CULTO AO CORAÇÃO DE CRISTO NA IGREJA
por Pe. Francisco Sehnem scj
O culto ao Coração de Jesus exerceu profunda influência na vida da Igreja ao longo dos três últimos séculos. Seria errado, no entanto, pensarmos que a devoção ao Coração de Jesus tenha surgido apenas no século XVII, através de Margarida Maria. As revelações privadas, reconhecidas pela Igreja, devem ser entendidas como intervenções do Espírito Santo, no sentido de sensibilizar os cristãos para aspectos particulares da Revelação, ainda não (ou não mais), devidamente, vividos e valorizados. É, exatamente, o que depreendemos das palavras de Pio XII, na encíclica Haurietis Aquas, que “não se pode dizer que este culto deva a sua origem a revelações particulares, nem que apareceu de modo repentino na Igreja. As revelações de Margarida Maria nada trouxeram de novo à doutrina católica”.
Desde os inícios da Igreja, o amor de Cristo foi objeto da contemplação e da reflexão dos cristãos. Foi, também, a fonte do seu engajamento apostólico. Podemos afirmar que as origens do culto ao Coração de Jesus remontam aos primórdios do cristianismo, uma vez que tem na Sagrada Escritura a sua fonte principal.
Mas, devemos admitir que, somente a partir do século XII, começa a ser objeto de uma atenção toda especial. Alguns místicos, como Santo Anselmo (1109), São Bernardo de Claraval (1153) e seus discípulos começam a contemplar o Coração transpassado. Monjas recebem graças especiais do Coração de Cristo: Ludgarda (1246) e Ida (1300). As santas Matilde (1298) e Gertrudes (1302), duas irmãs de sangue parecem ter sido as primeiras a viver uma real devoção ao Coração de Jesus; criam exercícios e práticas que enriquecem a liturgia do mosteiro de Helfta, na Alemanha. Na mesma época, São Boaventura (1274) é o primeiro a fazer uma alusão explícita a esta devoção no seu livro “Vitis Mystica”.
Cem anos mais tarde, Santa Catarina de Sena (1381), é beneficiada por experiências místicas nas quais Cristo lhe oferece o amor do seu Coração.
No século XVI abre-se uma nova etapa. A devoção ao Coração de Jesus passa do plano místico ao ascético com o cartucho Landsberg (1539) que propaga as revelações de Gertrudes e com o beneditino Luiz de Blois (1566).
O século seguinte será determinante para a devoção ao Coração de Jesus. Começa a surgir uma preocupação: tornar mais compreensível e acessível aos leigos, ao povo, este caminho de perfeição cristã. Um dos responsáveis por este movimento é São Francisco de Sales (1622). Através do seu ‘livreto’, Introdução à vida devota, ele convida todos os cristãos a viver a mensagem evangélica do amor ‘alegremente, prontamente e cordialmente’. Ele viveu a devoção ao Coração de Cristo e a propôs a Santa Joana de Chantal e à Congregação que ele fundou com ela, a Ordem da Visitação Santa Maria.
A espiritualidade salesiana, unida à espiritualidade da Escola Francesa prepara o terreno para um impulso muito maior que a Devoção ao Coração de Jesus conhecerá no século XVII. E, através de Margarida Maria e do movimento de Paray-le-Monial, o culto ao Coração de Jesus penetra decisiva e definitivamente na esfera pública da Igreja e adquire as características que definiram, mais tarde, a sua particularidade.
Tentaremos, durante este ano, percorrer as várias etapas pelas quais passou este culto (devoção, espiritualidade) até o impulso decisivo do século XVII e conseqüente propagação no mundo cristão, salientando suas características fundamentais e a sua contribuição, ao longo dos séculos, para a vivência integral da mensagem cristã.
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