31 maio 2006
TEMA DO MÊS
VINDE E VEDE! ELE ESTÁ NO MEIO DE NÓS
15º Congresso Eucarístico Nacional
Vivemos numa época em que as pessoas expressam, sem nenhum receio, sua sede de Deus. O pluralismo religioso interage com outras características próprias de nosso tempo, como o individualismo, o mercantilismo, o consumismo, o hedonismo. Surgem (ou ressurgem) as mais diversas expressões religiosas, com marca esotérica, gnóstica ou fundamentalista. A religião está no mercado. Há religiões para o agrado de todos. Cada pessoa pode escolher a religião que quer. Pode até criar, com a fusão de elementos de uma e de outra expressão religiosa, a própria religião. Pode transitar entre uma e outra religião.
Embora a religião esteja na mídia e no mercado, as pessoas não conseguem alcançar sua felicidade. O mundo permanece dominado pela violência, pela exclusão, pela miséria e pela fome, pela angústia e pela ausência de sentido. Embora a sede de Deus e o retorno ao sagrado caracterizem nossa época, as igrejas cristãs tradicionais e, em nosso caso, a Igreja Católica, não conseguem fascinar as grandes multidões ansiosas pelo encontro com Deus. O peso que se dá aos elementos doutrinais, canônicos e institucionais, não é, freqüentemente, acompanhado pela apresentação da boa-notícia do amor de Deus-Pai, da salvação em Jesus Cristo e da presença estimulante do Espírito Santo. Em muitos de nossos discursos, de nossas celebrações, de nossas pastorais, há carência de mística. Somente pelo encontro místico, afetivo e existencial com Deus, as pessoas saciarão sua sede de absoluto e satisfarão sua fome de amor. Temos em nossa Igreja todas as condições para isso. Contamos com a presença permanente do Senhor em nosso meio.
A Eucaristia: fonte e ápice das presenças do Senhor em nosso meio
O Cristo ressuscitado, vivo e vitorioso, está presente em nosso meio de muitos e diversos modos. A Sagrada Escritura atesta essa multiforme presença, que responde à instigante pergunta: Por que crer em alguém que viveu há tanto tempo atrás? A resposta se encontra no segredo do nosso coração e de nossas comunidades. O cristianismo vive da certeza de que o seu Senhor permanece para sempre junto de seus seguidores. Trata-se de uma presença que dá força, energia e coragem para suportar todas as adversidades. Ao final de sua vida, Jesus prometeu aos apóstolos que permaneceria com eles: “eu estarei convosco sempre, até o fim do mundo” (Mt 28,20). Mas, onde encontrar essa presença? Não se trata de uma presença física, que se possa comprovar com os sentidos corporais da visão, da audição e do tato, que se possa demonstrar cientificamente com as provas da evidência. Trata-se de uma presença que se pode sentir e verificar com os sentidos da fé, do coração. Trata-se de fazer a experiência do encontro com ele. Só através desta experiência, a humanidade saciará sua sede e fome de Deus.
A mais real das presenças do Senhor em meio a nós é sua presença na Eucaristia, onde ele quis dar-se e entregar-se na forma de sacramento: “Tomai, comei, isto é o meu corpo (...) Bebei todos, porque este é o meu sangue da aliança” (Mt 26,26.28). No pão repartido e no sangue partilhado, reconhecemos Jesus que se deu e se entregou por nós na cruz. Na partilha do pão, entre nós e com os necessitados, vivemos em união com ele.
Pela entrega de seu corpo e pelo derramamento de seu sangue na cruz, evento histórico que celebramos na Eucaristia, o encontro com Cristo em sua presença sacramental na Eucaristia se torna ápice e fonte de toda a vida cristã (SC 10) e de todas as outras presenças do Senhor em nosso meio.
Com efeito, a Eucaristia é fonte e ápice da presença do Senhor em sua Igreja, na assembléia reunida. Ele disse: “Onde há dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu, no meio deles” (Mt 18,20). Jesus se faz presente no meio de nós, quando nos reunimos para a celebração eucarística, para a oração, para a vida de comunhão fraterna, para a correção fraterna, para a partilha das alegrias e sofrimentos, quando nos reunimos em seu nome. Nos grupos de reflexão, nas comunidades de base, nos encontros de oração, nas celebrações eucarísticas, aí está ele!
A Eucaristia é fonte e ápice da presença do Senhor na Palavra anunciada e vivida. Ele disse: “Céu e terra passarão, minhas palavras não passarão” (Mt 24,35). Ele nos garante que sua palavra permanece para sempre e será cumprida. Ele é “a Palavra (que) se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). A Palavra que se fez ser humano, voltou para o seio do Pai; mas permanece entre nós, toda vez que a lemos e ouvimos, sobretudo quando a pomos em prática.
Para que a Igreja fosse um povo sempre convocado para viver uma só fé, esperança e amor, para celebrar a Eucaristia e para anunciar sua Palavra, Jesus garantiu sua presença nos pastores, pessoas que lideram a caminhada dos fiéis. A Eucaristia é fonte e ápice da presença do Senhor nas lideranças de sua Igreja. Ao enviar os apóstolos em missão, ele disse: “Quem vos recebe e escuta, a mim recebe e escuta; quem me recebe, recebe aquele que me enviou” (Mt 10,40; Lc 10,16). E, numa fórmula de admoestação: “Quem vos despreza, despreza a mim; quem me despreza, despreza aquele que me enviou” (Lc 10,16). Nossos pastores são sucessores dos apóstolos; neles é representado hoje, para nós, o Cristo Mestre e Profeta.
A Eucaristia é fonte e ápice da presença do Senhor na pessoa de cada próximo. A Eucaristia nos conduz a perceber e amar sua presença também nos irmãos e irmãs, sobretudo no rosto dos mais necessitados. Pois ele também disse: “O que fizestes a estes meus irmãos menores, a mim o fizestes”. E, repreendendo: “O que não fizestes a um destes mais pequenos, não o fizestes a mim” (Mt 25, 40.45). Jesus, que será nosso juiz no final dos tempos, se faz nosso próximo, presente nos necessitados, se faz irmão dos pobres, faz dos pobres nossos juízes, com ele e como ele, no julgamento final.
Então, como o próprio Senhor Jesus respondeu aos discípulos que perguntavam por sua morada, nós responderemos àqueles que perguntam pela razão de nossa fé, pelo sentido de nossa espiritualidade: “Vinde e vede!” (Jo 1,39). A quem, explícita ou implicitamente, perguntar onde é que nós fixamos nossa morada, onde armamos a tenda de nossa existência, responderemos: “Vinde e vede!”
PROSEANDO
EUCARISTIA - EXPRESSÃO DE DEUS-AMOR
por Giorgio Sinestri
Neste mês de maio acontece em Florianópolis o 15º Congresso Eucarístico Nacional - momento para voltar mais intensamente nosso olhar para o Cristo Eucarístico. O que isso significa? Que acreditamos, como Igreja, num Deus que é amor.
Tornando-se humano, na pessoa de Jesus, Deus manifestou seu amor através do exemplo da doação e da entrega completa no pão e no vinho, como um novo maná (Jo 6,31-35). Aquele que nasceu numa manjedoura, sendo Rei, local onde os animais se alimentam, se fez assim alimento de vida para toda a humanidade.
A Eucaristia é o Cristo se partilhando como vida. Isso é lindo e também nos compromete. Como diz o Papa Bento XVI na sua encíclica Deus é amor, "a mística do sacramento tem um caráter social, porque, na comunhão sacramental eu fico unido ao Senhor como todos os demais comungantes (...) e a união com Cristo é, ao mesmo, união com todos os outros, aos quais Ele se entrega." (cf I Cor 10,17)
Viver a Eucaristia é, portanto, viver em comunidade, experienciando o verdadeiro amor, que se manifesta em três pessoas distintas e na mais perfeita unidade. Um verdadeiro convite para vivermos com os outros. No mistério da Eucaristia "está contido o ser amado e o amr, por sua vez, os outros", nas palavras do nosso papa.
Muito mais do que por palavras, a Eucaristia só é realmente compreendida quando age a fé. Não há sentido no Cristo Eucarístico quando não se permite acreditar. Houve a doação de Jesus, houve o partir do pão, e há um amor que nos ama. Acredite nisso.
SER DEHONIANO
EUCARISTIA: CONVITE, CERTEZA E VIVÊNCIA!
por Josimar Baggio
Nosso Deus quer estar junto de nós! O desejo de Deus é que estar perto de nós, e que também nós estejamos perto Dele. O amor que Deus tem pra conosco impele à uma proximidade, Deus quer caminhar conosco e quer que caminhemos com Ele, quer que estejamos próximos a Ele.
Ao fazer-se pão, o Senhor Jesus, na última ceia manifestou claramente a vontade de estar sempre presente na nossa vida, por isso fez-se eucaristia que é a grande riqueza e da Igreja e de todos os que crêem.
A presença da eucaristia em nosso meio nos remete primeiramente a um convite e a uma certeza:
O convite que nos é feito é o de fazermos a experiência com o Senhor, precisamos conhecê-lo de modo particular, pois não podemos amar algo que não conhecemos, o convite é, portanto: “Vinde e vede” (Jô 1,39). É primordial que façamos o esforço de nos aproximarmos também do Senhor, pois Ele quer estar perto de nós.
Dentro deste convite temos a Adoração Eucarística, como um meio eficaz para que nos aproximemos da presença viva deste Senhor. Não é à toa que a Adoração Eucarística é fundamento da espiritualidade dehoniana, como fonte e força da missão a ser realizada. A ele deve-se dar importância e apreço, pois o Senhor nos convida a estarmos com Ele.
A certeza é de que não estamos sós, o Senhor mesmo está conosco, “Ele está no meio de nós!” Esta presença viva deve nos animar e nos impulsionar a caminharmos, pois estamos com o Senhor, e mesmo que as tendências atuais nos façam pensar que o caminhar é sem sentido, descobriremos que o sentido só se faz ao reconhecermos o Senhor e com Ele construirmos a nossa história. Portanto, a presença da eucaristia nos deve fortalecer a viver a vida de comunidade no amor a Deus e aos irmãos.
Dentro deste contexto, de convite e de certeza, somos chamados também à vivência desta eucaristia, à vivência da nossa missão, missão esta que parte da eucaristia e nela tem a sua origem. Como diz João Paulo II: “A Igreja vive da Santa Eucaristia”. E a vivência desta eucaristia implica em escolhas que gerem vida para nós e para os nossos irmãos.
É lançado o desafio: Aceitar o convite de Nosso Senhor e nos aproximar Dele; Sermos impelidos de esperanças e de alegria, pois o Senhor está conosco; E assim, revestidos desta experiência com o Senhor e encorajados pela sua presença em nosso meio, assumir com dignidade aquele que é o sentido último da Santa Eucaristia, a Vivência do Amor!
Que o Senhor nos ajude e nos abençoe, e que possamos também ser eucaristia para todos os que encontrarmos; Sendo um convite para que eles se aproximem do Senhor; Ânimo e esperança como reflexo da presença do Senhor e exemplo de acolhida, de fraternidade e de caridade para com os irmãos, como vivência disto que é o sentido da eucaristia.
por Josimar Baggio
Nosso Deus quer estar junto de nós! O desejo de Deus é que estar perto de nós, e que também nós estejamos perto Dele. O amor que Deus tem pra conosco impele à uma proximidade, Deus quer caminhar conosco e quer que caminhemos com Ele, quer que estejamos próximos a Ele.
Ao fazer-se pão, o Senhor Jesus, na última ceia manifestou claramente a vontade de estar sempre presente na nossa vida, por isso fez-se eucaristia que é a grande riqueza e da Igreja e de todos os que crêem.
A presença da eucaristia em nosso meio nos remete primeiramente a um convite e a uma certeza:
O convite que nos é feito é o de fazermos a experiência com o Senhor, precisamos conhecê-lo de modo particular, pois não podemos amar algo que não conhecemos, o convite é, portanto: “Vinde e vede” (Jô 1,39). É primordial que façamos o esforço de nos aproximarmos também do Senhor, pois Ele quer estar perto de nós.
Dentro deste convite temos a Adoração Eucarística, como um meio eficaz para que nos aproximemos da presença viva deste Senhor. Não é à toa que a Adoração Eucarística é fundamento da espiritualidade dehoniana, como fonte e força da missão a ser realizada. A ele deve-se dar importância e apreço, pois o Senhor nos convida a estarmos com Ele.
A certeza é de que não estamos sós, o Senhor mesmo está conosco, “Ele está no meio de nós!” Esta presença viva deve nos animar e nos impulsionar a caminharmos, pois estamos com o Senhor, e mesmo que as tendências atuais nos façam pensar que o caminhar é sem sentido, descobriremos que o sentido só se faz ao reconhecermos o Senhor e com Ele construirmos a nossa história. Portanto, a presença da eucaristia nos deve fortalecer a viver a vida de comunidade no amor a Deus e aos irmãos.
Dentro deste contexto, de convite e de certeza, somos chamados também à vivência desta eucaristia, à vivência da nossa missão, missão esta que parte da eucaristia e nela tem a sua origem. Como diz João Paulo II: “A Igreja vive da Santa Eucaristia”. E a vivência desta eucaristia implica em escolhas que gerem vida para nós e para os nossos irmãos.
É lançado o desafio: Aceitar o convite de Nosso Senhor e nos aproximar Dele; Sermos impelidos de esperanças e de alegria, pois o Senhor está conosco; E assim, revestidos desta experiência com o Senhor e encorajados pela sua presença em nosso meio, assumir com dignidade aquele que é o sentido último da Santa Eucaristia, a Vivência do Amor!
Que o Senhor nos ajude e nos abençoe, e que possamos também ser eucaristia para todos os que encontrarmos; Sendo um convite para que eles se aproximem do Senhor; Ânimo e esperança como reflexo da presença do Senhor e exemplo de acolhida, de fraternidade e de caridade para com os irmãos, como vivência disto que é o sentido da eucaristia.
MISSÃO
EUCARISTIA - FONTE E FORÇA DA MISSÃO
por José Lucio Gruber
Seja amado por toda a parte o Sagrado Coração de Jesus.
"Jesus é o enviado do Pai. Desde o início de seu ministério chamou a si os que quis e dentre eles escolheu doze para estarem com ele e para enviá-los a pregar". (Mc 3,13-14) A partir daquela hora eles tornaram-se os seus enviados (é o que significa a palavra grega "apóstolo" - cf CIC 858)
Pede então a Igreja, sucessora dos doze apóstolos escolhidos por Cristo, a continuar a missão do Cristo.
Na parábola da videira, Jesus deixa claro que o filho não pode fazer nada por si mesmo (Jo 5,19-30). Assim sendo, precisa estar em comunhão com o Pai para realizar sua missão. Nós também somos iguais, como igreja missionária e somos, nos apóstolos, enviados por Cristo para anunciar a Boa Nova entre os homens, mas sem Ele também não podemos fazer nada. Precisamos entrar em comunhão com o Cristo para anunciar o grande amor de Deus para com a humanidade.
Cristo se faz presente na Eucaristia. Ela é fonte de toda a missão, nos dá força para realizá-la, porque o Cristo vivo se faz presente em nós, transformando-nos e preenchendo-nos. Como sacrários vivos, devemos deixar transbordar esse amor derramado em nossos corações nesse sacramento tão sublime.
A lição que o Bom Alimento (Eucaristia) nos dá é a própria entrega de Cristo em favor dos outros, como o trigo e a uva que deixam-se transformar em pão e vinho e pela ação do Espírito Santo se transformam novamente no Corpo e Sangue, alimentos do espírito. Do mesmo modo, entregando nossas vidas a Deus e deixando que a Eucaristia nos transforme em "novos Cristos", para que fomentemos a vida plena no mundo. Seremos verdadeiramente imagem e semelhança de Deus e poderemos dizer como São Paulo: "não sou eu mais que vivo, mas Cristo que vive em mim".
A CRUZ DEHONIANA
NOSSO SÍMBOLO
Símbolo da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus (Dehonianos), a cruz dehoniana expressa a espiritualidade deixada por Pe Dehon: o amor e a reparação.
Caso você conheça nosso padres, irmãos e seminaristas, já os deve ter visto trazendo esta cruz no peito. A mesma cruz tem servido de motivo para painéis, capas de revistas, cartazes vocacionais. Tudo isso porque essa cruz tem um significado muito grande para nós dehonianos.
A cruz, por si só, é símbolo da entrega de Cristo por nós. O amor, visivelmente expresso também no símbolo do coração, é a presença viva de Cristo Ressuscitado na Eucaristia, entendida como atitude de proximidade adorável. O Coração de Cristo se dá e se revela plenamente sobre a cruz, entregando-se como oferta vitimal para a libertação e a salvação dos pecadores, uma entrega de amor sem medida, oblativo, oferta da vida para que tivéssemos mais vida. Na cruz, vemos o Coração de Deus, um Deus que ama tanto a humanidade a ponto de dar sua vida. É isso que queremos dizer com a cruz dehoniana.
Ao dizer "coração' subentendem-se as atitudes interiores imutáveis, que projetam o rosto de Deus no rosto de Cristo, unindo, pelo dom da graça e pelo esforço da imitação, a nossa configuração às atitudes de Cristo. O Coração de Jesus, símbolo profundamente evocativo, leva-nos ao centro de nossa fé: Deus, que é amor. Um amor que se revela e se doa no amor redentor de Cristo, oferecendo e suscitando, em quem acolhe, uma vida nova na caridade, uma vida que se torna possível pelo dom do coração novo.
Observe um detalhe: é um coração vazado: não está desenhado sobre a cruz. A cruz aparece como uma forma. É justamente nisso que encontramos um outro grande significado de nossa cruz. Uma vez que ela tem a configuração de uma forma, nada mais simples de entender que cada um deve colocar ali seu coração. É por isso que somos religiosos do Coração de Jesus. Devemos ter um coração igual ao d’Ele. Igual no jeito de tratar as pessoas, no amor pelas coisas do Pai e pelo Reino. E, acima de tudo, igual em Sua doação total, quando se entregou na cruz.
Claro que esta cruz não serve somente para nós, é de toda a Igreja e de todos os cristãos. Nós, dehonianos, nos identificamos nela. Mas você também pode identificar-se e usá-la. Existem muitos jovens, leigos e leigas que a levam em toda parte. Tanto se identificaram como o nosso modo de ser e de viver que se tornaram leigos e leigas dehonianos. Mas sobre isso falaremos outro dia.
Como você vê, entre nós é assim. Trazemos no peito uma cruz em forma de coração. É para nunca esquecer que devemos modelar nosso coração no Coração do Mestre.
Símbolo da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus (Dehonianos), a cruz dehoniana expressa a espiritualidade deixada por Pe Dehon: o amor e a reparação.
Caso você conheça nosso padres, irmãos e seminaristas, já os deve ter visto trazendo esta cruz no peito. A mesma cruz tem servido de motivo para painéis, capas de revistas, cartazes vocacionais. Tudo isso porque essa cruz tem um significado muito grande para nós dehonianos.
A cruz, por si só, é símbolo da entrega de Cristo por nós. O amor, visivelmente expresso também no símbolo do coração, é a presença viva de Cristo Ressuscitado na Eucaristia, entendida como atitude de proximidade adorável. O Coração de Cristo se dá e se revela plenamente sobre a cruz, entregando-se como oferta vitimal para a libertação e a salvação dos pecadores, uma entrega de amor sem medida, oblativo, oferta da vida para que tivéssemos mais vida. Na cruz, vemos o Coração de Deus, um Deus que ama tanto a humanidade a ponto de dar sua vida. É isso que queremos dizer com a cruz dehoniana.
Ao dizer "coração' subentendem-se as atitudes interiores imutáveis, que projetam o rosto de Deus no rosto de Cristo, unindo, pelo dom da graça e pelo esforço da imitação, a nossa configuração às atitudes de Cristo. O Coração de Jesus, símbolo profundamente evocativo, leva-nos ao centro de nossa fé: Deus, que é amor. Um amor que se revela e se doa no amor redentor de Cristo, oferecendo e suscitando, em quem acolhe, uma vida nova na caridade, uma vida que se torna possível pelo dom do coração novo.
Observe um detalhe: é um coração vazado: não está desenhado sobre a cruz. A cruz aparece como uma forma. É justamente nisso que encontramos um outro grande significado de nossa cruz. Uma vez que ela tem a configuração de uma forma, nada mais simples de entender que cada um deve colocar ali seu coração. É por isso que somos religiosos do Coração de Jesus. Devemos ter um coração igual ao d’Ele. Igual no jeito de tratar as pessoas, no amor pelas coisas do Pai e pelo Reino. E, acima de tudo, igual em Sua doação total, quando se entregou na cruz.
Claro que esta cruz não serve somente para nós, é de toda a Igreja e de todos os cristãos. Nós, dehonianos, nos identificamos nela. Mas você também pode identificar-se e usá-la. Existem muitos jovens, leigos e leigas que a levam em toda parte. Tanto se identificaram como o nosso modo de ser e de viver que se tornaram leigos e leigas dehonianos. Mas sobre isso falaremos outro dia.
Como você vê, entre nós é assim. Trazemos no peito uma cruz em forma de coração. É para nunca esquecer que devemos modelar nosso coração no Coração do Mestre.
NOSSAS CASAS
Seminário São José - Rio Negrinho
Viagens vocacionais
A comunidade do Seminário São José, de Rio Negrinho, decidiu visitar todas as famílias e comunidades de origem de seus seminaristas. São dois os objetivos: Contato com a realidade familiar de nossos seminaristas e o despertar vocacional em outros adolescentes e jovens.
No dias 25 e 26 de março, o Pe. Tarcísio Darrós Feldhaus, o Fr. Elinton Costa e 08 seminaristas visitaram a paróquia São José, de Botuverá, donde temos 03 seminaristas (Willian Dalségio, Michel Rezini e Airton José Maestri), além do Fr. Elinton e do Ir. Afonso Pedrini.Celebramos missa na Matriz e na comunidade de Águas Negras. Fomos bem acolhidos pelo pároco, Pe. Ari Erthal, pelo Serviço de Animação Vocacional paroquial, pelos familiares de nossos vocacionados e pela comunidade em geral. Embora a torrencial chuva impediu que toda a comunidade se fizesse presente às celebrações, cremos que nossa presença foi oportuna e provacante, vocacionalmente.
Aproveitamos para visitar as famosas cavernas de Botuverá com o ingresso patrocinado pela Prefeitura da Cidade.
O nosso muito obrigado ao Pe. Ari e seus paroquianos pelo apoio que dão às vocações.
Dado à visita que o Fr. Jaime Thomas recebeu de seus pais, residentes em Boa Vista do Buricá, RS, novamente o Fr. Elinton acompanhou o Pe. Tarcísio e mais 06 seminaristas à segunda viagem vocacional do ano, nos dias 29 e 30 de abril e 1º de maio rumo ao meio oeste catarinense e sudoeste paranaense.
No sábado visitamos a família do seminarista Luiz Carlos Sabadin, em Rio das Antas, após percorrermos 298 km. Chegamos pelas 11 horas e fomos acolhidos com grande alegria pelos familiares do "Caio". Antes do almoço, rezamos pelas vocações. Três outros garotos da comunidade desejam fazer o estágio para ingressar em nosso seminário no próximo ano.
Ás 15 horas partimos rumo ao município de União do Oeste, onde fomos acolhidos pela família do seminarista Gustavo Sehnen. O relógio havia acusado 20 horas há algum tempo. No domingo, às 09 horas, celebramos a missa na capela da cidade de 3,7 mil habitantes, cuja paróquia que tem sede na cidade visinha de Coronel Freitas, atendida por franciscanos. A cidade conta, há 01 ano, com a presença de 03 Irmãs Lurdinas, que atendem também outros dois pequenos municípios que não têm padres residentes. Como em Rio das Antas, aqui predomina a presença de gaúchos de origem italiana (gringos).
Ás 14 horas partimos para o sudoeste paranaense, mais precisamente para Pranchita, limítrofe da vila de San Antonio, Província de Missiones, Argentina. E a viagem tornou-se internacional: atravessamos a fronteira para aproveitar o preço da gasolina R$ 1,49. Fomos acolhidos pela família do seminarista Fábio Cavalli com alegria incontida. Concebramos a missa no dia de São José Operário com o Capuchinho Frei Mario, que nos permitiu fazer a homilia, na qual, como em União do Oeste, os seminaristas deram seu testemunho vocacional. Um jovem manifestou desejo de fazer estágio para entrar em nosso seminário.
Após a missa, fomos visitar a família do Vanderlei, seminarista que morreu afogado no rio em Corupá, no ano passado. Embora a tristeza da recordação da morte do Vanderlei, a família ficou muito contente com nossa visita. O pai, Sr. Ananias, deu um belo testemunho cristão de confiança em Deus, convidando os seminaristas a perseverarem na sua vocação. Demos a cada um deles uma cruz dehoniana. Com alegria nos presentearam com alguns quilos de feijão que haviam colhido no sábado. Encerramos nossa breve visita, rezando de mãos dados uma Pai Nosso e uma Ave Maria. Dada a Bênção para a Família, visitamos o túmulo, onde também rezamos e percorremos os 20 km que nos afastavam da cidade. Almoçamos na casa dos pais do noviço Serginho, que está em Jaraguá do Sul juntamente com familiares do Fabinho, como é chamado por todos e iniciamos o retorno. Antes, cruzamos a fronteira para aproveitar o preço da "nafta" que custou-nos R$1,60. Motivo: acabara o combustível do posto concorrente.
Espertinhos!!!
Nesta segunda viagem, percorremos cerca de 1.500 km. Fomos bem acolhidos por onde passamos. Insistiram para que voltássemos. Cumprimos nossos objetivos de presença junto às famílias e de "despertar vocacional". Registre-se ainda que a viagem, além do enriqueciemto cultural, tem favorecido um melhor relacionamento entre os seminaristas.
Valeu ... e vale a pena!
Nossa próxima viagem será para Vidal Ramos, nos dias três e quatro de junho, donde são oriundos dois seminaristas. Até breve, padres Mário e Valério!
Pe. Tarcísio e Fr. Elinton.
PALAVRA DE PADRE
A BELEZA E A SIMPLICIDADE
Pe Fábio de Melo, scj
Tudo o que é belo tende a ser simples. Afirmação generalizante? Não sei. O que sei é que a beleza anda de braços dados com a simplicidade. Basta observar a lógica silenciosa que prevalece nos jardins. Vida que se ocupa de ser só o que é. Não há conflito nas bromélias, não há angústia nas rosas, nem ansiedades nos jasmins. Cumprem o destino de florirem ao seu tempo e de se despedirem do viço quando é chegada a hora. São simples.
Não querem outra coisa, senão a necessidade de cada instante. Não há desperdício de forças, não há dispersão de energias. Tudo concorre para a realização do instante. Acolhem a chuva que chega e dela extraem o essencial. Recebem o sol e o vento, e morrem ao seu tempo.
Simplicidade é um conceito que nos remete ao estado mais puro da realidade. A semente é simples porque não se perde na tentativa de ser outra coisa. É o que é. Não desperdiça seu tempo querendo ser flor antes da hora. Cumpre o ritual de existir, compreendendo-se em cada etapa.
Já dizia o poeta: “Simplicidade é querer uma coisa só”. Eu concordo com ele. O muito querer nos deixa complexos demais. Queremos muito ao mesmo tempo, e então nos perdemos no emaranhado dos desejos. Há o risco de que não fiquemos com nada, de que percamos tudo.
Aquele que muito quer corre o risco de nada ter, porque o empenho e o cuidado é que faz a realidade permanecer. O simples anda leve. Carrega menos bagagem quando viaja, e por isso reserva suas energias para apreciar a paisagem. O que viaja pesado corre o risco de gastar suas energias no transporte das malas. Fica preso, não pode andar pelo aeroporto, fica privado de atravessar a rua e se transforma num constante vigilante do que trouxe.
A simplicidade é uma forma de leveza. Nas relações humanas ela faz a diferença. O que cultiva a simplicidade tem a facilidade de tornar leve o ambiente em que vive. Não cria confusão por pouca coisa; não coloca sua atenção no que é acidental, mas prende os olhos naquilo que verdadeiramente vale à pena.
Pessoas simples são aquelas que se encantam com as coisas menores. Sabem sorrir diante de presentes simbólicos e sem muito valor material. A simplicidade lhe capacita para perceber que nem tudo precisa ter utilidade. E por isso é fácil presentear o simples.
Dar presentes aos complicados é um desafio. Não sabemos o que eles gostam, porque só na simplicidade é possível conhecer alguém. Só depois que as máscaras caem pelo chão e que os papéis são abandonados a gente tem a possibilidade de descobrir o outro na sua verdade.
Eu gostaria de me livrar de meus pesos. Queria ser mais leve, mais simples. Querer uma coisa só de cada vez. Abandonar os inúmeros projetos futuros que me cegam para a necessidade do momento. Projetos futuros valem à pena, desde que sejam simples, concretos e aplicáveis. Não gostaria que a morte me surpreendesse sem que eu tivesse alcançado a simplicidade. Até para morrer os simples têm mais facilidade. Sentem que chegou a hora, se entregam ao último suspiro e se vão.
Tenho uma intuição de que quando eu simplificar a minha vida, a felicidade chegará em minha casa, quando eu menos esperar.
Pe Fábio de Melo, scj
Tudo o que é belo tende a ser simples. Afirmação generalizante? Não sei. O que sei é que a beleza anda de braços dados com a simplicidade. Basta observar a lógica silenciosa que prevalece nos jardins. Vida que se ocupa de ser só o que é. Não há conflito nas bromélias, não há angústia nas rosas, nem ansiedades nos jasmins. Cumprem o destino de florirem ao seu tempo e de se despedirem do viço quando é chegada a hora. São simples.
Não querem outra coisa, senão a necessidade de cada instante. Não há desperdício de forças, não há dispersão de energias. Tudo concorre para a realização do instante. Acolhem a chuva que chega e dela extraem o essencial. Recebem o sol e o vento, e morrem ao seu tempo.
Simplicidade é um conceito que nos remete ao estado mais puro da realidade. A semente é simples porque não se perde na tentativa de ser outra coisa. É o que é. Não desperdiça seu tempo querendo ser flor antes da hora. Cumpre o ritual de existir, compreendendo-se em cada etapa.
Já dizia o poeta: “Simplicidade é querer uma coisa só”. Eu concordo com ele. O muito querer nos deixa complexos demais. Queremos muito ao mesmo tempo, e então nos perdemos no emaranhado dos desejos. Há o risco de que não fiquemos com nada, de que percamos tudo.
Aquele que muito quer corre o risco de nada ter, porque o empenho e o cuidado é que faz a realidade permanecer. O simples anda leve. Carrega menos bagagem quando viaja, e por isso reserva suas energias para apreciar a paisagem. O que viaja pesado corre o risco de gastar suas energias no transporte das malas. Fica preso, não pode andar pelo aeroporto, fica privado de atravessar a rua e se transforma num constante vigilante do que trouxe.
A simplicidade é uma forma de leveza. Nas relações humanas ela faz a diferença. O que cultiva a simplicidade tem a facilidade de tornar leve o ambiente em que vive. Não cria confusão por pouca coisa; não coloca sua atenção no que é acidental, mas prende os olhos naquilo que verdadeiramente vale à pena.
Pessoas simples são aquelas que se encantam com as coisas menores. Sabem sorrir diante de presentes simbólicos e sem muito valor material. A simplicidade lhe capacita para perceber que nem tudo precisa ter utilidade. E por isso é fácil presentear o simples.
Dar presentes aos complicados é um desafio. Não sabemos o que eles gostam, porque só na simplicidade é possível conhecer alguém. Só depois que as máscaras caem pelo chão e que os papéis são abandonados a gente tem a possibilidade de descobrir o outro na sua verdade.
Eu gostaria de me livrar de meus pesos. Queria ser mais leve, mais simples. Querer uma coisa só de cada vez. Abandonar os inúmeros projetos futuros que me cegam para a necessidade do momento. Projetos futuros valem à pena, desde que sejam simples, concretos e aplicáveis. Não gostaria que a morte me surpreendesse sem que eu tivesse alcançado a simplicidade. Até para morrer os simples têm mais facilidade. Sentem que chegou a hora, se entregam ao último suspiro e se vão.
Tenho uma intuição de que quando eu simplificar a minha vida, a felicidade chegará em minha casa, quando eu menos esperar.
CORAÇÃO DE JESUS
O CULTO À HUMANIDADE DE CRISTO
por Pe Francisco Sehnem scj
No primeiro milênio não podemos falar ainda de culto ao ‘Coração de Cristo’ propriamente dito. Todavia ele já está subjacente, embora de modo implícito, no culto à humanidade de Cristo e, em particular, às chagas de Cristo. “Na verdade – refere Pio XII – nunca faltaram homens votados a Deus, que a exemplo da Mãe de Deus, dos Apóstolos e dos insignes Pastores da Igreja, prestaram culto de adoração, ação de graças e amor à humanidade santíssima de Cristo e, sobretudo, às suas sagradas chagas”( H.A).
A atenção fixou-se, depois, na ‘chaga do lado’, passando a venerar-se, sob o símbolo do Coração transpassado, o amor incondicional de Cristo pelo gênero humano (cf. H.A).
Dentro deste contexto, podemos afirmar que o episódio da transfixão (Jo 19,34), unido ao tema da água viva (Jo 7,33-39), constitui pela sua riqueza bíblico-teológica, a fonte primordial deste culto. Aliás, a exegese de João 7,33-39, centro de divergências insuperáveis, mesmo em nossos dias, influenciou decisivamente a sua evolução posterior. São apresentadas duas hipóteses de pontuação para esta perícope, cada qual com larga aceitação entre exegetas e teólogos.
A - “Se alguém tem sede, venha a mim e beba. O que crê em mim, como diz a Escritura, do seu seio correrão rios de água viva”.
B - “Se alguém tem sede venha a mim e beba o que crê em mim. Como diz a Escritura, do seu seio correrão rios de água viva”.
A interpretação A desenvolve o aspecto subjetivo e pessoal. A interpretação B, por sua vez, está ligado ao aspecto objetivo e histórico, encontrando a sua fonte no texto de Jo 19,34: o sinal da transfixão.
No primeiro caso, o brotar das águas vivas tem sua origem no coração, no interior do crente. Nós somos aqueles que crêem no Senhor e bebemos da fonte que é Cristo e nos transformamos em fonte para os outros. No segundo caso, as águas brotam do interior de Cristo.
O culto ao Coração de Cristo, intimamente ligado a estas duas expressões bíblicas, desenvolve-se deste modo em duas perspectivas:
a) Do ponto de vista subjetivo e pessoal engloba a interioridade de Cristo, cuja unidade e raiz é o amor. Tudo isto é simbolizado pelo seu Coração transpassado na cruz. Esta perspectiva é seguida pelos Santos Padres da Escola de Alexandria. Caracterizará o culto ao Coração de Jesus, sobretudo, a partir do século XII (com os místicos).
b) Do ponto de vista objetivo e histórico, segundo a interpretação B, o Coração transpassado, jorrando sangue e água, é a fonte de todos os bens messiânicos em ordem à salvação: a Igreja, os Sacramentos, ou seja, a plenitude da graça redentora. Esta perspectiva tem sua origem na tradição efésio-joanina (Èfeso, São João).
Toda a evolução histórico-doutrinal do culto ao Coração de Jesus, a partir destas duas perspectivas, dará maior importância ora ao coração como centro interior da pessoa de Cristo, Verbo Encarnado, ora ao conjunto das graças que brotam do seu lado transpassado. Da síntese destas duas perspectivas resulta o verdadeiro conteúdo do culto ao Coração de Jesus.
Ao longo deste primeiro milênio, marcado pelos escritos dos Santos Padres, acentua-se particularmente, o aspecto objetivo e histórico, ou seja, o conceito da fonte inesgotável da graça que brota do Coração transpassado de Cristo. Segundo este modo de pensar, a época patrística possui uma verdadeira teologia do Coração de Jesus e podemos afirmar que constitui um elemento essencial no conjunto do pensamento da patrística.
por Pe Francisco Sehnem scj
No primeiro milênio não podemos falar ainda de culto ao ‘Coração de Cristo’ propriamente dito. Todavia ele já está subjacente, embora de modo implícito, no culto à humanidade de Cristo e, em particular, às chagas de Cristo. “Na verdade – refere Pio XII – nunca faltaram homens votados a Deus, que a exemplo da Mãe de Deus, dos Apóstolos e dos insignes Pastores da Igreja, prestaram culto de adoração, ação de graças e amor à humanidade santíssima de Cristo e, sobretudo, às suas sagradas chagas”( H.A).
A atenção fixou-se, depois, na ‘chaga do lado’, passando a venerar-se, sob o símbolo do Coração transpassado, o amor incondicional de Cristo pelo gênero humano (cf. H.A).
Dentro deste contexto, podemos afirmar que o episódio da transfixão (Jo 19,34), unido ao tema da água viva (Jo 7,33-39), constitui pela sua riqueza bíblico-teológica, a fonte primordial deste culto. Aliás, a exegese de João 7,33-39, centro de divergências insuperáveis, mesmo em nossos dias, influenciou decisivamente a sua evolução posterior. São apresentadas duas hipóteses de pontuação para esta perícope, cada qual com larga aceitação entre exegetas e teólogos.
A - “Se alguém tem sede, venha a mim e beba. O que crê em mim, como diz a Escritura, do seu seio correrão rios de água viva”.
B - “Se alguém tem sede venha a mim e beba o que crê em mim. Como diz a Escritura, do seu seio correrão rios de água viva”.
A interpretação A desenvolve o aspecto subjetivo e pessoal. A interpretação B, por sua vez, está ligado ao aspecto objetivo e histórico, encontrando a sua fonte no texto de Jo 19,34: o sinal da transfixão.
No primeiro caso, o brotar das águas vivas tem sua origem no coração, no interior do crente. Nós somos aqueles que crêem no Senhor e bebemos da fonte que é Cristo e nos transformamos em fonte para os outros. No segundo caso, as águas brotam do interior de Cristo.
O culto ao Coração de Cristo, intimamente ligado a estas duas expressões bíblicas, desenvolve-se deste modo em duas perspectivas:
a) Do ponto de vista subjetivo e pessoal engloba a interioridade de Cristo, cuja unidade e raiz é o amor. Tudo isto é simbolizado pelo seu Coração transpassado na cruz. Esta perspectiva é seguida pelos Santos Padres da Escola de Alexandria. Caracterizará o culto ao Coração de Jesus, sobretudo, a partir do século XII (com os místicos).
b) Do ponto de vista objetivo e histórico, segundo a interpretação B, o Coração transpassado, jorrando sangue e água, é a fonte de todos os bens messiânicos em ordem à salvação: a Igreja, os Sacramentos, ou seja, a plenitude da graça redentora. Esta perspectiva tem sua origem na tradição efésio-joanina (Èfeso, São João).
Toda a evolução histórico-doutrinal do culto ao Coração de Jesus, a partir destas duas perspectivas, dará maior importância ora ao coração como centro interior da pessoa de Cristo, Verbo Encarnado, ora ao conjunto das graças que brotam do seu lado transpassado. Da síntese destas duas perspectivas resulta o verdadeiro conteúdo do culto ao Coração de Jesus.
Ao longo deste primeiro milênio, marcado pelos escritos dos Santos Padres, acentua-se particularmente, o aspecto objetivo e histórico, ou seja, o conceito da fonte inesgotável da graça que brota do Coração transpassado de Cristo. Segundo este modo de pensar, a época patrística possui uma verdadeira teologia do Coração de Jesus e podemos afirmar que constitui um elemento essencial no conjunto do pensamento da patrística.
REFLEXÃO
SENHOR, DÁ-NOS SEMPRE DESTE PÃO!
Dom Murilo Sebastião Ramos Krueger scj - arcebispo de Florianópolis
Uma das características do homem e da mulher de todos os tempos é sua fome - uma fome que se manifesta de muitos modos: fome de alimento e de bens essenciais à vida; fome de justiça e de liberdade; fome de amor e de esperança. Não foi isso que vivenciou a multidão que, dois mil anos atrás, seguiu Jesus? Homens e mulheres, jovens e crianças estavam às margens do lago da Galiléia. Tinham fome de sua palavra e a escutavam com tanta alegria que não viram o tempo passar. Estavam famintos de pão, e não havia condições de serem saciados em um lugar como aquele, tão distante da cidade. Jesus fez, então, o milagre da multiplicação do pão e se apresentou como o pão vivo que desceu do céu e dá vida ao mundo. A multidão não se conteve e lhe pediu: “Senhor, dá-nos sempre deste pão!” (Jo 6,34).
Não temos nesta terra morada permanente. Somos caminheiros. E como nos cansamos ao longo de nossas estradas! Experimentamos decepções com alguns e surpresas com nossos próprios defeitos; vivenciamos acontecimentos alegres e momentos marcados pela dor. Constantemente nos perguntamos: “Vale a pena caminhar? Há sentido em continuar nossos passos?” Jesus nos responde: “Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mt 11,28). Quer que nos sentemos à sua mesa. Sabe o poder que tem seu pão. Quer que recuperemos as forças para continuarmos o caminho, rumo à comunhão definitiva com a Santíssima Trindade.
Nossa fé afirma e reafirma que Jesus é a única resposta à nossa fome – fome de um sentido para a vida, fome de um sentido para nosso futuro. “Quem come minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia. O que come deste pão viverá eternamente”(Jo 6,54.58). Especialmente nos momentos em que o sofrimento nos atacar, e que não tivermos resposta para as perguntas que se multiplicarem em nosso coração, precisaremos nos lembrar das palavras de Jesus: “Tomai e comei”. Ele afirma que na Eucaristia encontraremos não só a comida que nos alimenta, mas também o sacramento que nos renova. “O que vem a mim jamais terá fome e o que acredita em mim jamais terá sede” (Jo 6, 34-35). A Eucaristia é a força dos fracos, o vigor dos doentes, o remédio para as feridas da alma, o alimento dos que partem para a última viagem.
“ Senhor, dá-nos sempre deste pão!” O 15º Congresso Eucarístico Nacional, que se realizará em Florianópolis, de 18 a 21 de maio deste ano, quer atualizar esse pedido ao Senhor. Nem todos os brasileiros poderão ir a Florianópolis, para se unir a nós neste pedido. Todos poderão, contudo, participar do Congresso Eucarístico em suas próprias cidades e casas. Como? Meditando sobre o capítulo sexto do Evangelho de São João; dedicando momentos de sua semana para uma adoração ao Santíssimo Sacramento; participando com renovada motivação na missa dominical; lendo textos sobre a Eucaristia; acompanhando as reflexões teológicas publicadas pela Comissão Central do 15º CEN; navegando na página do Congresso na internet (http://www.cen2006.org.br/); rezando pelo êxito de sua realização; manifestando sua gratidão ao Senhor através de gestos concretos em favor de desempregados, anciãos, migrantes, doentes etc. Como lembra uma das estrofes do Hino do Congresso: “No mendigo, no preso, estou presente, / no doente, faminto, no sem lar: / “cada vez que a um deles socorrestes / é a mim que viestes ajudar”.
“Ele está no meio de nós!”, quer proclamar a Igreja no Brasil, durante o 15º Congresso Eucarístico Nacional. “Vinde e vede!”, proclama desde já a Igreja Particular que está em Florianópolis. “Senhor, dá-nos sempre deste pão!”, gritemos juntos ao Senhor.
Dom Murilo Sebastião Ramos Krueger scj - arcebispo de Florianópolis
Uma das características do homem e da mulher de todos os tempos é sua fome - uma fome que se manifesta de muitos modos: fome de alimento e de bens essenciais à vida; fome de justiça e de liberdade; fome de amor e de esperança. Não foi isso que vivenciou a multidão que, dois mil anos atrás, seguiu Jesus? Homens e mulheres, jovens e crianças estavam às margens do lago da Galiléia. Tinham fome de sua palavra e a escutavam com tanta alegria que não viram o tempo passar. Estavam famintos de pão, e não havia condições de serem saciados em um lugar como aquele, tão distante da cidade. Jesus fez, então, o milagre da multiplicação do pão e se apresentou como o pão vivo que desceu do céu e dá vida ao mundo. A multidão não se conteve e lhe pediu: “Senhor, dá-nos sempre deste pão!” (Jo 6,34).
Não temos nesta terra morada permanente. Somos caminheiros. E como nos cansamos ao longo de nossas estradas! Experimentamos decepções com alguns e surpresas com nossos próprios defeitos; vivenciamos acontecimentos alegres e momentos marcados pela dor. Constantemente nos perguntamos: “Vale a pena caminhar? Há sentido em continuar nossos passos?” Jesus nos responde: “Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mt 11,28). Quer que nos sentemos à sua mesa. Sabe o poder que tem seu pão. Quer que recuperemos as forças para continuarmos o caminho, rumo à comunhão definitiva com a Santíssima Trindade.
Nossa fé afirma e reafirma que Jesus é a única resposta à nossa fome – fome de um sentido para a vida, fome de um sentido para nosso futuro. “Quem come minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia. O que come deste pão viverá eternamente”(Jo 6,54.58). Especialmente nos momentos em que o sofrimento nos atacar, e que não tivermos resposta para as perguntas que se multiplicarem em nosso coração, precisaremos nos lembrar das palavras de Jesus: “Tomai e comei”. Ele afirma que na Eucaristia encontraremos não só a comida que nos alimenta, mas também o sacramento que nos renova. “O que vem a mim jamais terá fome e o que acredita em mim jamais terá sede” (Jo 6, 34-35). A Eucaristia é a força dos fracos, o vigor dos doentes, o remédio para as feridas da alma, o alimento dos que partem para a última viagem.
“ Senhor, dá-nos sempre deste pão!” O 15º Congresso Eucarístico Nacional, que se realizará em Florianópolis, de 18 a 21 de maio deste ano, quer atualizar esse pedido ao Senhor. Nem todos os brasileiros poderão ir a Florianópolis, para se unir a nós neste pedido. Todos poderão, contudo, participar do Congresso Eucarístico em suas próprias cidades e casas. Como? Meditando sobre o capítulo sexto do Evangelho de São João; dedicando momentos de sua semana para uma adoração ao Santíssimo Sacramento; participando com renovada motivação na missa dominical; lendo textos sobre a Eucaristia; acompanhando as reflexões teológicas publicadas pela Comissão Central do 15º CEN; navegando na página do Congresso na internet (http://www.cen2006.org.br/); rezando pelo êxito de sua realização; manifestando sua gratidão ao Senhor através de gestos concretos em favor de desempregados, anciãos, migrantes, doentes etc. Como lembra uma das estrofes do Hino do Congresso: “No mendigo, no preso, estou presente, / no doente, faminto, no sem lar: / “cada vez que a um deles socorrestes / é a mim que viestes ajudar”.
“Ele está no meio de nós!”, quer proclamar a Igreja no Brasil, durante o 15º Congresso Eucarístico Nacional. “Vinde e vede!”, proclama desde já a Igreja Particular que está em Florianópolis. “Senhor, dá-nos sempre deste pão!”, gritemos juntos ao Senhor.
PALAVRA DO PAPA
MENSAGEM DE PÁSCOA DO PAPA BENTO XVI
Christus resurrexit! – Cristo ressuscitou!
Queridos irmãos e irmãs!
A grande Vigília desta noite fez-nos reviver o acontecimento decisivo e sempre atual da Ressurreição, mistério central da fé cristã. Círios pascais sem conta foram acesos nas igrejas para simbolizar a luz de Cristo que iluminou e ilumina a humanidade, vencendo para sempre as trevas do pecado e do mal. E, no dia de hoje, ressoam fortes as palavras que deixaram estupefatas as mulheres que, na manhã do primeiro dia depois do sábado, tinham ido ao sepulcro, onde o corpo de Cristo, descido às pressas da cruz, fora depositado. Tristes e desoladas pela perda do seu Mestre, tinham encontrado a grande pedra rolada para o lado e, entrando, viram que o seu corpo já não estava lá. Enquanto ali se encontravam incertas e desorientadas, dois homens com vestes resplandecentes surpreenderam-nas dizendo: "Por que motivo procurais entre os mortos Aquele que está vivo? Não está aqui; ressuscitou!» (Lc 24, 5-6). "Non est hic, sed resurrexit» (Lc 24, 6). Desde aquela manhã, tais palavras não cessam de ressoar pelo universo como um anúncio de alegria que atravessa os séculos imutável e simultaneamente cheio de infinitas e sempre novas ressonâncias.
"Não está aqui; ressuscitou». Os mensageiros celestes comunicam, antes de mais nada: Jesus "não está aqui»; não ficou no sepulcro o Filho de Deus, porque não podia continuar prisioneiro da morte (cf. At 2, 24) e o túmulo não podia reter "o Vivente» (Ap 1, 18), que é a própria fonte da vida. Tal como Jonas esteve no ventre do peixe, assim Cristo crucificado permaneceu engolido no coração da terra (cf. Mt 12, 40) pelo transcorrer de um sábado. Foi verdadeiramente "um dia solene aquele sábado», como escreve o evangelista João (19, 31): o mais solene da história, porque nele o "Senhor do sábado» (Mt 12, 8) levou a termo a obra da criação (cf. Gn 2, 1-4a), elevando o homem e o universo inteiro à liberdade da glória dos filhos de Deus (cf. Rm 8, 21). Cumprida esta obra extraordinária, o corpo inanimado foi atravessado pelo sopro vital de Deus e, rompidas as margens do sepulcro, ressuscitou glorioso. Por isso, os anjos proclamam: "não está aqui", não pode estar mais no túmulo. Peregrinou na terra dos homens, terminou o seu caminho no túmulo como todos, mas venceu a morte e de modo absolutamente novo, por um ato de puro amor, abriu a terra e escancarou-a para o Céu.
A sua ressurreição, graças ao Batismo que a Ele nos "incorpora", torna-se a nossa ressurreição. Tinha-o predito o profeta Ezequiel: "Eis que abrirei as vossas sepulturas e vos farei sair delas, ó meu povo, e vos reconduzirei ao país de Israel" (Ez 37, 12). Estas palavras proféticas assumem um valor singular no dia de Páscoa, porque hoje se cumpre a promessa do Criador; hoje, mesmo nesta nossa época caracterizada pela ansiedade e a incerteza, revivemos o acontecimento da ressurreição, que mudou a expressão da nossa vida, mudou a história da humanidade. Aguardam a esperança de Cristo ressuscitado, às vezes mesmo inconscientemente, os que ainda estão oprimidos pelos laços de amargura e de morte.
Em particular, que o Espírito do Ressuscitado leve alívio e segurança na África às populações do Darfur, que se encontram numa dramática situação humanitária já insustentável; às da região dos Grandes Lagos, onde muitas chagas ainda não estão curadas; aos povos do Chifre da África, da Costa do Marfim, do Uganda, do Zimbábue e de outras nações que anseiam pela reconciliação, pela justiça e pelo progresso. No Iraque, sobre a trágica violência, que impiedosamente continua a ceifar vítimas, prevaleça finalmente a paz. E paz desejo vivamente também para os que estão envolvidos no conflito da Terra Santa, convidando a todos a um diálogo paciente e perseverante que remova os obstáculos antigos e novos. A comunidade internacional, que reafirma o justo direito de Israel a existir em paz, ajude o povo palestino a superar as condições precárias em que se encontra, avançando para a constituição dum verdadeiro e próprio Estado. O Espírito do Ressuscitado suscite um renovado dinamismo no empenho dos países da América Latina, para que sejam melhoradas as condições de vida de milhões de cidadãos, eliminada a nefasta praga dos raptos de pessoas e consolidadas as instituições democráticas, em espírito de concórdia e de solidariedade real. Relativamente às crises internacionais ligadas ao nuclear, chegue-se a um acordo honroso para todos através de negociações sérias e leais, e reforce-se nos responsáveis das nações e das organizações internacionais a vontade de realizar uma pacífica convivência entre etnias, culturas e religiões, que afaste a ameaça do terrorismo. É este o caminho da paz para bem da humanidade inteira.
O Senhor ressuscitado faça-se presente em todo lugar com a sua força de vida, de paz e de liberdade. Hoje, a todos são dirigidas as palavras com as quais na manhã da Páscoa o Anjo tranqüilizou os corações amedrontados das mulheres: "Não tenhais medo! ... Não está aqui; ressuscitou" (Mt 28,5-6). Jesus ressuscitou e concede-nos a paz. Ele mesmo é a paz. Por isso, vigorosamente a Igreja repete: "Cristo ressuscitou - Christós anésti". Que a humanidade do terceiro milênio não tenha medo de abrir-Lhe o coração! O seu Evangelho sacia plenamente a sede de paz e de felicidade que habita em todo o coração humano. Agora Cristo está vivo e caminha conosco. Um mistério imenso de amor! Christus resurrexit, quia Deus caritas est! Alleluia!
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