29 setembro 2008

Ano Novo judaico


Ano 5.769 do calendário judaico começa dia 29 de setembro.

Para os judeus, é a época de 'acertar as contas' com o próximo.

Imagem: em quadro de Alphonse Lévy, homem toca o shofar, importante símbolo do Rosh Hashaná (Foto: Repordução/Creative Commons)


É dia de dizer Shana Tová, ou “bom ano”. Segundo o calendário judaico, entramos nesta segunda-feira (29) no ano 5.769. Para os judeus, é tempo de refletir e se arrepender dos pecados.“Na festa de Réveillon, geralmente se entra no ano novo com os pés, dançando e comemorando. No Rosh Hashaná (Ano Novo judaico, que comemora o dia em que Deus criou o mundo), entramos com a cabeça, ou seja, pensando”, compara Sergio Feldman, professor de História Antiga e Medieval da Universidade Federal do Espírito Santo, em entrevista ao G1. Portanto, em vez de pular sete ondinhas e brindar com champanhe, a comemoração do Rosh Hashaná é mais focada na introspecção e na reflexão. E cai na entrada do outono (no hemisfério norte) porque, segundo Feldman, “é o momento de encerrar as colheitas e prestar contas”. Os dez dias entre o Ano Novo e o Yom Kipur (Dia do Perdão) servem justamente para que cada um pondere suas ações. E o jejum, praticado neste dia, ajuda a elevar o espírito. No Rosh Hashaná, é preciso ter em vista três princípios: Tefilá (oração), Tsedaká (justiça e ajuste com o próximo) e Teshuvá (arrependimento sincero).

“É uma nova oportunidade para viver de acordo com a ética judaica e para o arrependimento sincero dos pecados”, diz Paulo Geiger, consultor do Centro de História e Cultura Judaica, destacando um detalhe importante: “a declaração de arrependimento deve ser feita ao próximo, e não a Deus. Porque Deus é magnânimo. A época é de ajuste do comportamento com os demais”.

Lunar
A contagem dos anos no judaísmo é feita pelo calendário lunar, daí a discrepância com o calendário gregoriano. O ano lunar tem 354 dias, portanto faltam 11 para os 365 contados normalmente. Para ajustar, se convencionou que alguns anos têm um mês a mais no calendário judaico. “É uma questão de convenção”, explica Geiger. “Houve muitos calendários, e o dos judeus é anterior ao utilizado hoje. E o último algarismo do ano (no caso, 9) é sempre igual ao último algarismo do ano em que vamos entrar (2009)”.
O primeiro mês do ano é chamado de Tishrei, palavra que remonta ao ano 536 a.C., quando Jerusalém foi destruída pelos babilônios e os judeus foram forçadamente exilados para a região mesopotâmia. Ali eles desenvolveram o calendário de 12 meses – que às vezes ganha um mês extra para o ajuste com o calendário tradicional.

Abrir os céus
Um dos símbolos mais importantes do Rosh Hashaná é o shofar, instrumento feito de chifre de carneiro que é tocado na data e remonta à época em que os judeus eram nômades. Segundo Geiger, o som do shofar “carrega boas intenções e abre os céus para que as preces entrem.” Um conto judaico diz que, certa vez, havia um menino muito pobre que, tentando imitar o som do shofar, assobiou para Deus. “No conto, o céu se abriu ao assobio do menino. Porque era um pedido sincero, que comoveu Deus”, explica o especialista.
Fonte: G1

26 setembro 2008

Nota da CNBB sobre doação de órgãos

Reunidos em Brasília nos dias 24 a 26 de setembro de 2008, nós – Bispos do Conselho Permanente da CNBB – desejamos esclarecer a posição da Igreja Católica a respeito da doação de órgãos de pessoas com morte encefálica comprovada. A questão tem sua relevância, dado o grande número de pessoas que estão à espera de algum tipo de órgão.

Recordamos antes de tudo a Palavra do Senhor, que diz: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10,45). Guiados pela luz do evangelho, vemos na doação voluntária de órgãos um gesto de amor fraterno em favor da vida e da saúde do próximo. É uma prova de solidariedade, grandeza de espírito e nobreza humana.

O magistério da Igreja tem se manifestado favorável à doação voluntária de órgãos. O Catecismo da Igreja Católica afirma: “a doação gratuita de órgãos após a morte é legítima e pode ser meritória” (n. 2301). A encíclica Evangelium Vitae ensina: “merece particular apreço a doação de órgãos feita segundo normas eticamente aceitáveis para oferecer possibilidades de saúde e de vida a doentes, por vezes já sem esperança” (n. 86). O Papa João Paulo II por ocasião do 18º Congresso Internacional sobre Transplantes de Órgãos, dizia: “A doação de órgãos é uma decisão livre de oferecer, sem recompensa, uma parte do próprio corpo em benefício da saúde e do bem-estar de outra pessoa”. (Roma 29 de agosto de 2000).

Manifestamos nossa solidariedade para com milhares de pessoas que estão em lista de espera, na expectativa de receber algum órgão para sua sobrevivência, recuperação e saúde. Encorajamos as pessoas e especialmente as famílias a que – livre, conscientemente e com a devida proteção legal – doem órgãos como gesto de amor solidário em consonância com o evangelho da vida. Certamente estamos diante de um gesto nobre e comovente: um sim à vida. Aproveitamos a ocasião também para recordar que a moral católica considera lícita não apenas a doação voluntária de órgãos, bem como os transplantes. Encorajamos a todos a colaborarem sempre mais com as doações de sangue e de medula óssea, tão necessárias.

No entanto, destacamos que a doação de órgãos exige rigorosa observância dos princípios éticos que proíbem a provocação da morte dos doadores, a comercialização e o tráfico de órgãos. Sejam conscienciosamente respeitadas a inviolabilidade da vida e a dignidade da pessoa. A ética determina, ainda, que o consentimento do doador ou de sua família seja livre e consciente, após ter recebido todas as informações requeridas.

A Lei Federal nº 10.211 de 23 de março de 2001, determina que a família tem o direito de decidir a doação de órgãos da pessoa em estado de morte encefálica; assim, aqueles que se dispõem à doação, devem manifestar previamente aos familiares a sua intenção. O Sistema Nacional de Transplantes é que decide sobre os critérios de destinação justa dos órgãos doados e sobre a organização das listas de espera, evitando e coibindo toda tentativa de comércio de órgãos.

A doação de órgãos não contraria à fé cristã na ressurreição final, pois “Deus dá vida aos mortos e chama à existência o que antes não existia” (Rm 4,17). Todos aqueles que se dispõem a doar órgãos aos irmãos, tenham a certeza de que o amor e tudo o que se faz por amor permanecerão para sempre: “o amor jamais acabará” (1Cor 13,8).

 

Brasília-DF, 25 de setembro de 2008

 

Dom Geraldo Lyrio Rocha
Arcebispo de Mariana
Presidente da CNBB

Dom Dimas Lara Barbosa
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro
Secretário-Geral da CNBB