21 fevereiro 2007

Entrevista: pe. José Ornelas de Carvalho, scj


Pe. José Ornelas, scj, superior geral da Congregação dos padres do Sagrado Coração de Jesus esteve em Joinville no dia 16 de fevereiro, durante a viagem para acompanhamento da presença dehoniana na América. Natural da Ilha da Madeira – 1.000 km de Lisboa, Portugal – o padre deve permanecer no Brasil por dois meses, tempo que julga suficiente para conhecer todas as províncias brasileiras que, se somadas, têm a maior concentração de dehonianos no mundo.
Pe. Ornelas iniciou a sua caminhada vocacional num seminário diocesano, mas já conhecia a Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus desde a escola. “Os missionários dehonianos passavam convidando os alunos para ingressar na Congregação mas, eu não queria abandonar a minha cidade”, declarou ele que, depois de algum tempo, ingressou no seminário dehoniano justamente para fazer missão. Ordenado em 1981, o padre já havia trabalhado como missionário em Roma desenvolvendo atividades com os grupos bíblicos de reflexão.
O trabalho missionário é característico dos padres do Sagrado Coração de Jesus que hoje tem forte atuação no Congo, Filipinas, Equador, Índia e Europa. No ano de 1964, a trágica e dramática missão no Congo teve 28 missionários martirizados, entretanto, é este o destino definido pelo ex-provincial da BM – Brasil Meridional, pe. Osnildo, scj, que agora segue como missionário. A Congregração já enviou mais de 600 missionários para o exterior e pe. Ornelas espera que a projeção missionária possa se intensificar a partir do Brasil. “A América”, diz ele, “é o continente mais católico do mundo”. O grande desafio da Igreja Católica é a evangelização da Ásia onde apenas 3% da população é cristã.
Hoje, fala-se muito em globalização como método de aproximar uns dos outros, no entanto, já nos Atos dos Apóstolos a globalização estava presente. “A comunhão em Cristo permitia que os cristãos fossem globalizados”, ressalta. O padre lembra ainda que muitas pessoas são pessimistas quanto a vida da Igreja, acreditando que esta é fraca. “A Igreja já atravessou continentes e culturas para levar a graça de Deus há muito tempo. O evangelho continua a gerar movimentos”, disse.
Pe. Ornelas, que visitou a Casa de Alimentação São Judas Tadeu, acredita que a exemplo da mensagem que está exposta na casa – “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Lc 9,10) – os cristãos só alcançarão a multipliacação do pão e da graça se doando.

Práticas de Fé
“A Bíblia precisa ser entendida no seu contexto, sendo lida do início ao fim”, defendeu o padre. Para ele, a prática bastante comum de abrir a palavra de Deus para saber o que Deus quer de nós é errada. “Escutar aos outros também é uma forma de escutar Deus”, argumentou.

Devoção ao Sagrado Coração de Jesus
Devoto do Sagrado Coração de Jesus desde a infância, pe. Ornelas recorda que naquela época ninguém faltava a missa na primeira sexta-feira do mês. “A devoção ao Sagrado Coração de Jesus é a grande devoção”. Segundo ele, se deixar-nos penetrar lentamente pela água viva que jorra do coração solidário de Cristo o nosso coração alcançará a mesma solidariedade.


Sobre a espiritualidade dehoniana que tem como centro o coração de Jesus e sua reparação, pe. Ornelas diz não ser essa uma espiritualidade pequena, mesmo nos últimos tempos sendo encarada por uma linha intimista. “A reparação do coração salva”, garantiu ele. O coração de Cristo precisa ser reparado porque sofre junto com o sofrimento de cada um e, sendo assim, a melhor forma de reparação é amando é ajudando o irmão que sofre, amenizando o seu sofrimento. “A reparação do coração de Cristo é uma entrada direta na espiritualidade do mistério de Deus”, concluiu.


Entrevista concedida a Rayana Borba, Joinville SC

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