30 abril 2006

TEMA DO MÊS


PÁSCOA: COMUNICAÇÃO, COMUNHÃO E COOPERAÇÃO
por Giorgio Sinestri

Todos sabemos o significado da Páscoa: lembra e celebra a ressurreição daquele que precisou morrer crucificado para nos garantir a felicidade. Cristo é o exemplo maior da vivência pascal, sendo Ele a própria Páscoa.

A mensagem deste ano do Papa Bento XVI para o Dia Mundial das Comunicações, que acontece dia 28 de maio, nos permite ver a Páscoa com os olhos da comunicação social: devemos propagar a Boa Nova do Cristo Vivo a todos e a todas, de forma corajosa, profética e desafiadora.

O desenvolvimento tecnológico no campo das comunicações é notável, porém não resolve todos os problemas. Como diz o papa, é preciso que sejam capazes de criar um espírito de colaboração e comunhão social.

"O chamado a ser fiéis à comunicação de Deus em Cristo é um chamado a reconhecer a sua força dinâmica dentro de nós, que depois se alarga aos outros, para que este amor se torne realmente a medida dominante do mundo", diz o papa na mensagem.

Acreditar na ressurreição de Cristo nos compromete a comunicar o amor de Deus às pessoas e torná-lo vivência.

Por isso, devemos defender os valores e a verdade nos meios de comunicação e fazer com que sejam, de fato, uma "rede capaz de facilitar a comunicação, a comunhão e a cooperação". Por formar e influenciar a cultura popular, os meios de comunicação devem promover a paz e a justiça, proporcionado espaço para o debate e possibilitando a formação de opinião.

Todos sabemos da importância dos meios de comunicação na vida da sociedade em geral e a sua influência nas famílias e na educação. Por isso, é importante lançar um olhar crítico e reflexivo.

Páscoa é, portanto, momento de comunhão e cooperação, e os meios de comunicação devem promover esta rede, "ajudando homens, mulheres e crianças a tornarem-se mais conscientes da dignidade da pessoa humana, mais responsáveis e mais abertos aos outros, sobretudo aos membros da sociedade mais necessitados".

ESPIRITUALIDADE DEHONIANA

ALELUIA!
por Rogerio Arruda Martins

“Cristo, nossa páscoa, foi imolado! Aleluia! Glória a Cristo Rei, Ressuscitado! Aleluia!” Aleluia!Louvai a Deus! Bendizei ao Senhor! Cantai ao Senhor! Enfim, alegrai-vos plenamente, pois o Senhor Jesus, o Cordeiro de Deus, foi imolado, derramou Seu Precioso Sangue, remiu-nos, ressuscitou e vive, dando-nos vitória sobre o pecado e a morte! “Por suas chagas fomos curados!” (cf. 1Pd 2,24b).

Esse é o momento, esse é o tempo próprio para o louvor a Deus. O maior acontecimento de nossa vida, Jesus o deu a nós: a redenção e a salvação.

E não é só isso, mas também o acesso ao Coração de Nosso Deus (cf. Mt 27,51 e Hb 9,1-10,21 à véu que se rasga no Templo). Esse é um dos sentidos mais sublimes da Páscoa: passagem da Antiga à Nova Aliança.

Tudo isso nos é comunicado pelo Espírito Santo. Sabemos que uma das “missões” do Espírito Santo é comunicar a obra de Redenção e Salvação realizada por Jesus (cf Jo 14,26; Jo 15,26; Jo 16,12-15). E que graça é esta comunicação!

Não sei se você já participou da Santa Missa em que a saudação do sacerdote foi assim: “Que a graça do Pai, o amor do Filho e a comunicação do Espírito Santo esteja convosco!” Em resposta a esta saudação, imediatamente dizemos:

“Bendito seja Deus que nos reuniu no Amor de Cristo!” É isso! Já é uma memória que o Espírito Santo nos traz à tona: uma verdade evangélica acontecendo naquele momento. É a atualização dos mistérios da Salvação, ou seja, o próprio Espírito Santo comunicando-nos, no hoje e para o hoje, esse mistérios.

A comunicação realizada pelo Espírito Santo é perfeita; precisamos pedir a Ele a compreensão e o entendimento do alto (dom de Deus) para que o bem comunicado produza efeitos mais eficazes a nós.

Temos buscado a eficácia? Se permitirmos, o Espírito Santo pode comunicar a nós a Graça; pode, também, comunicar-Se por nós (cf. Mt 10,20; Lc 12,12; Rm 8,26-27). Permitamos que isso ocorra e busquemos permanecer nessa benção!

Enfim, nossa contribuição à comunicação realizada e atualizada pelo Espírito Santo – em outras palavras, à evangelização – é, no mínimo, alegramo-nos pessoal e mutuamente, testemunhando a Alegria Verdadeira, que une o céu e a terra inteira, como fez Maria Madalena (cf. Jo 20,18) possibilitando o conhecimento de Jesus – fazendo comunicação.

Falando nisso, como vai nossa “oração-comunicativa” (“intimidade-comunicativa”) com nosso Deus?

MÚSICA CATÓLICA



CANTAR E EVANGELIZAR
por José Ronaldo de Castro Gouvêa

Cantar e evangelizar são duas funções que devem ser exercidas juntas, ou seja, unirmos o útil ao agradável.
Evangelizar, anunciar o Reino de Deus e a presença de Jesus Cristo Ressuscitado em nosso meio. Mas como evangelizar?
Dentre tantas formas, meios ou métodos usados para evangelizar, deparamo-nos com o cantar, forma esta muito útil para propagar o Anúncio do Reino. Através do canto realizamos um Evangelizar dinâmico: “O canto é sinal de alegria no coração”.

É preciso reconhecer o valor da música na formação religiosa, nas celebrações, missões... Cantar é Evangelizar. O canto exprime em nós uma suavidade na oração, uma unanimidade entre os orantes e, além do mais, dá uma maior solenidade às nossas celebrações.

Os apóstolos já exortavam os fiéis que se reuníssem esperando a vinda do Senhor, unindo suas vozes para cantar salmos, hinos e cânticos espirituais (Cf. Col. 3,16). Sendo assim, sabendo desta grande importância que a música tem em nossa liturgia cristã, usemos deste meio e vamos rumo à evangelização.
"Cantar é próprio de quem ama e quem canta reza duas vezes" (Santo Agostinho)

MISSÃO

PÁSCOA QUER DIZER "PASSAGEM"
por José Lucio Gruber

Analisemos um pouco da história para ver passagem de que, para que.

No livro do Êxodo que quer dizer “saída” o povo hebreu, povo escolhido, era escravo no Egito. O Egito era um estado pagão e seus ídolos eram muitos. Serviam para sustentar um estado em que seu soberano era um “escolhido pelos seus deuses”, o faraó. Quando Deus se manifesta a Moisés, que já havia demonstrado não aceitar a escravidão de seu povo, dá uma missão à ele de libertar o seu povo dessa sociedade que o “desumaniza” e que tem seus sistemas, como a religião, para sustentar a posição social de alguns privilegiados (faraós).

Deus manifesta seu poder, libertando seu povo da escravidão. “Passaram” da escravidão para a liberdade, assim como ao atravessarem o Mar Vermelho, a pé enxuto simbolizando essa “passagem” de um estilo de vida para outro.

Passaram “a pé enxuto”, em segurança de uma vida a outra, enquanto aqueles que queriam manter um regime opressor se “afogaram” no seu egoísmo, não “passaram” de um estilo de vida a outro.

Quando Jesus veio ao mundo, escolheu as pessoas simples, que eram oprimidas pelo estado (Roma) e pela religião, que estava nas mãos de sacerdotes, doutores da lei que a haviam desvirtuado, impondo ao povo inúmeros prescritos que eram obrigados a seguir.

Para não perderem seu “poder”, esses sacerdotes e escribas levaram Jesus para morrer. O mataram, mas Ele ressuscitou. “Passou” da morte para a vida, de algo "intranspossível" (morte), como o mar que estava à frente do povo no Êxodo.

Ao ressuscitar, apareceu às mulheres, que não eram valorizadas naquele tempo, Assim a religião verdadeira torna-se instrumento de libertação do povo, de sistemas que o “escravizam”.
Deus escolhe o povo, e sua salvação é para o povo, não para alguns privilegiados.

A nossa missão é lutar contra aquilo que oprime as pessoas e também despertar nas pessoas a luta pela valoração do povo, contra privilégios de poucos na sociedade.

Nos deparamos com muitos sistemas que oprimem, exploram e enganam o povo, a missão é profetizar contra isso, não de modo “agressivo”, mas despertar nas pessoas o bom senso de justiça, honestidade, valorização do ser humano, do amor fraterno.

PALAVRA DE PADRE

RELIGIÕES EM CONFLITO
Pe Zezinho scj

Aos que me pedem uma reflexão sobre o tema.


Irmãos de fé, os conflitos que explodem hoje na Europa, na Ásia, no Oriente Médio e na África, com milhares de manifestantes e centenas de mortos, são a triste conseqüência de séculos de doutrinação que denigre, exclui, ridiculariza e, na hora do ódio, elimina o outro crente.

O mundo sempre conheceu a violência nascida no púlpito e promovida nas ruas em nome da verdade única. O leitor de História Universal sentirá náuseas ao saber o que religiosos andaram fazendo uns contra os outros em nome da sua fé. Quando as diferenças passaram a ter mais importância do que as semelhanças entraram as armas, os cadafalsos e os canhões.


Uma leitura atenta da Bíblia e do Alcorão nos revela o eterno conflito entre a misericórdia e a vingança, a tolerância e a intolerância. O fiel que abre tais livros pode escolher entre as passagens que mandam matar e louvam o Senhor pelas mortes do ímpio, do inimigo, do infiel e as que mandam perdoar e louvam o Senhor pelo perdão dado e recebido. Teria Deus ensinado a odiar e a matar ou os seus profetas e porta-vozes leram errado as suas instruções?

Há toda uma cultura de ódio, separação, discriminação e vingança com raízes no clã, no nomadismo, na disputa por terra, na etnia e na política que a religião, além de não conseguir superar, algumas vezes sacramentou. Ou Deus foi mal citado, ou mal compreendido, ou abertamente manipulado por gente que se dizia porta-voz do Criador.
Não é que a América Latina esteja imune aos conflitos de crente contra crente que torturaram e torturam outras sociedades.


Seus contornos estão entre nós e começam a mostrar a sua garra quando um fiel quebra um símbolo da outra religião. Motivado por pregações irresponsáveis que garantem aos fiéis que eles são "eleitos, vitoriosos e vencedores" e que "sabem o que os outros não sabem", vai lá e achando-se um herói da fé, destrói um sinal da outra Igreja.
Vemos os contornos dessa violência futura, quando se ouve um pregador aos gritos, diante da Catedral dos Católicos a chamar os que passam de "filhos das trevas" ou de "criaturas" enquanto aquele grupinho que o ouve se classifica como "verdadeiros filhos de Deus e filhos da luz". Imagine quinhentos católicos fazendo o mesmo na escadaria do templo deles... Alguns anos dessa pregação impune e teremos, aqui também, os mesmos conflitos que hoje tanto nos horrorizam. Vai depender dos pregadores e dos seus púlpitos.


Preocupa-me o futuro quando vejo que alguns pregadores da fé nem sequer conseguem se cumprimentar ou tomar um café, juntos, embora seus templos fiquem a apenas cem metros um do outro. Não deixa de ser sintomático que dois pregadores, que se dizem cristãos e anunciam a mesma misericórdia passem anos pregando, a cem metros um do outro e nunca tenham tido a decência de se visitarem ou de comerem juntos um sanduíche.
Em nome de quem estão falando? Oséias 6,6 não tem sido levado a sério. Os cultos são maravilhosos e levam milhares de fiéis ao êxtase e ás lagrimas, mas lá fora, os mesmos fiéis mal conseguem sustentar cinco minutos de conversa sem falar ou dar a entender que eles acharam o que o outro não achou.
Esses dias, entrei numa livraria evangélica para conhecer as novas obras dos principais cantores evangélicos e pentecostais, já que muitos deles compram minhas canções e dizem que se inspiraram em meu trabalho.

Eu estava lá a menos de dois minutos quando uma fiel entoou um "glória a Deus" porque via que eu estava me tornando "Servo de Jesus". Tive vontade de lhe responder com João 15, 15 e lembrar-lhe que Jesus não tem servos e sim amigos e irmãos. Quem ensinou a esta mulher que um irmão que fraternalmente se interessa por ver as coisas boas deles, agora está vendo a luz? Quer dizer que não há nada de bom do nosso lado? O sol só brilha na livraria deles? Vejo os conflitos religiosos de agora e de sempre como conseqüência do púlpito. Se percebo dois fiéis a brigar na rua, parentes batendo boca, ou até agredindo-se por causa da sua religião, olho para um ponto mais alto. Imagino quem eles andaram ouvindo.

No dia em que a maioria dos pregadores de religião se entenderem e dialogarem sobre as suas diferenças, as chances de conflitos de fundo religioso serão mínimas. Infelizmente agora, os religiosos de coração ecumênico ainda são minoria. O jeito é continuar mostrando o que há de bonito na nossa e na religião dos outros. Se não soubermos fazer isso, nossa religião pode até ser maravilhosa, mas nós não. Seremos religiosos com pena de pato, que vivem na água, mas o corpo não se molha. São impermeáveis.

SER DEHONIANO

PROFETAS DO AMOR!
por Josimar Baggio

“Permanecem fé, esperança, amor, estas três coisas. A maior delas, porém, é o amor”. (1Cor 13,13)
“Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor”. (1Jo 4,8)
O amor é parte essencial da vocação do ser humano à vida, à vida cristã e à santidade. Diz a Palavra de Deus, que ainda que tenhamos dons variados e capacidades múltiplas, se não houver a caridade, o amor, de nada adianta. Mas nos vem um questionamento: o que é o amor, ou o que é amar? A resposta devemos buscar em todos os momentos da nossa vida. Precisamos aprender sempre mais sobre o amor e o melhor modo de amar a nós mesmos, a Deus e aos demais.

As Sagradas Escrituras dizem que “Deus é amor!” (1Jo 4,8). E desta maneira, o amor, entra no cerne, no mais profundo daquele que crê neste Senhor, e que o busca no seu modo de viver, no seu cotidiano, nas suas experiências pessoais. Por isso, Santa Terezinha do Menino Jesus, diz, por exemplo, que pequenas ações, pequenos gestos, quando praticados com amor, tornam-se grandiosos aos olhos de Deus, que é definido como o próprio amor.
De fato, o grande “modelo”, o grande “paradigma” de amor, e de amor verdadeiro em sua essência e concretização, brota do Senhor, que cria; que chama o ser humano à vida; envia seu próprio Filho Único, para morrer em expiação de nossos delitos contra este próprio Senhor; e ainda como herança nos credita, nos presenteia com o seu Santo Espírito que caminha conosco. Sim, é uma verdadeira história de amor, de Nosso Deus para conosco.

Jesus, vindo ao mundo, nos quis revelar este Deus-Amor, um Deus que se importa com cada ser humano com especial carinho e atenção. E o foco central da pregação de Nosso Senhor quando esteve entre nós foi o que depois se chamou de síntese da lei: “Amarás a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a ti mesmo”.
Sabemos que este amor, exige de nós esforços. O amor para com o senhor e para com os irmãos nos é um desafio a cada dia, e para cumprir a lei do amor, a lei que gera vida, precisamos renovar o nosso “sim” a este projeto sempre com mais constância e dedicação.
Para amar a Deus sobre todas as coisas é preciso escolher estar com Ele, escolher amá-Lo, fazer a opção pelo Senhor e levar à risca no dia-a-dia esta escolha.

E para levar à perfeição esta escolha é preciso relativizar todas as coisas Neste que deve ser o foco central da nossa atenção. Assim, os aspectos supérfluos, os aspectos momentâneos se tornarão também dispensáveis na nossa vida, pois teremos presente a noção do que é o essencial, e o essencial é amar ao Senhor e honrá-Lo não somente com os lábios, mas também com o proceder.
A segunda parte do grande mandamento do amor vem dizer que é preciso amar aos irmãos como amamos a nós mesmos. Aqui é importante ressaltar de que o mandamento deixa claro que é preciso haver um amor-próprio, uma auto-aceitação pessoal, pois se alguém não ama a si a si mesmo, não poderá amar também amar o irmão, a irmã que convive com este alguém. Depois, partindo desta experiência de amor ao Senhor, e da experiência do amor-próprio, chega-se ao amor aos irmãos.

Este passo, via de regra, vem espontaneamente após a pessoa ter caminhado pelos estágios precedentes.
Portanto, o amor aos irmãos, para que seja autêntico, deve necessariamente passar pelo amor a Deus e pelo amor-próprio, caso contrário pode-se cair em assistencialismos e filantropismos, que colocam a carroça na frente dos bois, e que não precisamente exprimem a essência deste “AMOR” de que falamos.
Nós, Dehonianos, Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, somos convidados e convocados pela nossa espiritualidade e pelas nossas constituições, a sermos Profetas do Amor, a sermos portadores deste amor que o Cristo veio nos trazer. Essa é uma das belas contribuições do nosso carisma à Igreja, levar um Deus-Amor, um Deus-Perdão, um Deus que se preocupa conosco.

É claro, para levarmos este amor, é preciso que provemos deste amor! E o fazemos não sós, mas juntos. Por isso vivemos em comunidade, experienciando o amor de Deus por nós e demonstrando o nosso amor a Ele; buscando ver em nós dons e talentos dados por Deus, como forma de valorização e amor-próprio; mas também e principalmente como ápice deste caminhar, experienciando o amor uns para com os outros, na alegria de estarmos juntos, unidos pó um ideal! “Deve-se poder dizer de nós: Vede como se amam!” (Pe. Dehon aos noviços, em 22/04/1881).
Por isso, meu irmão, minha irmã, eu ouso dizer que se você busca o amor de Deus e o experimenta nos relacionamentos, tanto consigo mesmo como com os irmãos, você também é um pouco Dehoniano, você é do Sagrado Coração de Jesus, você é parte da nossa família, você é um Profeta do Amor.

Que nesta caminhada ruma à meta de: “ser perfeitos como Nosso Pai o é”, possamos fazer de nossa vida um Ato de Amor, oferecendo tudo o que temos e somos a Aquele que é o amor, a quem tudo devemos, a quem em tudo nos confiamos.
JESUS MANSO E HUMILDE DE CORAÇÃO,FAZEI O NOSSO CORAÇÃO SEMELHANTE AO VOSSO!

CORAÇÃO DE JESUS

CULTO AO CORAÇÃO DE CRISTO NA IGREJA
por Pe. Francisco Sehnem scj

O culto ao Coração de Jesus exerceu profunda influência na vida da Igreja ao longo dos três últimos séculos. Seria errado, no entanto, pensarmos que a devoção ao Coração de Jesus tenha surgido apenas no século XVII, através de Margarida Maria. As revelações privadas, reconhecidas pela Igreja, devem ser entendidas como intervenções do Espírito Santo, no sentido de sensibilizar os cristãos para aspectos particulares da Revelação, ainda não (ou não mais), devidamente, vividos e valorizados. É, exatamente, o que depreendemos das palavras de Pio XII, na encíclica Haurietis Aquas, que “não se pode dizer que este culto deva a sua origem a revelações particulares, nem que apareceu de modo repentino na Igreja. As revelações de Margarida Maria nada trouxeram de novo à doutrina católica”.

Desde os inícios da Igreja, o amor de Cristo foi objeto da contemplação e da reflexão dos cristãos. Foi, também, a fonte do seu engajamento apostólico. Podemos afirmar que as origens do culto ao Coração de Jesus remontam aos primórdios do cristianismo, uma vez que tem na Sagrada Escritura a sua fonte principal.
Mas, devemos admitir que, somente a partir do século XII, começa a ser objeto de uma atenção toda especial. Alguns místicos, como Santo Anselmo (1109), São Bernardo de Claraval (1153) e seus discípulos começam a contemplar o Coração transpassado. Monjas recebem graças especiais do Coração de Cristo: Ludgarda (1246) e Ida (1300). As santas Matilde (1298) e Gertrudes (1302), duas irmãs de sangue parecem ter sido as primeiras a viver uma real devoção ao Coração de Jesus; criam exercícios e práticas que enriquecem a liturgia do mosteiro de Helfta, na Alemanha. Na mesma época, São Boaventura (1274) é o primeiro a fazer uma alusão explícita a esta devoção no seu livro “Vitis Mystica”.

Cem anos mais tarde, Santa Catarina de Sena (1381), é beneficiada por experiências místicas nas quais Cristo lhe oferece o amor do seu Coração.
No século XVI abre-se uma nova etapa. A devoção ao Coração de Jesus passa do plano místico ao ascético com o cartucho Landsberg (1539) que propaga as revelações de Gertrudes e com o beneditino Luiz de Blois (1566).
O século seguinte será determinante para a devoção ao Coração de Jesus. Começa a surgir uma preocupação: tornar mais compreensível e acessível aos leigos, ao povo, este caminho de perfeição cristã. Um dos responsáveis por este movimento é São Francisco de Sales (1622). Através do seu ‘livreto’, Introdução à vida devota, ele convida todos os cristãos a viver a mensagem evangélica do amor ‘alegremente, prontamente e cordialmente’. Ele viveu a devoção ao Coração de Cristo e a propôs a Santa Joana de Chantal e à Congregação que ele fundou com ela, a Ordem da Visitação Santa Maria.

A espiritualidade salesiana, unida à espiritualidade da Escola Francesa prepara o terreno para um impulso muito maior que a Devoção ao Coração de Jesus conhecerá no século XVII. E, através de Margarida Maria e do movimento de Paray-le-Monial, o culto ao Coração de Jesus penetra decisiva e definitivamente na esfera pública da Igreja e adquire as características que definiram, mais tarde, a sua particularidade.
Tentaremos, durante este ano, percorrer as várias etapas pelas quais passou este culto (devoção, espiritualidade) até o impulso decisivo do século XVII e conseqüente propagação no mundo cristão, salientando suas características fundamentais e a sua contribuição, ao longo dos séculos, para a vivência integral da mensagem cristã.

PALAVRA DO PAPA

MENSAGEM DE BENTO XVI PARA O DIA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES
(07 MAIO)

Caros irmãos e irmãs!

A celebração do próximo Dia Mundial de Oração pelas Vocações oferece-me a oportunidade para convidar todo o Povo de Deus para refletir sobre o tema da Vocação no mistério da Igreja. O apóstolo Paulo escreve: “Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo [...] Ele nos escolheu em Cristo antes de criar o mundo [...] Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por meio de Jesus Cristo” (Ef 1,3-5). Antes da criação do mundo e antes da nossa existência, o Pai do céu nos escolheu pessoalmente para nos chamar a entrar em relação filial com Ele, por meio de Jesus, Verbo feito carne, sob a guia do Espírito Santo. Morrendo por nós, Jesus inseriu-nos no mistério do amor do Pai, amor que totalmente o envolve e que Ele oferece a todos. Deste modo, unidos a Jesus como cabeça, formamos um só corpo, a Igreja.

O peso de dois milênios de história dificulta sentir a novidade do mistério fascinante da adoção divina, que se encontra no centro do ensinamento de São Paulo. O Apóstolo recorda que Deus Pai “nos fez conhecer o mistério da sua vontade [...], conforme decisão prévia que lhe aprouve para levar o tempo à sua plenitude” (Ef 1,9-10). E, acrescenta: “E nós sabemos que Deus coopera em tudo para o bem dos que o amam, daqueles que são chamados segundo o seu desígnio. Porque os que de antemão ele conheceu, esses predestinou a serem conformes à imagem do seu Filho, a fim de ser ele o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8, 28‑29). A perspectiva é realmente fascinante: somos chamados a viver como irmãos e irmãs de Jesus e a sentirmo-nos filhos e filhas do mesmo Pai. É um dom que inverte qualquer idéia e projeto exclusivamente humanos. A confissão da verdadeira fé escancara as mentes e os corações no inesgotável mistério de Deus que permeia a existência humana.

Que dizer então da tentação, muito forte nos nossos dias, de nos sentirmos auto-suficientes até o ponto de nos fecharmos ao plano misterioso de Deus a nosso respeito? O amor do Pai, que se revela na pessoa de Cristo, interpela-nos.
Para responder ao chamamento de Deus e pôr-se a caminho, não é necessário que sejamos já perfeitos. Sabemos que o reconhecimento do próprio pecado fez com que o filho pródigo retornasse e experimentasse a alegria da reconciliação com o Pai. A fragilidade e os limites humanos não são um obstáculo, mas contribuem para reconhecermos a necessidade da graça redentora de Cristo. Essa é a experiência de São Paulo que confessava: “Prefiro gloriar-me das minhas fraquezas, para que pouse sobre mim a força de Cristo” (2 Cor 12, 9). No mistério da Igreja, Corpo Místico de Cristo, o poder divino do amor muda o coração do homem, dando-lhe a capacidade de comunicar o amor de Deus aos irmãos.

Durante tantos séculos, muitos homens e mulheres, transformados pelo amor divino, consagraram a sua existência à causa do Reino.
Nas margens do mar da Galiléia, muitos deixaram-se conquistar por Jesus: procuravam a cura do corpo ou do espírito e foram tocados pelo poder de sua graça. Outros foram escolhidos pessoalmente por Ele mesmo e tornaram-se seus apóstolos. Encontramos também outras pessoas, como Maria Madalena e outras mulheres, que O seguiram de livre e espontânea vontade, simplesmente por amor e, do mesmo modo que o discípulo João, tiveram um lugar especial em seu coração. Esses homens e essas mulheres, que conheceram o mistério do amor do Pai através de Cristo, representam a multiplicidade das vocações que sempre existiram na Igreja.

Maria, Mãe de Jesus, diretamente associada, na sua peregrinação de fé, ao mistério da encarnação e da redenção, é o modelo daqueles que são chamados a testemunhar, de modo particular, o amor de Deus.
Em Cristo, Cabeça da Igreja, seu Corpo, todos os cristãos formam “uma raça eleita, um sacerdócio real, uma nação santa, o povo de sua particular propriedade, a fim de que proclameis as excelências daquele que nos chamou das trevas para a sua luz maravilhosa” (1 Pd 2, 9). A Igreja é santa mesmo se os seus membros necessitem de purificação para que a santidade, dom de Deus, possa resplandecer neles até ao seu pleno fulgor. O Concílio Vaticano II salienta o chamamento universal à santidade quando afirma que “os seguidores de Cristo, chamados por Deus não por merecimento próprio mas pela vontade e graça de Deus, são feitos, pelo Batismo da fé, verdadeiramente filhos de Deus e participantes da natureza divina e, por conseguinte, realmente santos (Lumen gentium, 40).

No quadro deste chamamento universal, Cristo, Sumo Sacerdote, na sua solicitude pela Igreja, chama, portanto, em cada geração, diversas pessoas para cuidar do seu povo. Em particular, chama ao ministério sacerdotal homens que exerçam uma função paterna, cuja fonte reside na mesma paternidade de Deus (cfr Ef 3,14). A missão do sacerdote na Igreja é insubstituível. Portanto, mesmo se, em certos lugares, há escassez de sacerdotes, não se deve ter menos certeza de que Cristo ainda continue a chamar homens, que como os Apóstolos, abandonando todas as outras tarefas, se dediquem totalmente à celebração dos santos mistérios, à pregação do Evangelho e ao ministério pastoral. A tal propósito, na exortação apostólica Pastores dabo vobis, o meu venerável predecessor, João Paulo II, escreveu: “A relação do sacerdote com Jesus Cristo e, n’Ele, com a sua Igreja situa-se no próprio ser do sacerdote, em virtude da sua consagração-unção sacramental, e no seu agir, isto é, na sua missão ou ministério.

Em particular, “o sacerdote ministro é servo de Cristo presente na Igreja mistério, comunhão e missão. Pelo fato de participar da “unção” e da “missão” de Cristo, ele pode prolongar na Igreja a oração, a palavra, o sacrifício e a ação salvífica do próprio Cristo. É, portanto, servidor da Igreja mistério porque realiza os sinais eclesiais e sacramentais da presença de Cristo ressuscitado” (n.16).
Outra vocação especial que ocupa um lugar de honra na Igreja é o chamamento à vida consagrada. Sob o exemplo de Maria de Betânia que “ficou sentada aos pés de Jesus, escutando-lhe a sua palavra” (Lc 10,39), muitos homens e muitas mulheres consagram-se a um seguimento total e exclusivo de Cristo. Embora estas pessoas desenvolvam vários serviços no campo da formação humana e no cuidado dos pobres, no ensino ou na assistência aos doentes, não julgam tais ações como o objetivo principal de sua vida.

De fato, o Código do Direito Canônico sublinha que “a contemplação das coisas divinas e a união assídua com Deus na oração seja o primeiro e o principal dever de todos os religiosos” (Can. 663, § 1). E, na exortação apostólica Vita consecrata, João Paulo II anotava: “Na tradição da Igreja, a profissão religiosa tem sido considerada como um singular e fecundo aprofundamento da consagração batismal, enquanto, através dela, essa íntima união com Cristo, inaugurada no Batismo, se desenvolve no dom da conformação, mais clara e explicitamente realizada, pela profissão dos conselhos evangélicos” (n. 30).
Relembrados da recomendação de Jesus: “A messe é grande, mas poucos são os operários! Orai para que o dono da messe mande operários à sua messe!”(Mt 9,37), advertimos vivamente para a necessidade de rezar pelas vocações ao sacerdócio e à vida consagrada.

Não surpreende que, onde se reza com fervor, as vocações florescem. A santidade da Igreja depende essencialmente da união com Cristo e da abertura ao mistério da graça que opera nos corações dos crentes. Gostaria, portanto, de convidar todos os fiéis a cultivar uma íntima relação com Cristo, Mestre e Pastor do seu povo, imitando Maria, que guardava no seu coração os divinos mistérios e os meditava assiduamente (cfr Lc 2,19). Juntamente com Ela, que tem um lugar central no mistério da Igreja, rezemos:

Ó Pai, fazei com que surjam, entre os cristãos, numerosas e santas vocações ao sacerdócio, que mantenham viva a fé e conservem a grata memória do vosso Filho Jesus pela pregação da sua palavra e pela administração dos sacramentos com os quais renovais continuamente os vossos fiéis. Dai-nos santos ministros do vosso altar, que sejam atentos e fervorosos guardiães da Eucaristia, o sacramento do supremo dom de Cristo para a redenção do mundo. Chamai ministros da vossa misericórdia, os quais, através do sacramento da Reconciliação, difundam a alegria do vosso perdão. Fazei, ó Pai, que a Igreja acolha com alegria as numerosas inspirações do Espírito do vosso Filho e, dóceis aos seus ensinamentos, cuide das vocações ao ministério sacerdotal e à vida consagrada. Ajudai os Bispos, os sacerdotes, os diáconos, as pessoas consagradas e todos os batizados em Cristo para que cumpram fielmente a sua missão no serviço do Evangelho. Nós Vos pedimos por Cristo, nosso Senhor. Amém. Maria, Rainha dos Apóstolos, rogai por nós.

Cidade do Vaticano, 5 de março de 2006
Papa Bento XVI