abril de 1929, é declarado patrono de todos os párocos do universo.Vejamos agora o que nos diz o Cura D’Ars sobre os sacerdotes: “Tivessem vocês ai duzentos anjos, eles não poderiam absolvê-los. Um padre, por mais simples que seja, pode. Ele pode dizer a vocês: ‘Vão em paz, eu os perdôo’. Oh! Como o padre é algo de grande! Não se poderá compreender bem o padre, senão no céu... sê o compreendêssemos na terra, morreríamos, não de medo, mas de amor. O padre não é padre para si mesmo. Ele não dá a absolvição a si mesmo. Ele não se administra os sacramentos. Ele não existe para si mesmo, existe para vocês. O sacerdote é o amor do Coração de Jesus. Quando vocês virem um padre, pensem em Nosso Senhor”. Uma “figura” como João Maria Vianney, cheia de dificuldades, cheia de limitações, se mostrou um excelente pároco e tocou fundo os corações dos habitantes de Ars. A você, meu caro leitor, espero que tenha apreciado um pouco da história do Cura D’Ars e que ela te motive sempre mais a lutar pelos seus sonhos e torná-los realidade. Tudo isso sempre com a ação paternal do bom Deus, que fez maravilhas na vida de São João Maria Vianney e que, com a sua permissão, poderá fazer outras ainda maiores na sua vida!São João Maria Vianney! Rogai por nós, junto ao bom Deus!

© 2005-2006 - Casa Padre Dehon

Ser Dehoniano

Além do eu...
por Josimar Baggio

“A paz deve ser a minha paz, numa relação que parte de um eu e vai para o Outro, no desejo e na bondade em que o eu ao mesmo tempo se mantém e existe sem egoísmo” (Emmanuel Lévinas)
A vocação à vida é a primeira de todas as vocações. É o chamado primeiro que Deus faz a todos os seres humanos como expressão do amor que Ele tem por cada um, individualmente. A vida é o Dom de Deus por excelência, donde brotam todos os outros dons deixados a nós. Por esta dádiva somos primeiramente chamados por Deus a bem viver...com tudo o que isso implica.
Nos tempos atuais, temos visto uma multidão de pessoas que dizem ter “perdido o sentido da vida”; a correria do mundo contemporâneo, o estresse, os ateísmos vigentes, as novas tecnologias e os “progressos” em geral parecem não ter preenchido muitas lacunas existenciais do ser humano. E este, ao que parece, nunca esteve tão solitário, mesmo estando em meio a multidões; tão fechado em si mesmo, ainda que existam tantas pessoas precisando de algum tipo de auxílio; e tão confuso, mesmo que “respostas” sobre as diversas questões surjam aos montes todos os dias. Parecemos ter perdido o “fio da meada”.
As pessoas foram sendo levadas pelo “vento” que vem do fechamento aos seus próprios desejos, ao egoísmo ético. Como se ele (o homem) bastasse a si mesmo, não precisando nem de Deus, que o criou; nem do irmão(a) que com ele convive diariamente.
Como se o ter e o fazer fossem anteriores aos valores do ser, do servir, do interagir.
Fato é que o “sentido da vida” tão buscado... não vem só. A auto-estima não cai do céu. É preciso dar um novo passo... e na atualidade, penso que o passo a ser dado é lançar-se em direção à outra pessoa; é libertar-se um pouco do próprio umbigo; é passar do sobreviver para o viver, o conviver e acima de tudo o amar. Por isso diz-se que o amor resume toda a lei.
Num mundo de tantos necessitados, não só de alimentos mas de amor, de atenção e de alguém que os possa escutar... creio que o chamado de Deus à vida nos impele a pensarmos no irmão. O sentido da vida se perde quando vivemos para nós mesmos e para os nossos interesses. Quando nos tornamos co-responsáveis também pela felicidade e pelo bem-estar da outra pessoa adquirimos um novo vigor. E os limites, as fraquezas e as contingências, tão presentes em nós... escondem-se por detrás da grande missão que é a de amar e de colocar-se à disposição de todas as pessoas que encontrarmos. E esse, sem dúvida, é um grande SENTDO para a vida de qualquer ser humano.

© 2005-2006 - Casa Padre Dehon

Música

Dentro de casa - CD de padre André Luna, scj.
por Thairo Guimarães Mesquita

Ouvindo e refletindo sobre as canções desse novo CD, padre André Luna foi muito feliz em o compor. É de fato, na casa, na família que o céu começa. Que bom ter a minha família. Como diz Monsenhor Jair numa de suas homilias; “a família é a base da sociedade”, nela se faz a paz, no ouvir, no falar, e na arte de amar. “... é nas pequenas coisas que Deus fala”, no choro de uma criança, no gesto de pedir a benção, no gesto de abençoar, no sorriso do irmão, na partilha na hora do almoço, no pedir perdão e principalmente na família reunida pra rezar, e é a oração que edifica a família. O lar deve estar fundamentado naquele que ilumina as nossas vidas, o Deus do amor.
Se hoje família não vai bem é porque o alicerce, o fundamento, o Deus do amor que dá sentido ao viver, deixou de ser o centro do nosso amor. Deus foi deixado em segundo plano.
Cada um de nós é responsável se a Igreja doméstica não anda bem. Como diz uma canção de Pe. Zezinho: “Na família, a mentira não se dá com a verdade e a fidelidade sebe o peso da cruz, porque lá há amor, há renúncia e perdão, há também oração e o chefe é Jesus”.
É nas pequenas coisas que começa o céu para quem ama, e vai sendo espelho para a grande família que é a comunidade. Se não anda bem a Igreja doméstica, como diz a própria letra da música (faixa 1); “Ainda tem tempo de viver melhor. Que ama não perde tempo” e lembre que é nas pequenas coisas que Deus fala. “È no campo da vida que se esconde um tesouro, esse campo é minha família, meu ouro, meu céu. Minha paz, minha vida, meu lar.” Viva intensamente sua família enquanto a tem.
“Ainda tem tempo de viver melhor/ É nas pequenas coisas que Deus fala/ o pai que vê o filho crescer descobre o melhor da vida/ É dentro de casa que o céu começa/ nas pequenas coisas de quem ama/ e não perde tempo/ Quem ama não perde tempo.”


© 2005-2006 - Casa Padre Dehon

Missão

UM CORAÇÃO PARA AMAR (II)
por José Lucio Gruber

“Seja amado por toda a parte o Sagrado Coração de Jesus”
Vocação é mais que um chamado de Deus a nós, também é nossa resposta a esse chamado.
Somos chamados por Deus à vida, mas também a transmiti-la a quem se aproxima de nós. Se Deus é amor, e, sendo criados a sua imagem e semelhança, nosso maior chamado é amar. Padre Dehon viveu profundamente esse amor aos irmãos e a Deus.
Assim nós também devemos doar nossa vida ao serviço dos irmãos, fazendo o bem em todo o lugar sem importar a quem. Mais que bons cristãos somos chamados a ser cristão bons, não fazendo tudo apenas por amos mas com amor, e assim construir o Reino dos Céus na Terra.

© 2005-2006 - Casa Padre Dehon

Proseando

CHAMADOS PARA O AMOR
por Giorgio Sinestri

Estamos vivendo um mês muito especial para toda a Igreja, onde refletimos com mais intensidade sobre a diversidade de vocações e ministérios que o batismo nos apresenta. Vocações diferentes, mas que nos fazem iguais: todos somos chamados a fazer da oração e do trabalho uma verdadeira experiência do Cristo-servidor, vivendo em comunidade como sinal da presença do próprio Jesus e confirmando os sacramentos como a manifestação concreta de Deus na Igreja.
Gostaria de refletir, este mês, sob o olhar de Madre Tereza de Calcutá, mulher de coragem e exemplo de vocação concretizada. Madre Tereza testemunhou com sua vida que, acima das diferenças entre culturas e religiões há, em primeiro lugar, o homem, que precisa de amor e esperança. Mas o que quero destacar, refletindo sobre o mês vocacional, é o sentimento de abandono e solidão que ela sentiu no início de seu trabalho em Calcutá, na Índia. Ao começar sua missão, Madre Tereza deixou de sentir o consolo de Deus em sua vida, como se estivesse separado dele. A história se parece muito com a realidade atual do nosso mundo: violência, guerra, injustiças, corrupção, ganância, solidão ... estamos sufocados com tantos problemas e sinais de morte, e muitos de nós não sentimos mais a presença de Deus na vida. Porém, podemos aprender com Madre Tereza: diante das provações, descobriu que Deus purifica nossa alma e pede de nós uma união mais íntima ao seu coração.
A maior tristeza dos homens e mulheres é o sentir-se sozinhos e recusados, como foi a solidão de Jesus na cruz. Mas Jesus fez da cruz um gesto de amor gratuito, que não espera e não pede nada em troca.
Vamos acreditar no amor. Melhor: vamos testemunhar, praticando o amor, fazendo como Madre Tereza, que nunca demonstrou tristeza diante de sua luta e seu sofrimento espiritual, pois mesmo nos momentos de “escuridão interior”, ela sabia irradiar alegria. “Desejo consolar o Coração de Jesus mediante a alegria”, dizia.
Como dizia Padre Dehon, cuja morte lembramos no dia 12 de agosto, “todos os acontecimentos da vida nos levam a Deus”. De fato, quando fazemos da vida um constante caminhar junto do Coração de Cristo, sentimos que tudo revela o amor de Deus por cada um de nós. E se você pensa que o amor é prática somente dos santos, lembre-se que, no batismo, somos todos chamados à santidade.
Que a nossa vocação comum seja o amor. Sejamos santos!.

© 2005-2006 - Casa Padre Dehon

Espiritualidade Renovada

VOCAÇÃO
por Rogério Arruda Martins

Certa vez, conversando com um padre, em determinado momento – não me recordo o porquê – adentramos no assunto vocação. Foi uma partilha tão fecunda e eficaz que, desde então, experimento-a em minha vida. Neste mês, gostaria de partilhá-la com você.
Nós sabemos que vocação quer dizer chamado (vocare [latim] = chamar); e num sentido religioso, sabemos que quem chama é o Deus. E por se tratar do relacionamento (diálogo) entre Deus e o ser humano é um tema complexo. Diante de tamanha complexidade e de muitas dimensões, quais as implicações desse chamado? Quais são as dimensões que ele alcança? Todas elas! Tudo isso porque o ser humano busca a realização pessoal; e essa realização passa por todo o seu “ser”, sob todos os aspectos. Por exemplo: implica e passa por seu temperamento, sua personalidade, seus valores, suas escolhas e decisões, seu tempo, sua alma, seu corpo, seu espírito... Vejamos:
Como primeira dimensão, da vocação somos chamados a VIDA. Recebemos esse dom - esse presente - e somos chamados também a vivê-lo e cuidá-lo. Qualquer tipo de não-promoção à vida é um desvio desse chamado e até uma recusa a esse dom.
A segunda dimensão do chamado é a HUMANIDADE: Somos humanos; portanto, temos nossas peculiaridades próprias de nós mesmos. Ocorre que temos não só a alegria de sermos humanos, mas de sermos chamados à condição humana, ou seja, necessitamos viver bem toda nossa humanidade não só no que tange à limitação, mas também no que podemos ser em Deus. Que maravilha podermos acolher nossa condição de pessoas e viver nossa potencialidade em Deus – Ele que plenifica, por Seu Espírito, nossa humanidade.
Na terceira dimensão, temos aquilo que denominamos INTEGRIDADE. Quando nascemos, somos homem ou mulher. Somos chamados a viver bem numa integridade de homem e de mulher.
A quarta dimensão da vocação é o BATISMO. Neste sacramento, tornamo-nos membros de uma família de vida, filhos e seguidores do Deus da vida. E essa segunda dimensão se dá justamente aqui: somos todos chamados a vivermos como filhos de Deus, partilharmos de Sua presença em nossas vidas e acolhermos a família cristã como nossa. Ah, como temos a necessidade de viver bem esse chamamento!
Numa quinta dimensão, somos chamados ao SERVIÇO. Toda a nossa vida pode ser colocada a serviço de outros semelhantes e, sobretudo, a Deus – que identifica a última dimensão aqui partilhada. O ser humano, quando reconhece sua condição humana e vive-a bem, “não se cabe em si mesmo”, ou seja, transborda em alegria e quer comunicá-la a outros semelhantes, sobretudo àqueles que ainda não gozam de tal situação, seja por desconhecimento ou qualquer outra dificuldade.
O CAMINHO ou “PLANO DE AÇÃO” é a nossa sexta dimensão da vocação. É o que conhecemos por vocação específica (matrimonial, sacerdotal, religiosa, leigo consagrado...). É o “repouso” das outras dimensões acima citadas. Acolhendo e escolhendo bem esta última dimensão da vocação, você poderá viver bem sua vida, seu batismo, sua humanidade, sua integridade e seu serviço. Por isso a necessidade do discernimento, isso sem dizer da intimidade com o Deus.
Todas elas são intrínsecas uma a outra, isto é, interdependentes: é necessário que se busque a plenificação de todas essa dimensões – ainda que pareça distante...
Lembre-se, Deus te chama porque te ama; Te envia porque em ti confia. Então corra para os braços do Senhor Jesus, na sinceridade de coração e procure ouvir a voz Dele... e todo o seu ser se encontrará Nele.

© 2005-2006 - Casa Padre Dehon

29 agosto 2006

Revista Ir ao Povo e as Vocações


A edição de setembro já está pronta: "Tudo posso naquele que me fortalece" é a frase de capa. E a edição de agosto, com a capa "Vocações", o que você achou?
Deixe sua opinião!

25 agosto 2006

Nota contra a violência e em favor da Paz

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) repudia a espiral de violência vivida no País e está solidária com todos os que sofrem a cruel realidade do crime organizado, presente em vários Estados.

Faz-se necessária a busca imediata de solução por parte das autoridades em todos os níveis. A Igreja Católica no Brasil se compromete a colaborar nesse empenho, convidando também para isso toda a sociedade civil. Urge uma saída em que a força do direito supere o direito da força e a ordem institucional seja capaz de mediar os conflitos com critérios éticos.

A segurança é um direito humano do cidadão. Para os cristãos, a paz é um dom e uma conquista. Jesus nos diz: “Felizes os que promovem a paz porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9).

Entre as propostas que a sociedade vem elaborando nesta crise sem horizonte definido, queremos realçar:
- a superação da cultura da impunidade que produz revolta e injustiça desabonadoras para o Estado e a Sociedade, enfraquecendo suas instituições;
- a solução urgente para a superlotação nos presídios, que atenta contra os direitos humanos e é fonte de crises recorrentes. Nesse campo, é obrigação do Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário) proteger os direitos inerentes à dignidade humana, cuidando inclusive da assistência judiciária aos presos para o fiel cumprimento das leis de execução penal;
- a reforma dos órgãos de segurança, oferecendo melhores condições de serviço aos seus agentes, e a superação da mentalidade repressiva, geradora de violências.

O profeta Isaías adverte que “a verdadeira paz é obra da justiça" (Is 32,17).

Com esta certeza, precisamos arrancar pela raiz as causas que estão na origem da organização do crime, de seus intentos e métodos, como a relação promíscua entre público e privado e as redes de corrupção nos vários níveis. Precisamos ser mais solidários com os pobres, combatendo a miséria, a fome e a marginalização social, que os tornam presa fácil do mundo do crime.

Precisamos assumir com mais clareza e eficiência os valores éticos e espirituais, cuja perda causa enorme prejuízo para a sociedade. Jesus Cristo ensina o caminho para a construção da paz, fruto da justiça, do direito, do respeito pelos outros, do diálogo e do perdão mútuo.

Brasília – DF, 23 de agosto de 2006.

Cardeal Geraldo Majella Agnelo
Arcebispo de São Salvador da Bahia
Presidente da CNBB

Dom Antônio Celso de Queirós
Bispo de Catanduva-SP
Vice-Presidente da CNBB

Dom Odilo Pedro Scherer
Bispo Auxiliar de São Paulo
Secretário-Geral da CNBB

Fonte: Zenit

10 agosto 2006

Guerra no Líbano - uma reflexão

A violência continua

OS DISPAROS de mísseis contra a região sul de Beirute não cessaram, apesar do apelo das nações intercedendo pela paz. Nestes dias, em vez de cessar o fogo, estamos diante de uma operação de guerra.

O que está sucedendo no Líbano é de estarrecer. Difícil é explicar as lutas históricas e intermináveis na Terra Santa e nas regiões limítrofes. Não se trata de acusar ninguém, mas é obrigatório respeitar os direitos básicos da pessoa humana.

O bombardeio de Beirute continua atingindo muitos inocentes, destruindo quarteirões e obrigando a população a sair de suas casas. Os cidadãos de outros países, entre os quais os do Brasil, encontram-se em situação aflitiva, como acompanhamos pelos noticiários. Alguns não conseguiram ainda deixar o Líbano. Precisamos alimentar a fé e elevar as mãos ao Pai comum, pedindo ao Deus da paz que nos ensine a cessar com a violência fratricida.

Como é possível sobreviver no mundo da insegurança e do medo?Voltamo-nos para os organismos internacionais, embora enfraquecidos, para que consigam arbitrar questões desta gravidade. Como ajudar as crianças e jovens desses países vítimas da aflição e nascidos no ódio que se incute no coração, impedindo que se estabeleça um diálogo franco e justo?

A resposta é o recurso a Deus, para que supere o rancor e o ódio de nossos corações.As forças humanas mostram-se impotentes para vencer ressentimentos milenares. A esta situação de conflitos armados no Oriente Médio, temos que unir o drama das populações pobres do continente africano, onde perecem a cada dia milhares de seres humanos, vítimas das hostilidades tribais, doenças, endemias sem tratamento e carência quase absoluta de água, alimento e remédios. O mundo não pode esquecer a África tão sofrida.

O recurso a Deus envolve uma profunda conversão de valores em que os deveres para com próximo devem se tornar prioridade para todos. Impossível a paz num mundo de injustiças.

Não podemos assistir de longe, como espectadores, o padecimento atroz de bilhões de pessoas, que Deus nos ensina a amar como irmãos na partilha e no perdão.É possível um mundo diferente se abrirmos o coração ao mandamento do amor, que envolve todos os credos, raças e culturas no pleno respeito à diversidade da ação de Deus no coração humano.

Dom Luciano Mendes de Almeida

07 agosto 2006

Um pouco da edição de agosto...

Reportagem



A família é o fim
Mais do que em outras épocas, a família contemporânea precisa ser fortalecida e evangelizada. Na Igreja, existem muitos movimentos e serviços que atuam com esse objetivo.



Notas pastorais



Eis-me aqui, envia-me.
Para a Igreja, agosto é o mês vocacional. Nesse tempo, ela quer ajudar seus fiéis a descobrir e a viver sua vocação como chamado de Deus para seguir Jesus Cristo.



Liturgia e vida



A Transfiguração do Senhor
No dia 6 de agosto, a Igreja celebra a solenidade da Transfiguração do Senhor. Neste ano, por cair num domingo, essa festa merece uma atenção especial.



Pensando a fé



A aventura de ser amigo de Deus


Frei Osmar Cavaca explica o que é a graça. Ela tem várias categorias, mas é sempre a manifestação do amor de Deus por nós.



Ser humano



Agosto, mês do azar?
Para os supersticiosos, agosto é o mês do azar. Mas não fomos criados para o azar e ele não influirá em nossa vida, a não ser para quem deseja que seja assim.



Gente pequena



Chegou a hora da catequese
Dedeu e Pat vão entrar na catequese, começando a se preparar para receber a primeira Eucaristia. Esse é um momento importante na vida deles.



Nós, dehonianos



Os primeiros dehonianos no Nordeste brasileiro
Eles chegaram a Pernambuco em 1893. Vieram para atuar dentro de uma fábrica de tecidos. E estão no Nordeste até hoje, formando a Província Brasileira Setentrional.