31 outubro 2008

Santa Sé insiste na importância do discernimento sobre vocação sacerdotal

O sacerdote deve ser uma pessoa não só de vida espiritual rica, mas também com uma maturidade psicológica e afetiva que lhe permita viver com equilíbrio sua vocação. Para ajudar o discernimento humano e espiritual sobre os candidatos, a Congregação para a Educação Católica apresentou ontem o documento "Orientações para o uso das competências da psicologia na admissão e na formação dos candidatos ao sacerdócio".
Esse texto foi comentado numa coletiva de imprensa pelo cardeal Zenon Grocholewski, prefeito da Congregação para a Educação Católica, por Dom Jean Louis Brugues, secretário, e pelo professor Carlo Bresciani, psicólogo e consultor da mesma congregação.
O cardeal Grocholewski apresentou em sua intervenção as idéias fundamentais deste documento: o papel do psicólogo na ajuda ao discernimento vocacional do candidato ao sacerdócio, a responsabilidade da Igreja em discernir a vocação e a idoneidade do candidato ao ministério sacerdotal, o bispo como primeiro representante de Cristo na formação sacerdotal, assim como o papel dos formadores e uma adequada preparação.
Também aborda o papel dos pais espirituais, a importância de recorrer à graça no processo de discernimento, a integração do auxílio psicológico dentro de uma visão global da vida do candidato, o psicólogo como um colaborador e não como parte da equipe de formadores e a idoneidade do candidato, da qual o bispo do lugar deve estar seguro para proceder à ordenação sacerdotal.

Um trabalho de anos
Por sua parte, Dom Jean Louis Brugues falou sobre como, nos últimos 30 anos, a Igreja viu a necessidade de avaliar as condições psicológicas do candidato ao sacerdócio, levando assim à elaboração deste documento.
O texto passou por várias fases de preparação. Foi apresentado em uma primeira redação em 2002 pelo então cardeal Joseph Ratzinger, que assegurou que "o documento podia constituir uma ajuda útil para entender os problemas da alma humana de um candidato em fase de amadurecimento".
Dom Brugues assegurou que este tempo "contribuiu para amadurecer, tornando mais explícita a especificidade da vocação ao sacerdócio, dom e mistério não comparáveis com métodos psicológicos".
O prelado explicou que por parte do bispo deve haver sempre um "respeito à liberdade e à intimidade do candidato e, sob a última responsabilidade, dos formadores e do bispo".
Por outro lado, assegurou, quanto à ajuda psicológica aos candidatos ao sacerdócio, existe o perigo de cair em dois erros: o primeiro é que o psicólogo ou o psiquiatra assuma o papel que corresponde ao diretor espiritual, e o outro é que os formadores pensem que não é necessária a ajuda dos psicólogos para a maturidade vocacional de quem aspira a ser sacerdote.

Formação de uma vocação
Por sua parte, o professor Carlo Bresciani se referiu ao tema da formação do sacerdote, sublinhando que "o primeiro ator de cada formação é o próprio candidato" e que "a Igreja sempre está preocupada por proporcionar ao candidato ao ministério sacerdotal formadores preparados para compreender em profundidade sua personalidade humana".
Também assegurou que o candidato ao sacerdócio deve ter a liberdade de escolher o psicólogo que mais puder ajudá-lo.
Igualmente, disse que "muitas inaptidões psíquicas mais ou menos patológicas se manifestam apenas depois da ordenação sacerdotal" e "discerni-las a tempo permitirá evitar muitos dramas".
"É evidente que uma psicologia que se fecha à dimensão transcendente, que exclui o sentido da castidade ou se fecha a determinados valores que são próprios da Igreja, não pode ajudar a um amadurecimento vocacional para uma consagração da própria vida do ministério", acrescentou Bresciani.
Por isso, advertiu que "o psicólogo deve ter uma compreensão teórica e uma aproximação para tomar a dimensão transcendente da pessoa com os dinamismos e qualidades que devem amadurecer na pessoa".

Texto: Zenit.org

24 outubro 2008

Mensagem final do Sínodo dos Bispos - resumo

Queridos Irmãos e Irmãs,

"A todos os que, em qualquer lugar que estejam, invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso, a vós, a graça e a paz da parte de Deus, nosso Pai, e da parte do Senhor Jesus Cristo!" (1 Cor 1, 2-3) Com a saudação do Apóstolo Paulo – neste ano dedicado a ele – nós, os Padres Sinodais reunidos em Roma para a XII Assembléia Geral do Sínodo dos Bispos com o Santo Padre Bento XVI, vos dirigimos uma mensagem de ampla reflexão e proposta sobre a Palavra de Deus que está no centro dos trabalhos de nossa assembléia.

É uma mensagem que encomendamos, antes de tudo, aos vossos pastores, aos tantos e tão generosos catequistas e a todos aqueles que vos guiam na escuta e na leitura amorosa da Bíblia. A vós neste momento desejamos delinear a alma e a substância desse texto para que cresça e se aprofunde o conhecimento e o amor pela Palavra de Deus. Quatro são os pontos cardeais do horizonte que desejamos convidar-vos a conhecer e que expressaremos através de outras imagens.

Temos antes de tudo a voz divina. Ela ressoa nas origens da criação, quebrando o silêncio do nada e dando origem às maravilhas do universo. É uma Voz que penetra logo na história, ferida pelo pecado humano e atormentada pela dor e pela morte. Ela vê também o Senhor que caminha junto com a humanidade para oferecer sua graça, sua aliança, sua salvação. É uma voz que desce logo nas páginas das Sagradas Escrituras que agora nós lemos na Igreja sob a guia do Espírito Santo que foi doado como luz de verdade a ela e a seus pastores.

Também, como escreve São João, "a Palavra se fez carne" (1, 14). E aqui então aparece o Rosto. É Jesus Cristo, que é Filho do Deus eterno e infinito, mas também homem mortal, ligado a uma época histórica, a um povo e a uma terra. Ele vive a existência fatigosa da humanidade até a morte, mas ressurge e vive para sempre. Ele é quem faz que seja perfeito nosso encontro com a Palavra de Deus. Ele é quem nos revela o "sentido pleno" e unitário das Sagradas Escrituras, pelas quais o cristianismo é uma religião que tem no centro uma pessoa, Jesus Cristo, revelador do Pai. Ele nos faz entender que também as Escrituras são "carne", ou seja, palavras humanas que se devem compreender e estudar em seu modo de expressar-se, mas que custodiam em seu interior a luz da verdade divina que só com o Espírito Santo podemos viver e contemplar.

É o próprio Espírito de Deus que nos conduz ao terceiro ponto cardeal de nosso itinerário, a Casa da palavra divina, ou seja, a Igreja que, como nos sugere São Lucas (Atos 2, 42) está sustentada por quatro colunas ideais. Temos "o ensinamento", ou seja, ler e compreender a Bíblia no anúncio feito a todos, na catequese, na homilia, através da proclamação que implica a mente e o coração. Temos depois "a fração do pão", ou seja, a Eucaristia, fonte e cume da vida e da missão da Igreja. Como aconteceu aquele dia em Emaús, os fiéis são convidados a nutrir-se na liturgia na mesa da Palavra de Deus e do Corpo de Cristo. Uma terceira coluna está constituída pelas "orações" com "hinos e cânticos inspirados" (Col 3, 16). É a Liturgia das Horas, oração da Igreja destinada a ritmar os dias e os tempos do ano cristão. Temos também a Lectio Divina, a leitura orante das Sagradas Escrituras, capaz de conduzir, na meditação, na oração, na contemplação, ao encontro com o Cristo, palavra de Deus vivo. E, por último, a "comunhão fraterna", porque, para ser verdadeiros cristãos, não basta ser "aqueles que ouvem a Palavra de Deus" (Lc 8, 21). Na casa da Palavra de Deus encontramos também os irmãos e irmãs das outras Igrejas e comunidades cristãs que, ainda nas separações, vivem uma unidade real, ainda que não plena, através da veneração e do amor pela Palavra divina.

Chegamos assim à última imagem do mapa espiritual. É o caminho sobre o qual se baseia a palavra de Deus: "Ide, pois, e fazei discípulos todos os povos, ensinando-os a guardar tudo o que eu vos mandei"; "o que ouvis, proclamai-o desde os telhados" (Mt 28, 19-20; 10,27). A Palavra de Deus deve percorrer os caminhos do mundo, que hoje são também os da comunicação informática, televisiva e virtual. A Bíblia deve entrar nas famílias para que pais e filhos a leiam, com ela rezem e para que ela seja para eles uma tocha para seus passos no caminho da existência (cf. Sl 119, 105). As Sagradas Escrituras devem entrar também nas escolas e nos âmbitos culturais porque, durante séculos, foi o ponto de referência capital da arte, da literatura, da música, do pensamento e da própria ética comum. Sua riqueza simbólica, poética e narrativa faz delas um estandarte de beleza, para a fé e para a própria cultura, em um mundo com freqüência marcado pela fealdade e pela indignidade.

A Bíblia, contudo, nos apresenta também o sopro de dor que sai da terra, sai ao encontro do grito dos oprimidos e do lamento dos infelizes. Ela tem a cruz no vértice, onde Cristo, sozinho e abandonado, vive a tragédia do sofrimento mais atroz e da morte. Precisamente por esta presença do Filho de Deus, a escuridão do mal e da morte está irradiada pela luz pascal e pela esperança da glória. Mas sobre os caminhos do mundo marcham conosco também os irmãos e irmãs das outras Igrejas e comunidades cristãs que, ainda nas separações, vivem uma unidade real, ainda que não seja plena, através da veneração e do amor pela Palavra de Deus. Ao longo dos caminhos do mundo encontramos com freqüência homens e mulheres de outras religiões que escutam e praticam fielmente os ditados de seus livros sagrados e que conosco podem edificar um mundo de paz e de luz porque Deus quer que "todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento pleno da verdade" (1 Tm 2, 4).

Queridos irmãos e irmãs, custodiai a Bíblia em vossas casas, lede-a, aprofundai e compreendei plenamente suas páginas, transformai-a em oração e testemunho de vida, escutai-a com amor e fé na liturgia. Criai o silêncio para escutar com eficácia a Palavra do Senhor e conservai o silêncio depois da escuta, porque ela continuará habitando, vivendo e falando-vos. Fazei que ela ressoe no começo do vosso dia, para que Deus tenha sempre a primeira palavra e deixai-a ressoar em vós à noite, para que a última palavra seja de Deus.

"Confio-vos a Deus e à Palavra da sua graça" (Atos 20, 32). Com a mesma expressão que São Paulo utilizou em seu discurso de adeus aos chefes da Igreja de Éfeso, também nós, os Padres Sinodais, confiamos os fiéis das comunidades espalhadas sobre a face da terra à palavra divina que é também juízo e sobretudo graça, que é cortante como uma espada, mas que doce como o mel. Ela é potente e gloriosa e nos guia pelos caminhos da história com a mão de Jesus que vós, como nós, "amais nosso Senhor Jesus Cristo na vida incorruptível" (Ef 6, 24).

18 outubro 2008

Mensagem do Papa ao Dia Mundial das Missões

"Servos e apóstolos de Jesus Cristo"
Queridos irmãos e irmãs:

Por ocasião do Dia Missionário Mundial, gostaria de vos convidar a refletir acerca da urgência que subsiste em anunciar o Evangelho inclusivamente nesta nossa época. O mandato missionário continua a constituir uma prioridade absoluta para todos os batizados, chamados a ser "servos e apóstolos de Jesus Cristo" neste início de milênio. O meu venerado Predecessor, o Servo de Deus Paulo VI, já afirmava na Exortação Apostólica Evangelii nuntiandi, que "evangelizar constitui, de fato, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade" (n. 14). Como modelo deste compromisso apostólico, apraz-me indicar particularmente São Paulo, o Apóstolo das nações, uma vez que no corrente ano celebramos um Jubileu especial a ele dedicado. Trata-se do Ano Paulino, que nos oferece a oportunidade de familiarizar com este insigne Apóstolo, que recebeu a vocação de proclamar o Evangelho aos gentios, em conformidade com quanto o Senhor lhe tinha prenunciado: "Vai! É para longe, é para junto dos pagãos que eu hei de te enviar" (At 22, 21). Como deixar de aproveitar a oportunidade oferecida por este Jubileu especial às Igrejas locais, às comunidades cristãs e a cada um dos fiéis separadamente, para propagar até aos extremos confins do mundo "o anúncio do Evangelho, força de Deus para a salvação de todo aquele que acredita" (cf. Rm 1, 16)?

1. A humanidade tem necessidade de libertação
A humanidade tem necessidade de ser libertada e redimida. A própria criação, afirma São Paulo, sofre e nutre a esperança de entrar na liberdade dos filhos de Deus (cf. Rm 8, 19-22). Estas palavras são verdadeiras também no mundo de hoje. A criação sofre. A humanidade sofre e espera a verdadeira liberdade, aguarda um mundo diferente, melhor; espera a "redenção". E, em última análise, sabe que este novo mundo esperado supõe um homem novo, supõe "filhos de Deus". Vejamos mais de perto a situação do mundo de hoje. Se, por um lado, o panorama internacional apresenta perspectivas de um desenvolvimento econômico e social promissor, por outro, chama a nossa atenção para algumas graves preocupações no que diz respeito ao próprio porvir do homem. Em não poucos casos, a violência caracteriza os relacionamentos entre os indivíduos e os povos; a pobreza oprime milhões de habitantes; as discriminações e às vezes até as perseguições por motivos raciais, culturais e religiosos impelem numerosas pessoas a escapar dos seus países para procurar refúgio e salvaguarda alhures; quando não tem como finalidade a dignidade e o bem do homem, quando não tem em vista um desenvolvimento solidário, o progresso tecnológico perde a sua potencialidade de fator de esperança e, ao contrário, corre o risco de agravar os desequilíbrios e as injustiças já existentes. Além disso, há uma ameaça constante no que se refere à relação homem-meio ambiente, devido ao uso indiscriminado dos recursos, com repercussões sobre a própria saúde física e mental do ser humano. Depois, o futuro do homem é posto em risco pelos atentados contra a sua vida, atentados estes que adquirem várias formas e modalidades.
Diante deste cenário, "sentimos o peso da inquietação, agitados entre a esperança e a angústia" (Constituição Gaudium et spes, 4) e, preocupados, interrogamo-nos: o que será da humanidade e da criação? Existe esperança para o futuro, ou melhor, há um futuro para a humanidade? E como será este futuro? A resposta a estas interrogações provêm-nos do Evangelho. Cristo é o nosso futuro e, como escrevi na Carta Encíclica Spe salvi, o seu Evangelho é a comunicação que "transforma a vida", incute a esperança, abre de par em par as portas obscuras do tempo e ilumina o porvir da humanidade e do universo (cf. n. 2). São Paulo compreendeu bem que somente em Cristo a humanidade pode encontrar a redenção e a esperança. Por isso, sentia impelente e urgente a missão de "anunciar a promessa da vida em Jesus Cristo" (2 Tm 1, 1), "nossa esperança" (1 Tm 1, 1), a fim de que todos os povos possam participar na mesma herança e tornar-se partícipes da promessa por meio do Evangelho (cf. Ef 3, 6). Ele estava consciente de que, desprovida de Cristo, a humanidade permanece "sem esperança e sem Deus no mundo (Ef 2, 12) sem esperança porque sem Deus" (Spe salvi, 3). Com efeito, "quem não conhece Deus, mesmo podendo ter muitas esperanças, no fundo está sem esperança, sem a grande esperança que sustenta toda a vida (cf. Ef 2, 12)" (Ibid., n. 27).

2. A Missão é uma questão de amor
Por conseguinte, anunciar Cristo e a sua mensagem salvífica constitui um dever premente para todos. "Ai de mim afirmava São Paulo se eu não anunciar o Evangelho!" (1 Cor 9, 16). No caminho de Damasco, ele tinha experimentado e compreendido que a redenção e a missão são obra de Deus e do seu amor. O amor de Cristo levou-o a percorrer os caminhos do Império Romano como arauto, apóstolo, anunciador e mestre do Evangelho, do qual se proclamava "embaixador aprisionado" (Ef 6, 20). A caridade divina tornou-o "tudo para todos, a fim de salvar alguns a qualquer custo" (1 Cor 9, 22). Considerando a experiência de São Paulo, compreendemos que a atividade missionária é a resposta ao amor com que Deus nos ama. O seu amor redime-nos e impele-nos rumo à missio ad gentes; é a energia espiritual capaz de fazer crescer na família humana a harmonia, a justiça, a comunhão entre as pessoas, as raças e os povos, à qual todos aspiram (cf. Carta Encíclica Deus caritas est, 12). Portanto é Deus, que é amor, quem conduz a Igreja rumo às fronteiras da humanidade e quem chama os evangelizadores a beberem "da fonte primeira e originária que é Jesus Cristo, de cujo Coração trespassado brota o amor de Deus" (Deus caritas est, 7). Somente deste manancial se podem haurir a atenção, a ternura, a compaixão, o acolhimento, a disponibilidade e o interesse pelos problemas das pessoas, assim como aquelas outras virtudes necessárias para que os mensageiros do Evangelho deixem tudo e se dediquem completa e incondicionalmente a difundir no mundo o perfume da caridade de Cristo.

3. Evangelizar sempre
Enquanto a primeira evangelização em não poucas regiões do mundo permanece necessária e urgente, a escassez de clero e a falta de vocações afligem hoje várias Dioceses e Institutos de vida consagrada. É importante reiterar que, mesmo na presença de dificuldades crescentes, o mandato de Cristo de evangelizar todos os povos permanece uma prioridade. Nenhuma razão pode justificar uma sua diminuição ou uma sua interrupção, dado que "a tarefa de evangelizar todos os homens constitui a missão essencial da Igreja" (Paulo VI, Exortação Apostólica Evangelii nuntiandi, 14). Esta missão "ainda está no começo e devemos empenhar-nos com todas as forças no seu serviço" (João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris missio, 1). Como deixar de pensar aqui no Macedônio que, tendo aparecido em sonho a Paulo, clamava: "Vem à Macedônia e ajuda-nos"? Hoje são inúmeros aqueles que esperam o anúncio do Evangelho, aqueles que se sentem sequiosos de esperança e de amor. Quantos se deixam interpelar profundamente por este pedido de ajuda que se eleva da humanidade, abandonam tudo por Cristo e transmitem aos homens a fé e o amor por Ele! (cf. Spe salvi, 8).

4. "Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho!" (1 Cor 9, 16)
Caros irmãos e irmãs, "duc in altum"! Façamo-nos ao largo no vasto mar do mundo e, aceitando o convite de Jesus, lancemos as redes sem temor, confiantes na sua ajuda constante. São Paulo recorda-nos que anunciar o Evangelho não é um título de glória (cf. 1 Cor 9, 16), mas uma tarefa e uma alegria. Estimados irmãos Bispos, seguindo o exemplo de Paulo, cada um se sinta "prisioneiro de Cristo em favor dos pagãos" (Ef 3, 1), consciente de que nas dificuldades e nas provações pode contar com a força que dele nos provém. O Bispo é consagrado não apenas para a sua diocese, mas para a salvação do mundo inteiro (cf. Carta Encíclica Redemptoris missio, 63). Como o Apóstolo Paulo, ele é chamado a ir ao encontro daqueles que estão distantes, dos que ainda não conhecem Cristo, ou que ainda não experimentaram o seu amor libertador; o seu compromisso consiste em tornar missionária toda a comunidade diocesana, contribuindo de bom grado, em conformidade com as possibilidades, para destinar presbíteros e leigos a outras Igrejas, para o serviço da evangelização. Assim, a missio ad gentes torna-se o princípio unificador e convergente de toda a sua atividade pastoral e caritativa.
Vós, queridos presbíteros, primeiros colaboradores dos Bispos, sede pastores generosos e evangelizadores entusiastas! Não poucos de vós, ao longo destas décadas, partiram para os territórios de missão, a seguir à Carta Encíclica Fidei donum, cujo 50º aniversário há pouco comemoramos, e com a qual o meu venerado Predecessor o Servo de Deus Pio XII deu impulso à cooperação entre as Igrejas. Formulo votos a fim de que não definhe esta tensão missionária nas Igrejas locais, apesar da escassez de clero que aflige não poucas delas.
E vós, amados religiosos e religiosas, caracterizados por vocação por uma forte conotação missionária, levai o anúncio do Evangelho a todos, especialmente aos que estão distantes, mediante um testemunho coerente de Cristo e um seguimento radical do seu Evangelho.
Todos vós, prezados fiéis leigos que trabalhais nos diversos âmbitos da sociedade, sois chamados a participar na difusão do Evangelho de maneira cada vez mais relevante. Assim, abre-se diante de vós um areópago complexo e multifacetado a ser evangelizado: o mundo. Dai testemunho com a vossa própria vida, do fato de que os cristãos "pertencem a uma sociedade nova, rumo à qual caminham e que, na sua peregrinação, é antecipada" (Spe salvi, 4).

5. Conclusão
Caros irmãos e irmãs, a celebração do Dia Missionário Mundial encoraje todos vós a tomar uma renovada consciência da urgente necessidade de anunciar o Evangelho. Não posso deixar de relevar com profundo apreço a contribuição das Pontifícias Obras Missionárias para a ação evangelizadora da Igreja. Agradeço-lhes o apoio que oferecem a todas as Comunidades, de maneira especial às mais jovens. Elas constituem um válido instrumento para animar e formar missionariamente o Povo de Deus e alimentam a comunhão de pessoas e de bens entre os vários membros do Corpo místico de Cristo. A coleta, que no Dia Missionário Mundial se realiza em todas as paróquias, seja um sinal de comunhão e de solicitude recíproca entre as Igrejas. Enfim, que no povo cristão se intensifique cada vez mais a oração, meio espiritual indispensável para difundir no meio de todos os povos a luz de Cristo, "a luz por antonomásia" que resplandece sobre "as trevas da história" (Spe salvi, 49). Enquanto confio ao Senhor a obra apostólica dos missionários, das Igrejas espalhadas pelo mundo e dos fiéis comprometidos em várias atividades missionárias, invocando a intercessão do Apóstolo Paulo e de Maria Santíssima, "Arca da Aliança viva", Estrela da evangelização e da esperança, concedo a todos a Bênção apostólica.

Vaticano, 11 de Maio de 2008.
PAPA BENTO XVI

13 outubro 2008

O espinho na carne de Paulo

Especial ANO PAULINO

O espinho na carne aludido pelo apóstolo Paulo pode ser seu temperamento impetuoso.

É o que considera o pe. Mariano Weizenmann, scj, doutor em teologia pela Universidade Gregoriana e professor da Faculdade Dehoniana, em Taubaté (São Paulo).

"A partir da concepção grega, o espinho na carne poderia sugerir um preocupante defeito, um vício ou um pecado", afirmou o sacerdote, em sua conferência, dia 3 de outubro, na Semana Teológica promovida pelo Instituto de Teologia e Filosofia Santa Teresinha, da diocese de São José dos Campos.

"Mas pelo que de Paulo conhecemos, no contexto em que estamos, e pela sua forte característica judaica, o espinho na carne tem a ver com sua vida habitual", afirma.

"O que é a vida na carne? Ou a encarnação?" – pergunta o teólogo. "É a vida desde a concepção até a última respiração. Todos nós estamos na carne, na maneira judaica de pensar."

"Na maneira grega, seria uma vida devassa, depravada. Mas, na maneira judaica, é a vida humana, com suas limitações e suas possibilidades de êxito", explica.

"Ora, assim, o mais provável é que o espinho seja o temperamento impetuoso e impaciente de Paulo. Isso deu muito sofrimento a ele."

De acordo com o teólogo, outra possibilidade do espinho na carne poderia ser o sofrimento de Paulo em ver sua gente recusar Jesus.

"Ele dedica três capítulos, o 9, 10 e 11, da carta aos Romanos, a esse grande problema. É porque essa era uma grande preocupação sua." 

Segundo o sacerdote, há estudiosos que afirmam que o espinho na carne poderia ser alguma doença que causava desconforto ao apóstolo, como, por exemplo, um problema na vista.

"Mas parece mais provável o temperamento. Na segunda Coríntios há um retrato disso. Paulo começa a falar, fica nervoso, aí pede desculpas, e depois lembra que também eles têm culpa. Então é mais provável que seja isso", afirma.


Fonte: Zenit.org

http://www.zenit.org/article-19736?l=portuguese 

04 outubro 2008

Sínodo da Palavra, sínodo das novidades

A participação de um rabino, do patriarca de Constantinopla e de um número recorde de mulheres, assim como a introdução de mais momentos para intervenções livres, constituem algumas das novidades do sínodo que Bento XVI inaugurará neste domingo.
Estas «surpresas», que incluem a transmissão ao vivo de alguns momentos particulares, foram ilustradas nesta sexta-feira aos jornalistas na Sala de Imprensa da Santa Sé pelo arcebispo Nikola Terovic, secretário-geral do Sínodo dos Bispos.


Um rabino e pela televisão
No primeiro dia de trabalhos da assembléia, que tem por tema «A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja», em 6 de outubro, intervirá o rabino.
Chefe de Haifa (Israel), Shear Yashyv Cohen apresentará aos padres sinodais como o povo judeu lê e interpreta a Sagrada Escritura.
Dom Eterovic revelou que a idéia de convidar pela primeira vez um rabino havia surgido de maneira colegial na secretaria do Sínodo dos Bispos. O próprio arcebispo apresentou a idéia a Bento XVI, que «imediatamente acolheu a idéia».
O secretário-geral do Sínodo recordou que o cardeal Joseph Ratzinger, quando era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, encontrava-se com representantes do povo judeu e com rabinos. Trata-se, portanto, disse, de «um diálogo que continua».
Após o rabino, tomará a palavra o cardeal Albert Vanhoye, S.J., reitor emérito do Pontifício Instituto Bíblico de Roma, que recordará elementos centrais do documento «O povo judeu e suas Escrituras Sagradas na Bíblia Cristã» (24 de maio de 2001), publicado pela Comissão Pontifícia Bíblica, da qual ele era secretário, e o cardeal Ratzinger presidente.
Estas intervenções serão transmitidas pelo Centro Televisivo Vaticano, de maneira que poderão ser emitidas por canais de televisão de diferentes países.


Patriarca de Constantinopla
Também pela primeira vez na história, tomará a palavra diante desta assembléia o patriarca de Constantinopla, Sua Beatitude Bartolomeu I, cujo papel simbólico é reconhecido pelas Igrejas Ortodoxas.
Durante uma Celebração da Palavra, na Sala do Sínodo, Bento XVI e o patriarca ecumênico presidirão as vésperas.
«A seguir, apresentarão suas intervenções sobre a Palavra de Deus, fazendo referência em particular ao Ano de São Paulo», explicou Dom Eterovic.
O patriarca, que falará cerca de 30 minutos, acrescentou o prelado, «trará a saudação das Igrejas particulares que o apóstolo dos povos fundou antes de chegar a Roma, onde foi martirizado». Depois, tomará a palavra o bispo de Roma.


25 mulheres
Este sínodo contará também com a maior participação feminina da história: 25 mulheres, 6 como especialistas e 19 como auditoras. Entre as seis especialistas, a maior parte delas está constituída por professoras de Sagradas Escrituras em universidades de vários países.
As auditoras são, em sua maioria, superioras de ordens religiosas femininas, representantes de movimentos eclesiais, 1 professora de Belas Artes russa e 2 presidentas de Associações Bíblicas nacionais.
«Creio que será uma presença muito importante, disse Dom Eterovic. Poderão participar dos círculos menores», dos grupos de trabalho por idiomas do Sínodo, e «poderão dirigir-se aos padres sinodais na sala».


Mais intervenções livres
Outra das novidades, ilustrada por Dom Eterovic, é o amplo espaço previsto para intervenções livres, um elemento que já havia sido introduzido por Bento XVI no Sínodo sobre a Eucaristia de 2005.
De fato, está previsto que as intervenções preparadas por escrito pelos padres sinodais durem um pouco menos, 5 minutos, para deixar mais espaço para estes intercâmbios. Por exemplo, após a relação antes do debate, com a qual o cardeal Marc Ouellet, P.S.S., arcebispo de Québec, proporá os temas de discussão à assembléia, já se previram as primeiras intervenções livres.
A metodologia prevê que os padres sinodais que queiram tomar a palavra nesse momento reservem seu lugar e depois, por ordem, o presidente delegado os convidará a intervir. Nos dias nos quais haverá congregação geral, estão previstas intervenções livres das 18h às 19h.
Na tarde de 6 de outubro se dará outra novidade metodológica: primeiro acontecerão 5 relações de bispos para indicar como o tema da Palavra de Deus é percebido nos cinco continentes, explicou o secretário-geral do Sínodo.
Após estas exposições, «haverá momentos de discussão livre», que permitirão «ter informação mais precisa sobre a realidade das Igrejas particulares nos diferentes continentes», acrescentou.


Outras novidades... e ausências
Um sínodo de bispos do mundo, pela primeira vez, terá por relator geral um canadense, o cardeal Ouellet, e um africano como secretário especial, Dom Laurent Monsengwo Pasinya, arcebispo de Quinxassa, na República Democrática do Congo.
Pela primeira vez, o sínodo estabelece também um nexo com o sínodo precedente, deixando um espaço em 10 de outubro para analisar os frutos do Sínodo da Eucaristia por parte do cardeal Angelo Scola, patriarca de Veneza, que foi relator geral daquela Assembléia.
Um dos elementos menos positivos é o fato de que a Santa Sé não pôde convidar os bispos da China continental (haverá padres sinodais de Hong Kong e Macau)
O Pe. Federico Lombardi S.J., diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, informou que não foi possível apresentar este pedido «porque não se dão as premissas» nas relações com as autoridades chinesas.
No último sínodo, a Santa Sé havia convidado 4 bispos chineses, mas eles não puderam participar. Seus lugares no sínodo ficaram vacantes.

Texto/Fonte: Zenit.org